Ambos querem se separar, mas não têm coragem de tocar no assunto

por Anette Lewin

“Não estou feliz no meu casamento. Depois de 23 anos, acho que acabou tudo: amor, confiança. Não sei como falar, mas sinto que nós dois estamos só na espera do outro pedir a separação. O que faço?”

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Resposta: Você não está feliz no casamento, ele, pelo jeito, também não está. Mas a sensação de infelicidade traz como contraponto a ideia de um ideal de felicidade.

Assim, a primeira pergunta que se faz é: qual seu modelo ideal de felicidade depois de 23 anos casada com a mesma pessoa?

Sim, a confiança acabou, o amor acabou. O que restou? E o que deveria ter restado para que ambos sentissem que vale a pena continuar na relação?

Aquele frio na barriga com a presença do outro?

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A sensação de que o casamento é e continua sendo, um mar de rosas?

A construção de lindos planos a longo prazo?

Bem, depois de 23 anos tudo isso dificilmente estará presente no relacionamento. Sempre haverá alguma decepção, alguma briga, alguma sensação que aquela pessoa perfeita também tem seus defeitos. O que não quer dizer que novas formas de conviver sejam impossíveis. Tente pensar no casal que vocês formam hoje, evitando referências do passado. Esse casal pode encontrar uma linguagem comum no presente? Ou a única saída é o fim?

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Como não temos a resposta ainda, vamos pressupor que a relação se esgotou e o fim é inevitável. O que explicaria essa posição de defesa de ambos? "Parece que nós dois estamos só na espera do outro pedir a separação", você diz.

Ora, quando a certeza do fim existe, alguém tem que sair da zona de conforto e tomar a iniciativa. Quem? Em geral fica mais fácil para o mais proativo da relação, aquele que, em momentos de conflito, costumava agir no sentido de sair do impasse. Pense: qual de vocês desempatou situações como essa durante o casamento? Você? Ele? Ou os impasses se resolveram sozinhos sem a interferência de nenhum dos dois?

Tente entender também qual a vantagem real de esperar que o outro tome a iniciativa. Sim, sempre haverá a possibilidade de que a culpa seja menor para quem recebe o basta do que para quem dá o basta. Mas será que vale a pena ficar adiando algo só para sair como o mártir da questão?

Sair do casamento é apenas um passo que se dá em direção a uma nova fase da vida. Quanto mais consciente a pessoa estiver de seus porquês, maior a chance de construir uma nova fase mais saudável. Quanto mais a decisão de separação for tomada por impulso, sem uma noção clara do que está deixando para trás e o que pretende daí para frente, maiores as chances de um arrependimento.

Assim, tente entender se essa posição de espera que vocês estão não significa, no fundo, que nenhum dos dois chegou ainda a uma decisão consciente. E se for assim, o melhor é esperar até que as coisas se esclareçam para ambos.

Sempre vale uma boa conversa para ajudar a entender melhor os porquês do outro. Não uma conversa cheia de cobranças, mas sim uma reflexão sobre os sentimentos envolvidos. Tente. Quem sabe o que você ouvir de seu parceiro possa ajudá-la em sua decisão.

Por fim, independentemente de separar-se ou não, lembre-se que casamento não é uma situação estática. As pessoas envolvidas vão mudando e acabam dando novos formatos à relação entre elas. Quando se consegue perceber e aceitar bem as mudanças, seja em nós mesmos, seja no outro, sempre fica mais fácil enxergar o casamento como um desafio saudável. Quando se enxerga transformação como perda, a sensação de derrota é inevitável. Continuando no casamento ou saindo dele.

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.