‘Só penso naquilo’: isto é normal?

Por Arlete Gavranic

Algumas pessoas pensam em sexo 24 horas por dia. Mas ao contrário do que muitos possam achar, elas não são taradas. Mas sim vítimas da compulsão sexual, uma doença que pode ocorrer em homens e mulheres. Nos homens isso pode ser confundido com virilidade e o desejo que aparece na constante sedução – mito Dom Juan. Para as mulheres já ouvimos falar em ninfomania e mulheres sempre disponíveis ao sexo.

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Segundo pesquisa do psiquiatra norte-americano Martin Kafka da Universidade de Harvard, 95% das pessoas que sofrem com o aumento incontrolável da libido são homens. Os motivos são questões de aprendizagem social e culturais. O homem é estimulado e valorizado desde a adolescência a viver uma sexualidade quantitativa como um sinal de virilidade.

Quando o desejo sexual vira doença

Podemos considerar compulsão sexual se a pessoa sente uma constante necessidade de buscar sexo, e essa busca passa a dominar sua vida, prejudicando sua atuação nos estudos, no trabalho, nas relações familiares e sociais.

A compulsão sexual costuma ocorrer na idade adulta. Para afirmar que esse diagnóstico é positivo, considera-se no mínimo um prazo de seis meses com a permanência desse comportamento.

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O compulsivo vira escravo da necessidade de sexo, e esse sexo não significa que a pessoa viva uma relação de intimidade, amor ou prazer por estar com alguém, apenas vai ter a função de aliviar a tensão, um prazer físico. Não é difícil ocorrerem situações de destruição de casamento, família, relacionamentos importantes ou encontrar aqueles que perderam o emprego ou não conseguiram terminar uma faculdade em conseqüência da compulsão. Podemos dizer que um traço de personalidade dessas pessoas, é que elas apresentam dificuldade para criar vínculos de intimidade com quem está à sua volta.

Quando falamos de compulsivos sexuais num casamento, é preciso avaliar suas parceiras sexuais, que chamamos de co-dependentes, pois de alguma forma elas participam e podem até ajudar a manter a compulsão. Para algumas, esse desejo exagerado pode alimentar a auto-estima, pois sentem-se desejadas. Por isso também devem participar do tratamento.

Como funciona a mente do compulsivo

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Essa compulsão sexual costuma se manifestar com fantasias, são pensamentos que invadem a cabeça da pessoa, dos quais ela não consegue se livrar. Essas pessoas vivem uma grande ansiedade, demonstrada por esses pensamentos, que acabam se transformando em excitação sexual. Para aliviar a tensão, a pessoa começa a masturbar-se várias vezes por dia, mas quando essa tensão é muito grande, a pessoa fica insatisfeita com a masturbação e dirige-se a outros comportamentos sexuais, em busca de um meio ou de alguém que possa servir como meio de descarga , de alívio e que possa ajudá-la a livrar-se da excitação. Por isso, muitos compulsivos sexuais apesar de dizerem-se heterossexuais, podem eventualmente ter relações homossexuais para aliviar a excitação. Eles têm a necessidade de ter várias relações, e se não conseguirem essa satisfação no ambiente doméstico, podem sair à caça de sexo indiscriminadamente, correndo o risco de doenças sexualmente transmissíveis e da Aids.

O compulsivo sexual pode buscar satisfação em qualquer atividade que esteja relacionada ao tema sexual, isso inclui masturbações, sexo virtual, pornografia, e contatos “sexuais” por telefone. Não precisam, necessariamente, procurar parceiros, embora isso também aconteça.

Por que acontece essa doença?

Estudiosos do comportamento humano levantam muitas hipóteses sobre as possíveis causas da compulsão sexual. Ter vivido carência ou um desequilíbrio emocional durante a infância ou adolescência, ter sofrido trauma grave, de estar ligado a uma depressão, um descontrole comportamental para conter impulsos sexuais, um transtorno de ansiedade. Alguns cientistas chegam a levantar até a hipótese de ter origem genética. Mas isso ainda continua sendo estudado e pesquisado.

Tratamento

Para que a compulsão possa ser tratada, o primeiro passo é a própria pessoa perceber a necessidade de ajuda. Em geral, é indicado como tratamento a psicoterapia para que a pessoa possa aprender a controlar a ansiedade. Em alguns casos o acompanhamento de um psiquiatra e o uso de medicamentos que ajudam a diminuir a libido e o impulso sexual podem ajudar a reduzir a ansiedade; ajudando na reconstrução que precisa ser vivida na psicoterapia.

Outra opção que alguns profissionais indicam, além do tratamento psicológico, é do paciente participar de grupos de auto-ajuda, como o grupo Dependentes de Amor e Sexo Anônimos (Dasa), que promove reuniões em muitas cidades do Brasil, onde as pessoas podem partilhar suas experiências com outras que também vivem o mesmo problema.

Em casos mais sérios, a internação em clínicas especializadas pode ser necessária para o sucesso do tratamento, como ocorreu com o ator Michael Douglas internado no início dos anos 90, numa clínica para viciados em sexo.

Mas não esqueça, sexo é uma vivência saudável e desejável que pode proporcionar às pessoas o prazer físico e relacional. O problema é depender e necessitar dele exclusivamente para baixar a ansiedade provocada por inúmeras inseguranças e medos pessoais.

Será que faço sexo em excesso?

Sempre recebo muitos e-mails de leitores do Vya Estelar me perguntando qual é a freqüência sexual normal ou exagerada?

Não existe uma norma para a freqüência sexual ser considerada normal, apesar das pesquisas mostrarem que o brasileiro tem, em média, duas relações sexuais por semana, uma pessoa que tenha 4, 5 ou 9 relações sexuais por semana não pode ser chamada de compulsiva, só por ter um número maior de relações sexuais do que a maioria da população.

Isso ocorre porque em relação a sexo, não há regras definidas para avaliar se é muito ou pouco, ou se é certo ou errado. Algumas pessoas necessitam mais de sexo do que outras. Há casais que transam todos os dias, e nem por isso vamos chamá-los de tarados ou compulsivos sexuais, esse é o ritmo deles.

É preciso saber que não é a quantidade de relações sexuais ou masturbações realizadas por dia, semana ou por mês que vai determinar a compulsão sexual, mas se a pessoa manifesta dificuldade em manter-se realizando outras atividades que não a sexual.