Verdade ou mito: junto com a velhice vem a sabedoria?

por Edson Toledo

“… pessoas mais velhas possuem mais informação em seus cérebros…”

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No texto anterior, abordei a questão da velhice sob o ponto de vista de sua classificação – veja aqui. Agora retomo o tema só que o questionamento desta feita será se junto com a velhice vem a sabedoria.

Pois bem, desde muitos séculos, o também volátil conceito de sabedoria permeia com destaque em textos não só filosóficos, como religiosos e da psicologia. A questão, ainda digamos, no século XXI, continua gerando intrigantes discussões: o que é sabedoria e como ela se dá na vida de cada um? A resposta lamento, não a tenho, mas dou algumas pistas.

Uma neuroposicóloga especializada em geriatria da Califórnia, Vivian Clayton, desenvolveu uma definição de sabedoria nos idos de 1970, que ainda nos dias de hoje, serve de referência para pesquisas sobre o tema. Na sua busca, após aprofundar-se em antigos textos, observou que pessoas descritas como sábias tinham entre suas atribuições tomar decisões sobre eventos e fatos da comunidade e sobre si. Foi a partir dessa observação que Clayton solicitou a um grupo de juízes aposentados, professores e alunos de direito que apontassem na percepção deles quais eram as características de um sábio, e para seu espanto chegaram ao consenso de que a sabedoria consiste de três componentes básicos: reflexão, cognição e compaixão.

Embora as pesquisas tenham demostrado que a função cognitiva se desacelera com o envelhecimento, um recente estudo publicado na revista Topics in Cognitive Scence apontou que pessoas mais velhas possuem bem mais informação em seus cérebros que as mais jovens e que a qualidade da informação no cérebro mais velho é mais nuançada. Uma das conclusões que se pode tirar, segundo Clayton, é a de que se leva mais tempo até que a pessoa chegue a conclusões e pontos de vista adequados com base em seu conhecimento cognitivo, tornando-a assim sábia, consequentemente é o que a possibilita usar essas conclusões para entender e ajudar outras pessoas.

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Pesquisas que demonstram que a satisfação no final da vida consiste em coisas como manter a saúde física e mental, fazer atividades voluntárias e ter relações positivas com os outros, foi o caminho que a pesquisadora da Universidade da Flórida, Monika Ardelt utilizou para ampliar os estudos sobre a velhice. Porém, tal constatação nem sempre é possível já que a sabedoria é o que pode ajudar até mesmo pessoas severamente incapacitadas a encontrarem sentido, contentamento e aceitação na vida.

Ardelt desenvolveu uma escala com 39 perguntas destinadas a mensurar as três dimensões da sabedoria. As pessoas que respondiam as perguntas afirmativas na referida escala não eram informadas de que sua sabedoria estava sendo medida. Depois, os participantes responderam a perguntas sobre desafios hipotéticos. A conclusão chegada pela pesquisadora foi a de que aqueles que haviam demonstrado indícios de grande sabedoria também se mostraram mais propensos a lidarem melhor com os problemas.

A psicoterapeuta Isabella Bick, que com os seus 81 anos e ainda na ativa, já que ela trabalha em meio período em Connecticut, profetizou que um dos impedimentos à sabedoria é pensar sobre o fato de que “Não suporto quem sou hoje, porque não sou mais quem eu era”. Considerando que seus clientes idosos ficam incomodados com a percepção de piora na sua aparência, no seu desempenho sexual e nas suas capacidades. Para seus clientes diz Bick, aceitar o envelhecimento é necessário para crescer, mas “não é uma aceitação resignada, é uma aceitação que abraça”, afirmou ela.

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Voltando à pesquisa de Ardelt, essa mostrou ainda que pessoas em casa de repouso que obtêm notas mais elevadas na escala de sabedoria, também relatam maior sensação de bem-estar. “Se as coisas estão realmente ruins, é bom ser sábio.”

Sabedoria: redução de caráter autocentrado

Disse ainda a pesquisadora que a sabedoria é caracterizada por uma “redução no caráter autocentrado”, onde as pessoas sábias tentam entender situações sob múltiplos pontos de vista e por isso demonstram mais tolerância.

A “geratividade”, termo cunhado pelo psicólogo Erik Erikson, que desenvolveu uma influente teoria sobre os estágios da vida humana, foi utilizado por Daniel Goleman, autor do conhecido livro “Inteligência Emocional” como um importante sinal de sabedoria. Na visão de Goleman, “Geratividade” significa dar sem a necessidade de receber nada em troca.

Goleman no final da década de 1980 entrevistou Erikson e Joan (sua mulher), período em que já eram ambos octogenários. Só para lembrá-lo, a teoria de Erikson sobre o desenvolvimento humano inicialmente incluía oito estágios, da infância à velhice. Porém, quando o casal Erikson se tornou idoso, eles viram a necessidade de acrescentar um nono estágio no qual a sabedoria desempenha um papel crucial. Disse Goleman que “Eles retratam uma velhice em que a pessoa tem suficiente convicção da própria completude a ponto de afastar o desespero que a desintegração física gradual pode acarretar”.

Mas foi à senhora Erikson que escreveu em uma versão ampliada do livro “O Ciclo da Vida Completo”, escrito por seu marido, que “até mesmo atividades cotidianas podem apresentar dificuldades, e que é preciso aderir ao processo de adaptação: as incapacidades devem ser aceitas com tato, sabedoria, leveza e humor”.