Viva no momento presente e preste atenção aos sinais dados pelo corpo

por Nicole Witek

Temos um amigo excepcional, fiel, sincero, sensível. Quem é? É o amigo que tem mais intimidade com a gente, que nos conhece mais do que ninguém. Quem é?

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O problema é que não queremos ouvi-lo. Como muitas pessoas, não prestamos atenção à sua voz, negligenciamos os seus recados de alarme e… acontece a catástrofe!

Permanentemente ele está em contato conosco. Desde o primeiro dia de vida está presente para avisar-nos da fome, do frio, da falta de conforto, da dor, e também das emoções que vão da felicidade, à tristeza, à raiva. Ainda mais, expressa nossos sentimentos, porque tudo acontece com ele antes de percebermos realmente. Fica superfeliz quando estamos felizes, e gosta quando sentimos bem-estar físico ou emocional.

Quem é esse amigo?

É quem só conhece o presente.

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Mesmo que desvalorizado durante certas épocas do crescimento da sociedade, ele é a ferramenta mais preciosa que pode nos auxiliar nessa encarnação. Ele nos lembra constantemente o “aqui e agora” e quer que paremos de viver no futuro, que não existe ainda, e no passado, que já foi. Enfim: ele quer que desfrutemos o melhor de cada minuto para garantir nossa felicidade.

É o amigo mais inteligente que se pode ter.

Tendo uma memória fora de série, ele lembra de todos os traumas e é capaz de organizar, em cada segundo, nossa vida tanto emocional como física.

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Psicanalistas, psicoterapeutas, neuropsiquiatras sabem disso: ele usa um idioma que devemos levar a sério, sem ser rígidos. É quem manifesta amor e nos vigia como uma sombra, se prestarmos atenção a ele.

No entanto, quando ignoramos seus recados somos capazes de afundar-nos na dor e no desespero. Devemos ouvi-lo, mesmo quando ele aponta nossas fraquezas, nossas dificuldades e nos faz sentir o tempo que passa.

Quem e o que foi banido durante séculos?

Quem é que foi torturado por fins espirituais?

Quem é que nunca é como a gente gostaria? Quem é que não pode existir sem ser submetido a todas as modas, todos os preconceitos de tamanho, de idade, de sexo e de cor?

Já adivinhou?

O corpo!

Se a gente usasse o corpo como nosso melhor conselheiro e amigo, sem ser obrigado, forçado, porém simplesmente com atenção amorosa, seria tudo bem diferente. Cada um de nós seria autêntico, sincero, não usaria máscara, expressaria a realidade do momento. Teria pouca somatização, poucas doenças de civilização, porque desde os primeiros sinais, revisaria os comportamentos. Seria um mundo ideal, perfeito, onde os hospitais estariam vazios, os médicos pagos por quem consegue ficar em boa saúde! Já pensou?

Se a gente ouvisse a voz de nosso melhor amigo, o corpo, o mundo seria assim!

O momento predileto quando podemos ouvir nosso amigo, o momento de comunicação especial, é o momento de nossa sessão de yoga. Não importa a duração, não importa o lugar. Esse momento de diálogo entre o cérebro e o corpo, a face luminosa e a face escura, o alto e o baixo, as partes felizes e as partes bloqueadas, o intelecto e a carne. Enfim, para ouvi-lo basta prestarmos atenção à voz tímida que tenta chamar-nos no meio do barulho externo.

Quando paramos tudo, seja sentado no tapete para algumas posturas, seja meditando, estamos criando um momento especial de relacionamento com nosso melhor amigo.

A correria cotidiana, as exigências de uma vida cada vez mais rápida, onde a informação nos invade, requer que tomemos umas medidas de salvação. Vale a pena pararmos e buscarmos dentro de nós. O yoga propicia uma comunicação sadia com todas as nossas partes. Vale a pena pensarmos nisso e abrirmos um pequeno espaço na nossa rotina para falarmos com nosso melhor amigo.

Viva no momento presente e preste atenção aos sinais dados pelo corpo

por Nicole Witek

Muitas vezes nos sentimos estressados, nervosos, irritados, impacientes, cheios de tiques nervosos, com insônia… e tudo isso somado às atribulações e problemas da vida moderna. Tranquilizantes, remédios para dormir e muitas outras drogas, muitas vezes passam a ser nossa válvula de escape. Uma alternativa seria a de seu o médico recomendar aulas de yoga.

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Isso porque encontramos dentro das práticas de yoga uma bateria completa de técnicas para o relaxamento. Mas, será que os sábios de milênios atrás sofriam dos males de uma vida frenética como a nossa – responsabilidades desproporcionadas, desafios enormes ou ansiavam por férias coletivas?
É evidente que não. Nessa época o yoga estava reservado para uma elite selecionada, escolhida.

Esses adeptos praticavam um yoga integral muito mais intensivo daquele que praticamos hoje, séculos depois. Atualmente, deveríamos até falar de yogismo, como ciclismo ou malabarismo. O yoga veio se diluindo, prova disso são os nomes das posturas que de “inteiras” passaram a ser admitidas como clássicas, ou seja metades de postura. Por exemplo, a torção Matsyendrasana passou para Ardha-Matsyendrasa: meia-postura do Matsyendra”.

Tensões embutidas no corpo, nervos tencionados não são características naturais. Isso é o resultado da nossa vida moderna trepidante, onde os ritmos são acelerados e desumanos. Os animais, como os seres humanos, sempre estavam em contato com o medo, mas a ansiedade crônica é produto de nossa época moderna.

Então, porque os yogis tiveram essa necessidade de ‘inventar’ técnicas de relaxamento?

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Eles tinham uma meta muito distante da contemporânea: que o relaxamento total fosse muito além do relaxamento obtido no sono mais profundo, tornando-se a porta de entrada para estados de consciência modificados.

Essa condição é imprescindível para o praticante de yoga. Sem essa capacidade de relaxamento profundo, só se pode transitar entre o estado acordado” de vigília e o estado cochilando”ou adormecido. Existe uma série de estados psíquicos supraconscientes”para os quais ser capaz de relaxar é a condição predominante.

Sem falar que durante as posturas, o relaxamento mais completo da musculatura é uma condição obrigatória para conseguir uma prática correta. Posso também lembrar que o relaxamento é indispensável para a criatividade. Quando o corpo e a mente estão relaxados, a memória também está. Mas quando as tensões bloqueiam os caminhos da memória, esta fica estressa e ‘tranca’ as informações, assim que saímos de uma entrevista importantíssima, ela se apressa em liberar a informação que o estresse tinha bloqueado nas ‘gavetas do fundo’.

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No espírito do yoga, tudo começa pelo relaxamento.Infelizmente, na literatura tradicional do yoga, não se encontra o método. Está já pressuposto que o adepto saiba como fazer. O relaxamento pode ir do simples comando: relaxe para uma sessão completa de yoga nidra ou yoga do sono consciente. Os principais métodos do ocidente têm uma base comum o relaxamento muscular. No yoga também, só que o que está visado por trás do relaxamento dos músculos é o relaxamento do sistema nervoso.

Relaxar diretamente o cérebro como se faz no yoga é difícil sem passar pelo relaxamento muscular, que é o primeiro passo para os relaxamentos mais profundos que o yoga propõe.

Tônus muscular

Precisamos falar do tônus dos músculos, que são mais ou menos tensos ou tencionados, prontos para o movimento. Esse estado varia de uma leve contração, para um movimento simples, até uma contração vigorosa para levantar um peso grande, por exemplo. Assim que termina o movimento, o músculo volta para o estado de tônus – o stand by. Várias vezes por minuto passamos de um estado de contração leve a contração dura.

Do outro lado tem o estado de relaxamento voluntário. Contrair um músculo é natural e inato para cada um de nós. Mas pedir o relaxamento do músculo abaixo do limite do tônus – do stand-by – é uma ordem para a qual devemos comandar nosso corpo. Deixar o músculo molinho e pesado é a primeira etapa do relaxamento. Sentir a sensação de peso. Com treino isso leva alguns segundinhos. Para um principiante sem muito nervosismo isso pode levar menos de um minuto. Descontrair a musculatura abaixo do nível do tônus, espontaneamente, pode ser feito depois de ter contraído fortemente um músculo. Isso permite que o músculo recupere mais rapidamente.

O interessante para nós nessas práticas, é que o cérebro não precisa mais mandar ordens para manter a musculatura em tônus. Isso gera uma grande sensação de serenidade. O sistema nervoso está desativado do movimento muscular. Maior o número de músculos participando nesse processo, maior o relaxamento.

Vamos para uma amostra? Vamos experimentar?

Como relaxar os músculos

Deitado de costas, ou seja, com a barriga para cima, levamos nossa atenção para uma perna, levantamos uma perna ate 10 cm do solo, mantemos essa perna dura e elevada fora do chão por alguns segundos e deixamos essa perna cair no chão, pesada. Depois, sacudimos levemente e ligeiramente essa mesma perna.

Vamos perceber durante uns segundinhos as sensações provocadas pelo distencionar.

A seqüência é essa:

– perna direita
– perna esquerda
– glúteos a serem contraídos fortemente
– abdome: inspirar inflando o ventre, bloquear a respiração cinco segundinhos, e deixar o ar sair lentamente dos pulmões como um leve suspiro.
– tórax: inspirar afastando suavemente as costelas, bloquear a respiração cinco segundos, suspirar levemente.
– braços direito e esquerdo: mesmo processo que para as pernas.
– nuca e pescoço: contrair todos os músculos e descontrair deixando a cabeça pesar.
– rosto: apertar os dentes, os olhos, bochechas, lábios, e relaxar rapidamente de uma vez.

Depois, sem se mexer, percorrer o corpo todo pela atenção, na mesma ordem… Lembre SEM MOVIMENTO NENHUM.

Verifique que as tensões não voltaram.

O que resta a fazer? Observar o corpo respirando, sem modificar a respiração, que provavelmente será superficial porem regular e ritmada.

Esse método de relaxamento é apropriado para principiantes por não ser analítico, deixando o intelecto de lado e por usar a descontração que vem depois do aumento do tônus. Essa técnica permite um bom relaxamento debaixo do tônus habitual.

Pode também ser praticada por quem não tem tempo de praticar um relaxamento mais longo.

Essa primeira fase durante a qual o yoga “desconecta” no seu cérebro os centros motores que comandam tudo ou parte e essencial para nossa saúde física e psíquica.

Demorou muito? 5 a 10 minutos.

Pode usar esses minutos antes de dormir. Não tem desculpa nenhuma para não se fazer esse bem. Quem não tem 5 a 10 minutos para relaxar o sistema nervoso?