Parto: Entenda a relação entre medo, tensão e dor

por Nicole Witek

Durante muitos anos dei muitas aulas para gestantes. Dei aulas também para o pós-parto, em países onde não existia estrutura para preparar a mãe para dar à luz e para a recuperação no pós-parto.

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Hoje, com o acúmulo da experiência, estou convencida que o yoga é o melhor presente que a futura mamãe pode se dar e ao seu bebê, para favorecer uma gestação harmoniosa e principalmente para um parto natural e sereno.

A parteira, Nancy Griffin, no livro The Epidural Express: real reasons not to jump on board (mothering Magazine, primavera 1997), disse que “a razão principal da dor durante o parto vem do conjunto: medo-tensão-dor… Nosso organismo aciona numerosos instintos durante o parto.

A primeira necessidade, imprescindível e instintiva, se refere a sentir proteção e segurança, assim como qualquer outro animal. Todos os mamíferos procuram, por instinto, um lugar meio escuro, afastado e com segurança, para dar à luz aos seus filhotes. O animal que vai dar à luz permanece relaxado e respira normalmente. Alguns outros podem respirar mais rapidamente para conseguir esfriar-se. Já os seres humanos poderiam chegar facilmente a esse estado de relaxamento fechando os olhos e praticando respirações abdominais.

Essa respiração desacelera as ondas cerebrais e leva a mãe ao estado de ondas alfa, no qual é quase impossível liberar adrenalina, o hormônio do medo. E falando ainda em termos fisiológicos, o yoga “desacelera” o sistema nervoso autônomo simpático (que prepara o corpo para fuga ou luta e é responsável pela produção adrenalina-cortisol: hormônios do estresse) e reforça o sistema parassimpático, para a volta ao equilíbrio e serenidade.

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Voltando ao parto e falando em “fêmea humana”, a necessidade de conforto físico se torna imprescindível. É como ”aprontar o ninho” para o filho nascer.

Na atmosfera hospitalar geralmente se constata o oposto: inúmeras e barulhentas interrupções dos médicos e enfermeiras, mesmo que muito bem intencionados, quebram esse aconchego. Muita luz, muitas pessoas ao redor da mãe, barulho, exames repetidos e máquinas de todos os tipos acabam apavorando a mulher.

Como o medo leva à dor?

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O músculo do útero sabe muito bem lidar com o perigo, o medo e o estresse durante o parto. O útero é o único músculo do corpo que contém, em si mesmo, dois grupos de músculos com ações opostas: um grupo induz e continua o parto, enquanto o outro para o parto quando a mãe se sente em perigo ou com medo.

O estresse emocional ou físico será sinal automático de perigo para qualquer mamífero dando à luz. O parto desacelera e pode até parar para que a fêmea possa fugir com total segurança.

Em tempos modernos, esse sistema pode não funcionar corretamente, não se pode fugir de nossos medos, que podem até ter origem nas histórias apavorantes de nossas colegas em relação aos seus partos. Muito menos fugir do hospital escolhido e nem do médico. Essa situação leva a um alagamento do corpo pela adrenalina. Esse alagamento dos músculos pela adrenalina desencadeia a contração dos músculos circulares curtos dos terço inferior do útero. Esses músculos são responsáveis pela parada do parto: eles fecham e apertam o colo do útero. O resultado é que a mulher fica “banhada”, impregnada, internamente pela adrenalina.

Enquanto as fibras musculares compridas e retas se contraem para abrir o colo do útero, as fibras curtas e circulares da parte baixa do útero se contraem para fechar, realizando assim uma verdadeira luta entre músculos.

Qual é o resultado? Uma dor intensa, causada por dois músculos fortes que trabalham em direções opostas cada vez que ocorre uma contração.

Como percebemos, existe uma relação direta entre o medo e a dor.

Aprendendo as técnicas de relaxamento físico, mental e emocional, lidando diretamente – talvez com a ajuda de um profissional – com os diferentes medos ligados ao nascimento, ao parto e escolhendo um ambiente para o nascimento que seja protegido e acolhedor, a mulher tem muito mais chances de não passar pelo episódio traumático e insano do conjunto “medo-tensão-dor”.

Praticar yoga com um bom profissional, cuidadosamente selecionado desde o início da gestação e com autorização do médico, será um jeito excelente para preparar o corpo e a mente para o relaxamento e manter um estado adequado para o parto, livre de adrenalina.

E o papel da mídia?

A TV, a imprensa e o cinema, focam quase sempre o lado dramático e os perigos do parto. O melhor que pode ser feito é ajudar a eliminar esse condicionamento, neutralizar a lavagem cerebral dessas instituições cujo objetivo é abalar as emoções, causar impacto sobre o leitor, sobre o espectador.

Não existe nada melhor do que as aulas de yoga para ligar novamente a mulher à magia da sua própria criação e ajudá-la a ser ativa ao longo da gestação e a participar de seu parto.

Assim, na hora do parto, ela terá confiança nas técnicas que foram ensinadas, confiança na equipe de profissionais que a estará assistindo carinhosamente, confiança na beleza e inteligência dos processos instintivos de fêmea e mamífera. Essas condições são indispensáveis para que a mulher possa, com serenidade, viver esse momento plenamente.

Escolha do parto

Yoga é sinônimo de independência e libertação. Acho sensato estudar as diferentes possibilidades. Buscar opções, escolher com consciência clara e nítida também faz parte do yoga, verificar as hipóteses por si e escolher seu caminho também é yoga. Exercitar seu papel de mulher, descobrir novamente o mundo das sensações, ser capaz de transitar entre as contrações e o relaxamento com plena consciência e confiança, também é yoga. Pratique yoga, principalmente durante a gestação!

Bibliografia:
Immaculate deception II – Myth, Magic and Birth por Suzanne Arms
Out of the womb, to the fire por Jock Doubleday
Dr. Michel Odent, fondador do « Primal Health Research Centre » em Londres
www.michelodent.com