Como reconhecer um precoce talento esportivo – parte II

por Renato Miranda

Em texto anterior escrevi sobre aquilo que é considerado um dos dilemas do esporte infanto-juvenil: reconhecer um talento esportivo em tenra idade. Depois de discorrer a respeito das características individuais do jovem atleta talentoso, neste texto, projetaremos uma possível solidificação de um caminho relativamente seguro e prático para consolidar uma resposta para à pergunta que simboliza tal dilema: “Como podemos reconhecer um talento no esporte?”.

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Se ao observar as características (leia texto anterior) relativas à intensidade no comportamento, força nervosa e desempenho elevado, é fundamental complementar tais características com algumas diretrizes que nortearão uma possível revelação de talento.

No entanto, antes das diretrizes, é oportuno lembrar que o esporte não é maior do que a vida do (a) jovem desportista. Portanto, um aconselhamento aos pais; não abuse a respeito das exigências relacionadas aos treinos, resultados, exigências e projeções de futuro.

Lembre-se, estamos a falar de garotos (as) na faixa de 12/13 anos. Como escrevi anteriormente, a única regra do atleta talentoso “parece ser melhorar seu desempenho com divertimento.”  Pois bem, se os pais exacerbarem nas emoções e, por conseguinte, nas exigências gerais relacionadas ao desempenho, esse “espírito” de divertimento poderá sofrer sérios abalos e algo positivo poderá se transformar em algo devastador na vida emocional dos (as) garotos (as).

Ao garantir que o (a) jovem tenha tal tranquilidade de manifestar seu potencial de modo espontâneo eu diria que as diretrizes a seguir podem auxiliar ainda mais na manifestação esportiva:

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1ª) Clareza da realidade esportiva

É preciso ter em mente que o esporte de alto rendimento é extremamente exigente, tal como tudo aquilo que é de alto nível, e, portanto, é fundamental se o (a) jovem tem características gerais (em consideração o aspecto físico e psicológico) compatíveis com tal realidade. Ou seja, quando o (a) jovem atleta percebe que o “ambiente” exigente do alto rendimento não é algo ameaçador a adaptação é natural e sem maiores dificuldades.
 
A realidade para vivenciar o esporte de alto rendimento implica na combinação de vários fatores que envolvem tanto a relação física, psicológica como a social do (a) jovem atleta, tais como:

Compleição física, apoio familiar e especializado (treinadores com qualidade profissional e pessoal), oportunidade para praticar o esporte, tranquilidade para enfrentar constantes desafios, inteligência cinestésica (tipo de inteligência relacionada à facilidade de aprendizado motor e de tomada de decisões para agir em movimento), alta capacidade de adaptação aos esforços físicos (treinos e competições árduos) e demandas psicológicas (força nervosa para superar as diversas pressões naturais do esporte) e outros.

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2ª) Autoavaliação

Costumo dizer aos meus alunos que a verdadeira avaliação é aquela que nós mesmos nos questionamos, por exemplo: “Sou capaz de enfrentar tal desafio?”. Esporte infantil (antes dos 12 anos) e infanto-juvenil (após os 12 anos) bem ensinado (orientado) e praticado oportuniza, com o passar do tempo, ao (a) jovem perceber qual é ou será seu próprio nível.

Independentemente do desempenho do (a) jovem atleta, o (a) mesma pode usufruir do esporte para uma vida melhor. A questão a ser autoavaliada (com o passar do tempo e com calma) é se ele (ela) mesmo (a) tem condições e quer suportar: rotinas árduas de treino, cansaço, dores e tudo o mais que pertence à vida do atleta. Não há nada de dramático nesse quesito. Em qualquer atividade humana de alto nível é bom saber que sacrifício é matéria-prima. O que precisa ser levado em consideração é a idade dos jovens, seu momento de vida e as implicações emocionais do esporte em sua formação. O processo e autoavaliação é algo que, como disse, exige tempo e calma. Lembre-se: cada pessoa tem uma forma peculiar de se desenvolver e um ritmo também especial para aprender.

3ª) Viver o presente

Essa diretriz é fácil de entender e difícil de ser colocada em prática. Por exemplo, dizer para um garoto de dez anos, que ele será um craque no futebol insistentemente pode gerar ansiedade e uma falsa expectativa.  É fundamental “deixar” os jovens esportistas vivenciarem o dia a dia com alegria e prazer. Projetar um futuro muito distante só serve para desanimar as pessoas com o passar do tempo. Mesmo com aqueles jovens atletas que despertam fascínios nos adultos por suas habilidades, o divertimento deve ser o principal objetivo. É preciso ter tranquilidade com as pretensões.

4ª) Comparar desempenho

No esporte de alto rendimento a comparação de desempenhos está sempre presente. Desse modo pais, treinadores e jovens atletas, para terem uma boa avaliação e regular suas pretensões, deveriam comparar os desempenhos (dos atletas em questão), com os outros atletas de regiões e até mesmo países diferentes, para com isso, evitarem ilusões e/ou avaliações tímidas e “localizadas.” Por exemplo: Um jovem atleta de futebol de uma cidade do interior em tenra idade com ótimo desempenho, se comportará em um mesmo nível daqueles de outras cidades e/ou estados?

Por fim, reforço o que já escrevi em meu último livro: “É bom que a motivação e a alegria do jovem praticante sejam observadas pelos pais e profissionais do esporte. Se essas estiverem presentes na experiência esportiva: ótimo. Se, além disso, há um desempenho que “salta aos olhos”, nada de pressa! Vamos ajudar os jovens a cumprirem seus destinos.”.