Obsessão por ser mãe pode adiar ainda mais a gestação

Alguns acreditam ser uma questão cultural. Outros alegam haver componentes genéticos. A predisposição à maternidade, seja qual for a sua raiz, é natural e resulta quase sempre em um grande acontecimento. Mas preocupam aquelas mulheres que, obcecadas por ter um filho, acabam adiando ainda mais a realização de seus sonhos.

“O componente psicológico implícito na tentativa de ter um filho é tão forte para algumas mulheres, que muitas chegam a fazer um autodiagnóstico de infertilidade sem nem mesmo terem tentado engravidar naturalmente durante seis meses seguidos”, diz a doutora Silvana Chedid, especialista em fertilização in vitro.

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Segundo a médica, mulheres que adiam a maternidade para quando estiverem com a vida profissional ou pessoal mais definida são as que mais sofrem os efeitos da pressão psicológica quando decidem engravidar.

Ansiedade, baixa autoestima e pressão social dificultam gestação

“Enquanto há mulheres obcecadas por ter muitos filhos, como a americana que acaba de dar à luz óctuplos, também há aquelas que entram num processo de ansiedade logo nas primeiras tentativas frustradas. Há componentes de culpa e de baixa autoestima, além das pressões sociais. Geralmente, a paciente não consegue administrar muito bem a curiosidade de familiares e amigos sobre quando nasce o bebê. Isto quando a ansiedade do próprio parceiro não acaba aumentando ainda mais sua tensão”.

Por outro lado, a especialista em reprodução humana adverte sobre a ideia de que a “infertilidade está apenas na cabeça da pessoa”. “Não se pode menosprezar um assunto tão importante como a capacidade de gerar uma criança. Se uma boa predisposição mental contribui para ter uma gravidez fácil e tranquila, não é verdade que tudo esteja relacionado ao emocional”.

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Principais causas da infertilidade feminina

Segundo a doutora Silvana Chedid, as principais causas de infertilidade na mulher estão relacionadas a problemas ovulatórios, obstrução nas trompas (em geral causada por infecções pélvicas), ou *endometriose. Não são incomuns os casos imunológicos, em que ocorre produção de anticorpos que diminuem a capacidade de fertilização dos espermatozóides e a capacidade de implantação dos embriões.

“Para chegar a um diagnóstico acertado, a investigação da fertilidade feminina envolve dosagens hormonais, ultrassonografia transvaginal, e **histerossalpingografia.

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Em alguns casos podem ser necessários exames um pouco mais sofisticados, como a videohisteroscopia (para avaliação da cavidade uterina) e vídeolaparoscopia. No homem, realizamos o espermograma, que avalia o número e a qualidade dos espermatozóides. Para que o espermograma seja considerado normal, é necessário que haja um número mínimo de espermatozóides com motilidade (mobilidade) rápida e forma normal”, diz a médica.

* A endometriose é um dos motivos que dificultam a gravidez, levando a paciente a um sofrimento bastante acentuado. Trata-se de uma doença caracterizada pela presença do tecido que reveste o útero (endométrio) em outras partes do corpo. Em parte, isso se dá porque hoje em dia a mulher menstrua muito mais do que a geração de nossas mães e avós, que tiveram maior número de filhos

** A histerossalpingografia é uma radiografia que tem mais de 100 anos. Apesar de a maioria das pacientes estranhar o nome, esse exame identifica com precisão qualquer obstrução das trompas e anomalias uterinas. O exame consiste na introdução de uma sonda ultrafina no colo do útero da paciente. Uma vez injetado o contraste, serão obtidas as imagens da cavidade uterina e das trompas, detectando possíveis anormalidades.

***O laparoscópio permite a visualização dos órgãos pélvicos através de pequena incisão umbilical. A vídeolaparoscopia pode ser diagnóstica ou cirúrgica. No diagnóstico, com uma pequena incisão umbilical é possível checar o estado dos órgãos pélvicos. Já a laparoscopia cirúrgica é bastante utilizada no tratamento da infertilidade, promovendo a cauterização de focos de endometriose, a desobstrução tubária e a solução de outros problemas que levam à infertilidade.

Fonte: Dra. Silvana Chedid, médica ginecologista, chefe do depto. de Reprodução Humana do Hospital Beneficência Portuguesa (SP)