Cérebro muda em resposta aos desafios do ambiente

por Aurea Caetano

Sabemos hoje que toda a programação genética responsável pelo desenvolvimento do cérebro humano é “dependente da experiência” e todos os relacionamentos, desde o nascimento ou até antes, na vida intrauterina, vão influenciar a forma de maturação dessa estrutura.

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Embora a afirmação acima seja óbvia, estamos há não muito tempo começando a compreender os mecanismos subjacentes à estruturação de toda essa arquitetura. Com o desenvolvimento de aparelhos que podem mapear o funcionamento de nosso sistema nervoso “in vivo”, temos a possibilidade de ver esse funcionamento em tempo real.

O mistério e o “maravilhamento” são os mesmos que acompanhavam, e ainda acompanham, os astrônomos em suas descobertas a respeito da imensidão dos sistemas nos quais o planeta Terra está inserido. Micro e macro têm uma estreita conexão, podem ser pensados como espelhos um do outro.

O crescimento e a organização do cérebro refletem uma mistura complexa, porém sutil, de genética e influências ambientais. Como modelos, os genes fornecem a organização das estruturas uniformes do cérebro, que não são, geralmente, afetadas por influências ambientais, exceto em casos de anormalidades genéticas pré-natais.
Estas estruturas e funções, como por exemplo, a disposição geral do sistema nervoso e dos reflexos básicos, são herdadas pelo nosso DNA e compartilhadas por todos os membros saudáveis de nossa espécie. Este é o aspecto da herança genética tradicionalmente concebida como “natureza”.

Por outro lado, a expressão de muitos dos genes que compõe nossa estrutura genética, depende de experiências que provocam ou não a sua transcrição. A genética da transcrição (ou epigenética) controla aspectos mais sutis da organização cerebral, como os delineamentos das redes neuronais de desenvolvimento mais tardio e os níveis de neurotransmissores específicos disponíveis para diferentes sistemas cerebrais.

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Portanto, devemos considerar nossa arquitetura neural como expressão palpável da nossa história de aprendizado. Lembramos que as primeiras pesquisas em plasticidade neural começaram explorando o impacto de diferentes tipos de ambientes no desenvolvimento do cérebro.

Ou seja, o cérebro não é um órgão estático; ele muda continuamente em resposta aos desafios do ambiente. Por isso, podemos pensar de forma prospectiva que a arquitetura neural do cérebro dá concretude ao ambiente que o talha.

E mais, que há um jogo muito interessante acontecendo entre o que é estruturado de forma mais básica, e por isso funciona como alicerce de nosso desenvolvimento e aquilo que vai sendo construído a partir de nosso caminho no mundo. Outra forma de falar a respeito da necessidade de cotejar sempre tradição e inovação.

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