Como deve ser a participação dos pais na vida esportiva dos filhos?

por Renato Miranda

Muito se discute sobre a participação dos pais na vida esportiva dos filhos principalmente a partir dos doze anos de idade, quando geralmente começa o envolvimento dos jovens nas competições e treinamentos mais rigorosos. Muitos profissionais do esporte acreditam que os pais atrapalham no desenvolvimento esportivo dos filhos, seja pela constante expectativa de sucesso que gera uma pressão psicossocial muito grande ou por seus comportamentos indevidos nos treinos e competições além de outros motivos de ordem diversa.

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Esse pensar é apenas um lado da realidade, pais de filhos esportistas nessa faixa etária são agentes influenciadores por natureza e a repercussão desse fenômeno pode ser positiva, afinal de contas são os pais que muitas vezes “apresentam” o esporte aos filhos e dão as condições básicas para o ingresso nessa etapa da vida.

A questão para ser refletida é que pressuposto, e de modo geral, os pais ajudam mais do que atrapalham, todavia quando isso ocorre, o impacto é contundente, daí o preconceito de que a influência dos pais é prejudicial no esporte infanto-juvenil.

Genética e comportamento

Por outro lado, é bom lembrar que as influências não são apenas de ordem psicossocial. As influências das atitudes (comportamento) são acompanhadas pelas estruturas *psicofísicas (genes) dos pais. Nesse âmbito, tanto a genética quanto o comportamento dos pais ao serem observados com atenção, promoverão possíveis relações causais no desempenho esportivo do jovem atleta, bem como no seu nível de satisfação no esporte.

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Ao considerar influência como a capacidade da pessoa manifestar sua energia psicofísica de maneira ampla e intensa frente determinada situação provocando adaptações e/ou modificações no comportamento de outros, fica fácil entender como é fundamental a participação dos pais na vida esportiva dos filhos.
A influência pode ser mais ou menos impactante, dependendo da capacidade de expansão e intensidade dessa energia que a pessoa influenciadora possui.

Portanto, pais podem influenciar muito ou pouco na atividade esportiva do filho, depende fundamentalmente de como esses avaliam o esporte, suas experiências esportivas pregressas, das suas avaliações a respeito da importância do esporte na formação das pessoas e as expectativas de futuro da vida dos filhos.

Conforme a força da energia influenciadora dos pais, nem mesmo a presença física é necessária para atingir o jovem. Em outras palavras, aquele que recebe uma influência significativa já está “impregnado” pela energia influenciadora. Não obstante, a presença física do influenciador (pais) poderá trazer conforto ao jovem atleta, mas essa presença não é pré-requisito para que uma desejada influência seja estabelecida.

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Procedimentos para uma ótima influência na vida esportiva dos filhos

Pais podem ter uma ótima influência na experiência esportiva de seus filhos, para tanto é valioso que levem em conta as seguintes atitudes:

a) Motivação em fornecer oportunidades e condições para a prática esportiva

Nem sempre a condição financeira é o grande obstáculo para oportunizar a prática esportiva. A motivação em procurar qual o melhor e possível caminho para a prática esportiva é pré-requisito para uma participação positiva dos pais no esporte infanto-juvenil.

b) Tendência em acreditar nos valores positivos do esporte

O esporte é uma parte da vida, que poderá auxiliar muito na formação dos jovens, mas os valores positivos do esporte devem ser inicialmente destacados pelos pais. Com isso, confiança e alegria serão sentimentos advindos naturalmente.

c) Reconhecer algum tipo de experiência esportiva precedente em sua(s) vida(s) – do pai, da mãe ou dos dois – que lhe (s) ajudou de alguma forma

Contar estórias pessoais aos filhos é uma tarefa gratificante tanto para os pais como para os filhos. Nessa experiência, ao reconhecer fatos esportivos que permitiram amadurecimento e vivências positivas, como por exemplo, auto-estima e autodisciplina fica mais fácil identificar como o esporte pode ser um bom caminho a ser percorrido.

d) Comportamento ativo dos pais frente ao esporte atual (práticas, ter conhecimento, procurar ter informações atualizadas, freqüentar, ser expectador)

Ao demonstrar interesse e ações frente ao esporte, os pais oferecem aos filhos exemplo de comportamento positivo e de dinamismo, essenciais para um ambiente favorável ao esporte.

e) Manter uma boa saúde através da prática de esportes (ou exercício físico) e alimentação saudável

Com esse comportamento são despertadas percepções sobre as conseqüências positivas do esporte na saúde das pessoas.

f) Participar, em algum momento, de atividades esportivas junto com o (s) filho (s):

Ao compartilhar atividades em conjunto, fora do ambiente de treinamento e competição, cria-se uma relação de respeito e confiança que facilitam a harmonia e a relação entre pais, filhos e o esporte.

Em resumo, a combinação das estruturas psicofísicas (genes) do pai e da mãe sugere as possíveis influências que seu (s) filho (s) herdará (ão) na construção de um tipo pretensamente esportivo. As atitudes, desde a infância, e adaptações psicofísicas para aumentar as aptidões do jovem atleta têm uma grande influência dos pais.

Por conseguinte, as possibilidades funcionais, as inter-relações psicológicas com o esporte e o nível de desenvolvimento das capacidades psicofísicas (motivação, concentração, força, resistência e outras) dependem da complexa influência comportamental e genética dos pais.

*Numa forma coloquial pode traduzir-se por corpo e mente