Cisne negro e autoilusão; entenda essa relação

por Aurea Caetano

Em um já clássico livro “O Cisne Negro”, Nassim Nicholas Taleb escreve sobre o que chama de “impacto do altamente improvável”.  Este autor acredita que tendemos a olhar o mundo e explica-lo a partir do já conhecido, não levando em conta a possibilidade da existência de algo que não sabemos. O exemplo, que dá título ao livro, conta que até a descoberta da Austrália, as pessoas estavam convencidas de que todos os cisnes eram brancos, crença esta confirmada pela evidência empírica.

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Uma simples observação, a visão do primeiro cisne negro na Austrália, invalidou a crença reforçada ao longo de milhares de anos e fundamentada em milhões de observações de cisnes brancos. O que quer, o autor, provocar com esta “simples história”? Taleb quer discutir o que chama de “cegueira” ou “pontos cegos” que cada um de nós têm e que faz com que vejamos a realidade a nosso redor a partir de um já conhecido ponto de vista. Diz ele que somos máquinas de “olhar para trás, e que humanos são ótimos em criar uma autoilusão” (Taleb, pag. 12)

Com o que chama de autoilusão, Taleb nos convida a pensar a respeito das várias crenças que temos e de nossas tentativas de explicar o mundo e especialmente aquilo que já aconteceu, os eventos passados, a partir de uma visão predeterminada que torna o mundo mais compreensível e, portanto, mais seguro para nós.

Discutimos aqui, uma vez mais, a questão da incerteza, ou de como tentamos o tempo todo dar conta de um mundo com o qual possamos conviver com um mínimo de previsibilidade. Não há aqui nenhum problema, como já dissemos o cérebro é também uma máquina antecipatória, tenta explicar as experiências pelas quais passamos de forma a encontrar nelas algum sentido, encontrar um padrão familiar e responder de forma pronta e fácil aos desafios.

Não faz o menor sentido, do ponto de vista evolutivo, ter que construir a cada manhã o mundo no qual vivemos; ter de descobrir a cada momento se o animal que se aproxima representa ou não um perigo. Nosso cérebro, construído e selecionado ao longo de milhares de anos representa a melhor possibilidade de relação entre nós e o mundo. Como diz Taleb, somos máquinas de olhar para trás, a partir do que já conhecemos criamos ficções que expliquem e deem sentido às nossas histórias, a nossas vivências.

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Isto se torna um problema quando esta capacidade, criativa por um lado, torna-se uma prisão; quando nos impede de buscar novas explicações, procurar novas respostas ou diferentes maneiras de ver o mundo. Quando ficamos aprisionados em nossos padrões de ver o mundo e não ousamos nos abrir para experimentar um olhar diferente.

Minha equação pessoal

A questão que mais uma vez se coloca aqui, é o desafio de lidar com a tradição e a modernidade, ou com o que é que chamo de “minha equação pessoal” ou minha maneira de estar no mundo e a necessidade de constante atualização e transformação. Como caminhar, estar no mundo, exercendo nossa individualidade, nos apropriando de nossa forma mais básica de ser e ao mesmo tempo questionando e ampliando esta equação.

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Um pouco de autocrítica e um olhar aberto e questionador podem fazer toda a diferença. É necessário estarmos atentos à possibilidade de que nosso olhar, embora fundamentado em várias experiências, possa ser a qualquer momento iluminado com uma nova possibilidade. Ou, como disse Taleb, a visão de um simples cisne negro pode provocar uma mudança em nossos paradigmas e nossa visão de mundo.