Autocontemplação na ação gera bom desempenho

por Renato Miranda

É inegável a evolução do esporte nas últimas décadas, principalmente a partir dos anos 90. Tanto na metodologia de treinamento, desenvolvimento de equipamentos esportivos e tecnologia de alto desempenho, como também nos processos de avaliação e revelação de talentos além de outros elementos do desempenho humano.

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Ao acompanhar o desenvolvimento da dita era digital/virtual, o esporte expressa com todo vigor o que acontece em vários segmentos da vida humana que envolve especialmente a busca pelo melhor desempenho humano.

Nesse cenário é peculiar que a velocidade pela exigência de resultados cada vez mais rápidos se tornou algo comum na vida de atletas ou de qualquer outro profissional.

O desafio a ser enfrentado atualmente tanto por atletas profissionais, amadores avançados, profissionais de outros setores, além de alunos de todos os níveis de escolaridade, é que decerto raramente as pessoas ficam centradas no presente porque estão muito aflitas e impacientes com aquilo que está por vir.

Para enfrentar tal desafio gosto de orientar as pessoas a partir da teoria da Fluidez, conhecida também como Fluxo (ou simplesmente flow-feeling) preconizado por Mihaly Csikszentmihalyi.

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Com base em Csikszentmihlalyi pode-se dizer que a chave para esse enfrentamento é o envolvimento completo na tarefa escolhida pela pessoa para transformar uma atividade rotineira em algo prazeroso.

Em prática deve-se reconhecer que nossa mente possui um determinado limite que se resume em não conseguir ao mesmo tempo (simultaneamente): perceber, comparar informações, avaliar e decidir o que fazer. É conforme o nível da dificuldade da tarefa e a habilidade da pessoa que se verifica o tempo em que a mesma leva para perceber uma situação e agir.

Pessoas muito bem preparadas para executar algo, um atleta de alto nível, por exemplo, transmitem aos torcedores a percepção que faz várias coisas ao mesmo tempo, no entanto, o que realmente acontece é que sua memória é tão rica de experiências que ele mesmo consegue passar por todas as etapas citadas anteriormente (perceber, comparar informações, avaliar e decidir o que fazer) de maneira muito rápida, de tal forma que dá a impressão que conseguiu fazer tarefas simultâneas.

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Na verdade, é o envolvimento do atleta na atividade que o permitiu desenvolver sua atenção em alto grau de desempenho e assim o permite ficar totalmente absorto na tarefa. Desse modo sua mente não tem espaço para distrações e preocupações. Consequência: ele realiza a tarefa de maneira rápida, eficaz e em alta qualidade.

Memorizar um amplo repertório de decisões talvez seja uma das grandes consequências tanto do envolvimento na tarefa como da concentração (atenção!). Como são fenômenos sistêmicos (um depende do outro e forma um todo complexo e funcional!) somente muita prática (experiências!) e treinamento da atividade "alimentarão" esse sistema: envolvimento-concentração-memória.

Uma barreira inicial a ser vencida, para se obter um ótimo envolvimento em qualquer atividade, é considerar que frequentemente nós prestamos muita atenção em nossa pessoa social (como nos mostramos aos outros – repare nos atletas!).

Portanto, para que tenhamos um ótimo nível de concentração e envolvimento, é fundamental que liberemos nossa consciência pessoal. Em outras palavras, diga aos atletas: Não deixe espaço na sua mente para se preocupar consigo mesmo (figura social!). Imagine apenas as ações. Reflita unicamente sobre a atividade e não naquilo que se possa pensar sobre o que esperam de você!