Verdadeiros médiuns são raros; entenda por quê

por Roberto Goldkorn

Podemos ter acesso a esse arquivo de diversos modos, mas a grande dificuldade continua sendo os filtros através dos quais temos de passar a informação colhida”

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Não é raro receber mensagens com perguntas do tipo: “Vou ser feliz?” “Eu e meu namorado vamos casar?” “Conseguirei superar minhas atuais dificuldades?” E coisas assim.

Eu não respondo, porque não há o que dizer diante de tanta curiosidade mal colocada, mas compreendo a necessidade natural do ser humano de saber aquilo que se esconde em seu futuro, em seu passado e até em seu presente.

Uma das culturas mais antigas e profundas da Humanidade lidou com esse tema em seus fundamentos religiosos de forma quase ambígua, lançando mão de malabarismos dialéticos para acomodar sagradas prescrições religiosas e a realidade das necessidades (e costumes) ancestrais.

Em Deuteronômio (5º livro da Bíblia) a regra é clara: “Quando profeta ou sonhador (intérprete de sonhos ou alguém que alega ter sonhos proféticos) se levantar diante de ti e te anunciar um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver falado e disser: Vamos seguir outros deuses, que não conheceste de sirvamo-los, não ouvirás as palavras de tal profeta ou sonhador, porque é o senhor vosso Deus vos testando, para saber se amais o senhor vosso Deus de toda alma de todo coração. (Deut: 13:2,3,4,5). “Não se achará entre ti quem faça sacrificar pelo fogo filho ou filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador, nem necromante, nem mágico, nem quem consulte os mortos…(Deut, 18:10,11).

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Mas em momentos de aperto esse mandamento rígido e indisputável era atropelado como em Samuel (28: 7 a 25) quando o rei Saul vendo que “Deus não lhe respondia nem pelo Urin e Thumin, nem por sonhos, nem pelos profetas, mandou chamar uma médium, que por seu decreto deveria ter sido banida do reino (junto com todos os outros adivinhos, feiticeiros, médiuns etc.)”

Mais tarde os sábios rabinos judeus, viram a necessidade de conciliar seus conhecimentos divinatórios com as prescrições rígidas das Escrituras e conseguiram uma brecha na “Lei”. Abraão Abuláfia um dos maiores estudiosos da Cabala no século XIII disse: “As letras são inquestionavelmente a raiz de toda sabedoria e conhecimento, e elas próprias formam a substância da profecia. Nas visões proféticas, as letras aparecem como se fossem corpos sólidos, falando realmente com o indivíduo.” (citado por Richard Seidman em Oráculo da Cabala, Ed. Pensamento).

Os cabalistas judeus diziam que adivinhar era ilícito, mas interpretar os sinais era não só lícito mas também fundamental para que se progrida espiritualmente.

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A tentação de conhecer o que está aquém dos limites da mente intelectual é grande e antiga. Por isso e (por ser possível), a humanidade desenvolveu linhas de “pesca” e “anzóis” que pudessem trazer à tona aquilo que estava oculto de sua visão devido às suas limitações aparentemente naturais.

Oráculos e mancias existem aos milhares; alguns ficaram famosos e sobreviveram até hoje, outros sumiram ou se esconderam em grotões culturais longe dos olhos civilizados.

Acredito que, por ironia do “destino”, virá da própria Ciência o conhecimento que abrirá as portas para esse mundo de revelações.

Sabemos que o maior impedimento ao conhecimento do que está oculto (além das prescrições religiosas ou do ceticismo pseudocientífico) é a divergência de linguagens. Enquanto o “arquivo” onde esse conhecimento está armazenado fica codificado em imagens, o intérprete tem de usar como decodificador a linguagem – fracamente apetrechada para traduzir a riqueza das imagens.

Além disso, temos outro grande obstáculo a uma captação mais fidedigna desses arquivos: a emoção! Paradoxalmente é a mesma emoção que embala os estados alterados de consciência onde a “pescaria” se torna possível. Mas é também a emoção, o Ego, as inclinações morais, ideológicas e desvios de caráter que vão matizar as informações captadas podendo até mesmo distorcê-las a ponto de torná-las mentirosas, inúteis e perniciosas.

Conheci vários médiuns e sensitivos. Alguns com imenso potencial, mas emocionalmente fragilizados. Percebi que suas “pescarias” quase sempre vinham contaminadas por seus interesses ou inclinações emocionais do momento.

Uma dessas médiuns certa vez me disse: “Fulano de tal vai morrer!”

Como pode ter certeza disso? Perguntei já irritado com esse decreto definitivo. “Eu vi uma espécie de pássaro negro pousado sobre o ombro esquerdo dele.” Respondeu candidamente a mulher.

Lembro-me como se fosse hoje da minha irritação com essa vidente e de ter respondido: “Cuidado com as suas conclusões. Não nego o que você tenha visto, mas questiono a sua interpretação”.
Mais tarde descobriu-se que o tal sujeito tinha um tumor no ombro esquerdo foi operado e viveu mais vinte anos.

Podemos ter acesso a esse arquivo de diversos modos, mas a grande dificuldade continua sendo os filtros através dos quais temos de passar a informação colhida. Ter acesso a um símbolo, uma imagem ou a uma sensação e depois colocar isso em palavras, é o grande desafio, é uma missão quase impossível quando se exige fidelidade com a fonte.

Ainda não somos bons em lidar com essa troca hemisferial (por isso os verdadeiros médiuns são tão raros), pois se o acesso a imagens do Grande Arquivo é feita através do acionamento do hemisfério direito do cérebro, a tradução (a formatação e entrega do conteúdo) é realizada pelo hemisfério esquerdo do cérebro – o que fala!

Os céticos dizem: se fosse possível já teria alguém adivinhando o resultado da loteria a cada semana.

É naturalmente uma visão simplista e tola, embora teoricamente possível.

Essa necessidade de rasgar o véu do que nos está ocultado, será o motor de muitas descobertas. Um dia (que acredito estar perto) a mente humana vai estar mais apta a transpor essas cercas e ao mesmo tempo a ciência terá progredido a ponto de fornecer o conhecimento e os meios para que isso se faça com mais eficiência.

Nesse dia poderemos pescar as informações que nos faltam para podermos ser a imagem e semelhança de Deus.