Por que nos comparamos tanto aos outros?

por Patricia Gebrim

Hoje acordei com coceira nos dedos… eu simplesmente preciso escrever sobre isso!

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Bem, imagine o seguinte. Imagine que por algum tipo de magia você tenha sido transportado para o alto de um carvalho e esteja dentro do ninho da Dona Coruja, que neste exato momento penteia suas penas e ajeita seus enormes óculos, preparando-se para mais um dia de atendimento como conselheira alada dos animais que moram na floresta dos antigos carvalhos falantes!

A vida começa cedo na floresta e os animais começam a bater no tronco do carvalho às 7 horas em ponto para ouvir a sua opinião nos mais diversos assuntos. A a dona Coruja sabe que não pode se atrasar.

Assim começa o dia da dona coruja, que desce para atender seu primeiro cliente.

Uau!!! Lá está um maravilhoso Leão!

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Enorme, forte, dourado como o mais belo raio de sol já visto. Sua juba, longa e farta, balança ao redor de sua cabeça como se fosse uma coroa. É magnífico! Ainda assim, o Leão parece ansioso e fica andando de lá para cá como se estivesse preso em uma jaula. Assim que vê a coruja, o Leão lhe conta o seu problema.

– Dona Coruja, preciso muito da sua ajuda… Ontem, enquanto dava minha caminhada matinal, deparei-me com o Sr. Cavalo que corria pela clareira. E reparei em como é encantadora aquela crina comprida graciosamente caída pelo seu pescoço. Desde então não parei de pensar em uma maneira de tirar um pouco do volume da minha juba. Já tentei de tudo… escova progressiva, escova japonesa, chapinha, escova de chocolate, mais chapinha, escova de morango, de chantilly, de maionese (vocês acreditam que isso exista?)… mas a minha juba continua enorme!!! Preciso de sua ajuda!

Depois do Leão, foi a vez da Ursa branca. Ela chegou rebolando graciosamente, trazendo com ela enormes folhas de bananeira com as quais secava as lágrimas que pulavam de seus olhos como pipocas saltariam de uma panela sem tampa. Entre soluços, a ursa contou que não aguentava mais conviver com sua gordura. Sabia que precisava dela porque hibernaria em breve, mas queria ter o corpo leve da gazela, ah… como queria saltar com aquela fluidez, como queria aquela leveza juvenil das gazelas!!! E pedia uma fórmula emagrecedora – pela qual pagaria o que fosse necessário! (como adiantamento já tinha trazido 5 potes do mais puro mel).

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Em seguida veio o Castor, que dizia não aguentar mais trabalhar no ramo da construção de diques… seu sonho atual era ter a vida do esquilo. Não que não gostasse do que fazia. Disse que gostava, e muito! Sabia que construir diques era seu dom e que fazia aquilo muito bem, mas andava pensando ultimamente que não recebia tanto quanto gostaria. Talvez, se fosse um esquilo, poderia acumular mais alimento sem ter tanto trabalho.

E naquele mesmo dia ainda chegou uma borboleta desconsolada, dizendo sentir-se frágil demais e pensando que se sentiria mais segura se tivesse uma casca dura e preta como a do besouro e aprendesse a dar chifradas nas flores de vez em quando. Veio também uma tartaruga que se dizia cansada da vida, reclamando de ter de carregar aquela casca para onde quer que fosse. E uma zebra que se sentia discriminada e queria a todo custo uma tinta com a qual pudesse esconder suas listras pretas e se tornar alva como a neve.

Que trabalho teve a dona Coruja para mostrar ao Leão a beleza da sua juba, para explicar à Dona Ursa a importância da sua gordura, sem a qual ela não sobreviveria ao inverno; para mostrar ao Castor a riqueza de seu trabalho. E para mostrar à borboleta que sua delicadeza era parte da beleza da vida, e que nem todos tem de ser duros como o besouro. E assim foi, um desafio atrás do outro para ajudar aqueles animais a perceberem o quanto eram belos sendo exatemente como eram.

Assim é o nosso dia a dia. Veja cada um desses animais como partes nossas. Cada um de nós é a coruja. Temos dentro de nós essa sabedoria, essa capacidade de observar e compreender muito do que nos acontece.

Mas temos também partes que são como o leão, e a ursa, e o castor, e por aí vai…

Parte de nós sabe que precisamos aceitar a nossa verdadeira natureza e que esse é o caminho para a espontaneidade e para uma vida feliz. Mas partes de nós, as que precisam de cura, ficam sempre olhando ao redor, comparando-se e sentindo ser menor do que os outros.

Para que parte sua você anda entregando o seu poder?

Vou lhe dizer uma coisa. Faça algo verdadeiramente amoroso por você:

– Pare de se comparar com as outras pessoas! Pare, agora mesmo!!!

Nenhum de nós nunca poderá ser o maior ou melhor em tudo. Cada um de nós tem a sua própria riqueza pessoal.

Usando os valores atualmente difundidos ( altamente questionáveis, eu diria) na nossa sociedade eu poderia dizer coisas assim:

– Mulheres, ouçam:

… sempre existirá uma outra mulher mais bonita do que você, mais jovem do que você, mais magra do que você, com os cabelos mais lisos, mais culta, mais sedutora, mais meiga, mais isso, mais aquilo… Sempre existirá, entende? E se você não aceitar isso, vai sofrer.

– Homens, acreditem:

… sempre existirá um homem mais poderoso, mais rico, mais inteligente, mais divertido, com um carro melhor, com menos barriga e mais bíceps do que você! Aceite, é a mais pura verdade. Você não pode ser o melhor de todos. Nunca poderá!

Por outro lado, existe algo que ninguém, “neste mundo inteiro” pode ser mais do que você. Nem mesmo o Brad Pitt ou a Angelina Jolie. Nem o Donald Trump ou a Madonna. Nem a Gisele Bündchen ou o Gianecchini. Nem Einstein ou Mozart (se estivessem vivos).

Mesmo que existam infinitos mundos em infinitas galáxias… existe algo em que você é único!

Ninguém pode ser mais “você” do que você!

Assim, essa é a única maneira de verdadeiramente vencer e encontrar a paz : ser o máximo de você mesmo. Aprimorar-se, chegar ao seu melhor! Assim, se você é um urso, seja o mais urso que puder. Se for castor, seja castor. Se for leão, seja leão! Essa é a sua maneira de trazer para este planeta a sua contribuição única e exclusiva. Ao ser você, algo mágico acontece… uma luz se acende! A sua luz.

E entre tantas pessoas, você se torna subitamente iluminado. E esse é o maior fator de atração que poderia existir. De que adianta uma imitação apagada de leão ou borboleta? De que adianta, se as imitações não contém uma energia verdadeira que as sustentem? Um Leão falsificado pode até parecer um leão, mas quando chegamos perto, percebemos que lhe falta certa força, que o seu rugido soa estranho, que o pelo parece artificial… e logo nos desencantamos.

Uma falsa borboleta pode parecer uma borboleta, mas se é de plástico logo perderemos o interesse, lhe faltará a graça e a leveza transparente de asas que nos transportam ao mundo dos sonhos.

Não queremos ou precisamos da perfeição. Precisamos, isso sim, daquilo que é de verdade e tem vida. Aí reside o encantamento que não se desfaz.

Assim, nunca permita que ninguém mude você na sua essência. E nunca tente mudar a essência de outro alguém. Quando deixamos de ser quem somos começamos a morrer. E todos temos sede de vida.

Nunca morra ou deixe de ser quem é, por preço algum.

Acredite, não vale a pena!