Desafie as falsas crenças que limitam a sua vida

por Thaís Petroff

 

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“Crenças centrais são regras inflexíveis e hipergeneralizáveis”

Além dos pensamentos automáticos, as crenças e os esquemas são objetos de foco e mudança na terapia cognitivo-comportamental.

Os esquemas são estruturas cognitivas que organizam e processam a entrada de informação em nossa mente e representam os padrões de pensamento adquiridos na infância. Erros lógicos (processamento distorcidos/ou distorções) adquiridos durante o período de desenvolvimento da personalidade, vão formar a substância (estrutura) do esquema disfuncional e predispor o indivíduo a ter problemas emocionais. Enquanto que os esquemas de um indivíduo bem ajustados fazem concessões (flexibilizações) para a avaliação realista dos eventos da vida.

Os esquemas de indivíduos mal ajustados resultam na distorção da realidade e facilitam o aparecimento e desenvolvimento de transtornos psicológicos.

Indivíduos com depressão, por exemplo, veem a si mesmos, seu mundo e seu futuro de forma negativa.

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Esquema: estrutura muito profunda

Esquema é uma estrutura muito profunda, do ponto de vista psicológico. Os esquemas constituem a base para a codificação, categorização e avaliação das experiências e estímulos que um indivíduo encontra no seu mundo. Sendo assim, são responsáveis por como cada um percebe e internaliza suas experiências.

São os esquemas que direcionam os outros níveis de cognição, tanto as crenças, quanto os pensamentos automáticos e as distorções cognitivas. Se uma pessoa tem um pensamento automático negativo, este foi gerado pelo esquema. Ele funciona como filtro dos estímulos aos quais somos submetidos.

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Desse modo, podemos entender os esquemas como as estruturas que definem as outras cognições, sendo o conteúdo das crenças, determinado pelos esquemas e, o conteúdo dos pensamentos automáticos similar aos de nossas crenças nucleares – explico abaixo. Utilizando a imagem de um iceberg, os esquemas definiriam a forma (estrutura dele), as crenças representariam a base deste e os pensamentos automáticos a ponta, acima da superfície da água.

Crenças nucleares e intermediárias

As crenças podem ser de dois tipos: as crenças centrais (ou também chamadas de nucleares) e as intermediárias.

Crenças centrais são regras inflexíveis e hipergeneralizáveis que regem a vida do indivíduo e determinam sua maneira de perceber e entender o mundo. É aquilo no que o sujeito acredita fortemente (mas inconscientemente), independente do momento ou da situação. Uma pessoa que tem a crença de que “é um fracasso” ou de que “é incapaz” terá esses pensamentos mesmo que ganhe o Prêmio Nobel! Para manter essa crença de incapacidade ela pode usar (sem se dar conta, é claro), por exemplo, das distorções cognitivas.

Quanto às crenças intermediárias, são relacionadas a diversos aspectos da vida que aparecem como pressupostos, regras e atitudes. Elas não são tão rígidas e generalizáveis como as crenças centrais. Apesar dessa diferença, elas se conectam com as crenças centrais e existem seguindo a “lógica” destas últimas. Vamos ver um exemplo: se alguém tem uma crença central que diz “Não sou digno de ser amado”, pode ter uma crença intermediária que oriente: “Se fizer tudo que os outros querem, posso ser amado” (positiva). “Se não fizer tudo o que os outros querem, serei desprezado” (negativa). Enquanto esse indivíduo conseguir se auto-sacrificar e tiver “uma chance” de ser amado (parte positiva do pressuposto), poderá se manter funcional, ou seja, adequado à situação, “funcionando bem”. Mas no momento em que isso não dá certo, a parte negativa do pressuposto (crença intermediária) entra em ação e ele fica deprimido. Um exemplo das regras, neste mesmo caso, seria o sujeito pensar: “Deveria me auto-sacrificar sempre” e, de atitude, “Vou me auto-sacrificar”.

As crenças intermediárias, por não serem tão rígidas quanto à crença central, são mais fáceis de serem modificadas no processo terapêutico e os pensamentos automáticos por sua vez, mais flexíveis e fáceis de serem modificados do que as crenças intermediárias. É por isso, que em um processo de TCC, inicia-se trabalhando com os pensamentos automáticos e vai se aprofundando até chegar à flexibilização das crenças centrais.

Estratégias compensatórias

Outro conceito interessante é o de estratégias compensatórias (ou comportamento de segurança). Essas são as “táticas” que o indivíduo usa para lidar com as crenças centrais, ou seja, para compensá-las ou buscar proteger-se.

No caso descrito, ter um comportamento de auto-sacrifício seria um exemplo de estratégia compensatória para lidar com a crença central: “Não sou digno de ser amado”. O que ocorre na prática é que a pessoa ao utilizar um comportamento de segurança, alivia a ansiedade ou incômodo causado pela possibilidade de ativação da crença. No entanto, esse alívio é somente um paliativo momentâneo, pois acaba por reforçar ainda mais a crença nuclear negativa (crença central) existente: “Quando eu me sacrifico como forma de merecer receber amor de outro, acreditarei ainda mais que não sou digno de amor, a não ser que repita esse comportamento novamente”.

As crenças centrais, podem ser divididas em três crenças básicas disfuncionais:

• Crenças de incapacidade: crenças sobre ser incapaz, incompetente, ineficiente, falho, enganador, fracassado.

• Crenças de inadequação: crenças sobre ser inadequado, defeituoso, imperfeito, diferente.

• Crenças de desamor: crenças sobre ser indesejável incapaz de ser gostado, amado ou querido, sem atrativos, rejeitado, abandonado, sozinho.

Pontos importantes sobre as crenças:

• Elas são ideias, não necessariamente verdades.

• É possível acreditar com convicção nelas, até mesmo “sentir” que são verdades e ainda assim, podem ser em grande parte ou inteiramente não verdadeiras.

• As crenças estão enraizadas em eventos da infância e se desenvolvem ao longo da vida.

• As crenças centrais são mantidas através da operação dos esquemas relativos, os quais fazem com que a pessoa filtre os dados da realidade de maneira a reconhecer os que apoiam as crenças enquanto ignoram, reduzem ou distorcem os que são contra.

• Sendo as crenças conteúdos construídos e aprendidos, é possível revê-las desconstruir o que não é funcional e aprender conteúdos mais adaptados e realistas.