Violência: quando a mulher, vítima, ainda enxerga o namorado como uma pessoa do bem

por Anette Lewin

“O perdão sem consequências é o melhor alimento para a agressão.”

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Relato 1 – “Ontem tive um episódio de violência com meu namorado. Depois de beber, ele age de forma agressiva no falar. Ontem me agrediu jogando um copo de cerveja, depois água, depois resíduos de comida e quebrou meu celular. Tenho medo que ele me agrida fisicamente, já que tem histórico de agredir a ex-mulher. Quando falo sobre este assunto (comportamento) com ele, ele me abraça, ri e diz que não vai acontecer mais, diz que me ama, que tem ciúmes de mim. Por favor, me auxilie para poder ajudá-lo, já que ele é uma pessoa do bem.”

Relato 2 – “Estou com um problema muito sério com meu namorado, acho que ele é psicopata, pois andei pesquisando e ele possui todos os sintomas. Infelizmente gosto dele, e ainda sinto dó dele. Já tentei me livrar dele várias vezes e não consegui.”

Resposta: Os dois e-mails retratam a mesma situação: mulheres vítimas de agressões que foram manipuladas e perderam a noção de limite dentro de uma relação amorosa.

Como isso acontece?

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Tentando evitar rotular comportamentos, nem toda pessoa agressiva e manipuladora é necessariamente um psicopata. E saber se uma pessoa cabe ou não dentro de um rótulo não vai ajudar muito a resolver a situação. O importante é tentar entender como comportamentos agressivos vão surgindo num relacionamento e por que certas mulheres, como as duas internautas acima, aceitam esse tipo de atitude como natural ou digna de pena.

Certamente, embora no início do relacionamento as pessoas se controlem e mostrem só seu lado bom, quando uma pessoa é agressiva, ela dá sinais disso muito antes de partir para as vias de fato. Ninguém precisa apanhar para saber diferenciar entre um homem impulsivo e um homem controlado. Mesmo assim, algumas pessoas podem se sentir mobilizadas por comportamentos ou atitudes agressivas, atribuindo a esses comportamentos um sentido de força, masculinidade, “pegada”. E não aguentar o tranco depois. Nesse sentido é importante avaliar a escolha de uma maneira mais profunda e avaliar se você quer ou não uma pessoa agressiva ao seu lado. Porque ela não vai mudar para melhor. Em geral, quando muda, muda para pior e você, que está por perto, pode se tornar alvo dos ataques.

Muitas dirão que não perceberam, que no início ele era um gentleman etc, etc. Sim, no início de um relacionamento as pessoas estão inebriadas pela paixão e podem até não perceber comportamentos estranhos, ou ignorá-los. Mas sempre existe uma primeira, uma segunda e uma terceira vez. E a continuidade do relacionamento vai depender muito do limite que for colocado nas primeiras vezes em que o comportamento agressivo se manifestar. O perdão sem consequências é o melhor alimento para a agressão. Uma agressão não pode e não deve ser perdoada desde a primeira vez. Mas perdoá-la depois da terceira é ser cúmplice.

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A pessoa agredida na relação vai, num primeiro momento, tentar entender o que ela fez de errado. Sim, existem mulheres chatas, repetitivas, insistentes e provocadoras. Mas, em geral, a explosão agressiva tem mais a ver com características do agressor do que com uma atitude “errada” da agredida. O agressor pode ser uma pessoa fria que não se importa com o outro (psicopata), pode ser desequilibrado bioquimicamente (bipolar) ou pode simplesmente ter bebido demais. A bebida, aliás, está associada à maioria dos comportamentos agressivos.

Comportamentos agressivos podem ser extintos?

Depende da causa. Um bipolar agressivo pode tomar uma medicação e melhorar. Um alcoólatra pode fazer um tratamento e parar de beber. Mas um psicopata, aquele que apresenta um defeito de caráter, dificilmente muda. Como fica difícil distinguir isso para uma pessoa leiga, melhor pensar muito antes da escolha amorosa ou sair da relação depois dos primeiros sinais. Na maioria dos casos ter pena, achar que vai “consertar” a pessoa, ou perdoar infinitamente, é se tornar prisioneira do inferno. Para quem gosta, é um prato cheio.