Breve história da wicca – Parte II

por Carminha Levy

Com o advento do Cristianismo inicialmente não aconteceram muitas mudanças. Os seguidores da grande Mãe viam na história de Cristo uma nova versão das lendas antigas sobre a Deusa Mãe e a Criança Divina. Sacerdotes rurais cristãos com freqüência comandavam as danças dos grandes festivais. Surgiram os “coven” que guardavam o conhecimento das forças sutis e eram chamados de Wicca da palavra de raiz anglo que significa “curar ou moldar”. Ou seja, eles podiam moldar o invisível de acordo com suas vontades. Curandeiros, professores, poetas e parteiras eram figuras centrais em todas as comunidades.

Continua após publicidade

A perseguição começou lentamente, mas tomou um caráter irreversível. As deusas pagãs para evitarem de ser destruidas foram escondidas em buracos de troncos de árvores, pequenas cavernas ou escondidas à beira de riachos. Através dos trovadores que escreviam poemas de amor para Deusa sob o disfarce de damas da nobreza da época, a força da Deusa Mãe foi preservada e canalizada para Maria.

Os cruzados que se aventuraram a levar o Cristianismo aos “infiéis” do Oriente encontraram as pequenas deusas escondidas. Tomados por um sentimento profundo do sagrado as trouxeram para a Europa colocando um manto de Nossa Senhora e iniciando assim a Cristianização da grande Deusa na figura de Maria Santíssima. E neste momento surge o culto as Deusas Negras que o Xamanismo Matricial trouxe à tona juntamente com o fogo criador do Divino Espírito Santo.

Catedrais magníficas foram construídas em homenagem à Maria que havia incorporado vários aspectos da antiga Deusa. A feitiçaria foi declarada como um ato de heresia. Em 1324 Dame Alice Kyteler foi julgada por veneração a um Deus não-Cristão e salvou-se em virtude de sua condição social, mas seus seguidores foram queimados. Esse julgamento foi um marco nas perseguições que se seguiram.

Guerras e cruzadas

Continua após publicidade

Guerras, cruzadas, pragas e revoltas campesinas se espalharam pela Europa. Joana D’Arc a Donzela de Orleans, apesar de levar à vitória os exércitos da França, conduzida por vozes que ouvia, foi queimada como bruxa. Os camponeses amavam tanto Joana D’Arc, porque na verdade ela foi uma líder da Antiga Religião – a Feitiçaria.

Em 1484, a bula papal de Inocêncio VIII liberou o poder da Inquisição contra a antiga religião. Iniciou-se as queimas das bruxas, pois essa perseguição era direcionada mais precisamente às mulheres (80% incluindo crianças e moças, as quais, acreditava-se que haviam herdado o mal das suas mães).

O cristianismo primitivo, que negava o universo carnal, degenerou em ódio aqueles que traziam a sensualidade consigo. O ódio às mulheres que provinha do medo do poder do feminino que menstruava e dava à luz era o atestado do grande medo que o patriarcado tinha do retorno do matriarcado: o culto à Grande Mãe. A mulher foi identificada com o maléfico e seguidora de Satã. “Toda bruxaria advém da luxúria carnal, a qual nas mulheres é insaciável”, afirmava o Malleus Maleficarum – o manual das maiores barbaridades e desumanidades contra as Feiticeiras.

Continua após publicidade

As bruxas e fadas que podiam, escaparam para a América e é bem possível que um coven estivesse realmente se reunindo nos bosques de Salem antes do célebre julgamento que marcou o fim da perseguição ativa na América.

Tanto na Europa quanto na América a feitiçaria continuou trabalhando ocultamente, tornando-se assim a mais secreta das religiões. Após o término das perseguições veio a era da descrença e a feitiçaria perdeu-se nos idos dos tempos.

Recuperar essa arte é recuperar a força do feminino e estar honrando 9 milhões de vítimas do fanatismo e do ódio. Isso faz as bruxas e a todos nós responsáveis por um mundo no qual o preconceito não faça mais vítimas, pois a bruxa é uma criadora que dá forma ao invisível e torna a vida impregnada de magia.