Entenda a origem de suas atitudes

por Roberto Goldkorn   

“Somos assim mesmo, máquinas “pensantes” que reproduzem as programações “aprendidas”, na verdade programadas, a maioria sem que tivéssemos a menor consciência disso”

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Estou lendo um livro que ensina a ficar rico. Entre as dicas muito interessantes está a tese de que grande parte do nosso desempenho em relação ao dinheiro foi moldada pela nossa educação, isso quer dizer: foi programada pela relação que tivemos com os nossos pais, e/ou pessoas com que convivemos desde criança.

A proposta do livro é fazer um levantamento dessas relações programadora/condicionadora, e aí desprogramar. Como já tinha escrito sobre isso em outras áreas do comportamento, e tinha uma intuição forte de que esse também era o meu caso, fui conferir.

Dediquei-me por alguns dias a levantar o passado para mim um pouco nebuloso. Imaginem que eu tinha convicção de que havia exorcizando todas as heranças fantasmas de meus pais, principalmente de meu pai, na minha opinião, a mais poderosa influência na minha vida. Fiquei pasmo com o resultado.

Lembrei-me da sua postura de mártir da família, daquele que carregava nas costas o peso, na verdade o fardo de uma família inteira. E aí comparei isso com alguns comportamentos que ainda hoje apresento, principalmente em relação ao dinheiro.

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Lembrei-me de um episódio perdido no tempo, quando ele me levou para visitar um amigo, que havia saído de uma falência total. Eu devia ter uns oito ou nove anos e lembrei-me de um grande escritório totalmente vazio. Havia apenas uma mesa de madeira escura, cheia de telefones negros, a cadeira do amigo, e duas outras onde nos sentamos. Lembro-me da expressão triste dele ao responder a pergunta de meu pai: E agora?

“Sabe Júlio somos iguais às aranhas, a cada vez que destroem a nossa teia, reconstruímos. Quantas vezes destruírem a minha teia tantas eu vou recomeçar a construí-la.” Eu havia esquecido isso, na verdade pensei que havia esquecido. Mas lembrei-me que ao longo da minha vida adulta repeti essa mesma frase, como se fosse minha, algumas vezes – sempre depois de uma perda significativa!

Na verdade isso significa uma programação inconsciente com a qual me programei usando a atitude dele, que na época me pareceu heroica, estoica (embora não tivesse a menor ideia do que isso significasse). Assim me programei para atrair os fracassos e perdas para depois heroicamente fazer como a aranha, “recomeçar a construir a minha teia”.

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E isso aconteceu comigo que pensei ter feito a lição de casa!

Somos assim mesmo, máquinas “pensantes” que reproduzem as programações “aprendidas”, na verdade programadas, a maioria sem que tivéssemos a menor consciência disso. Durante toda a infância o pai toma a sua cerveja na hora do almoço. O menino vendo o pai, sempre pede para tomar também: a mãe repete pela milésima vez: “Não pode menino, você é uma criança só quando crescer.”

Na verdade aquela pode ser uma programação do tipo: quando você crescer estará liberado beber. Isso pode ser uma programação de alcoolismo, ou não, mas será sem dúvida uma forte programação no sentido da bebida.

Mas a coisa toda não se esgota aí. Somos também programados pela ideias arquetípicas, segundo a terminologia junguiana. Como o meu pai constelava o arquétipo do herói sacrificado, do mártir, do capitão que salva primeiro mulheres e crianças, para depois se der se salvar.

As ideias arquetípicas e os arquétipos são poderosos modelos psíquicos complexos que foram criados coletivamente e são alimentados e até modificados ao longo do tempo pelas pessoas ou coletividades que os constelam. Para explicar melhor uso uma imagem: o arquétipo é mais ou menos como uma entidade espiritual que ocasionalmente “incorpora” em um médium ou num grupo de médiuns determinando um comportamento.

Quantas tendências pessoais na verdade nem são tão pessoais assim? Quantos comportamentos que achamos ser da “personalidade” dele ou dela, que não passam de programações de papai, mamãe, ou da coletividade? Quantos programas repetitivos que apresentamos ao longo de nossas vidas são apenas condicionamentos a que fomos submetidos na infância e que agora estão ativos?

Muitas vezes encontro pessoas que se sentem acorrentadas a programas negativos de perdas ou fracassos, que nada mais são do que encenações de programas do pai e da mãe ou de uma cultura específica. Sugiro a vocês que façam como eu: parem, e façam esse levantamento. Puxem pela memória. Façam um levantamento de suas frases preferidas, de seus comportamentos repetitivos, das situações que teimam em ser reencenadas, mesmo que você não as deseje. Elas têm uma origem pode ter certeza, e essa origem está fora de vocês, no passado, e foram criadas em circunstâncias muito diferentes das que você se encontra. São entidades alienígenas, e dificilmente podem trazer algo de bom, pois quase sempre estão deslocadas no tempo, no espaço e no contexto.

No âmbito sentimental, e no financeiro as programações familiares são determinantes, quase sempre de forma negativa, arrastando as pessoas para situações indesejáveis.

Quanto mais você descobre essas programações, mais as suas chances de reprogramar, e se libertar dessas correntes você terá. Quanto mais libertos mais chances de serem pessoas de verdade teremos. E a felicidade, a vida plena só pode ser alcançada por seres livres, pessoas de verdade.