Filme “O Apartamento” faz apologia a abusos contra à mulher, diz psicanalista

por Tatiana Ades

O cineasta iraniano Asghar Farhadi ganhou Oscar por melhor filme estrangeiro em “O Apartamento” (2016).

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Muito longe de ser feminista, mas sempre atenta em ser psicanalista, me deparei com questões perigosas que envolvem o conflito do filme.

A apologia ao abuso sexual foi nitidamente colocada como algo a ser perdoado. E a figura de um homem abusador, velho e com problemas cardíacos, torna-o isento de qualquer culpa pela mensagem do filme, ou seja, o abuso é tratado de forma casual e machista.

A própria personagem abusada do filme se torna vítima, não do abuso, e sim de dó que sente pela imagem do velho que a agrediu.

O mais perigoso é a mensagem dada pelo abusador, quando cita que “fez tudo aquilo por tentação” e chora suplicando que a sua família não saiba do ocorrido. Afinal, é casado há 35 anos e isso o destruiria.

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E consegue a absolvição da mulher que ele agrediu, a pena e inclusive a raiva dela pelo próprio marido que desejaria contar à polícia o ocorrido.

Mas o abusador realmente tem esse perfil?

Não e nunca! Antes de mais nada, ninguém abusa por sentir-se tentado. O abuso é um ato de poder e não sexual. Não importa a idade e o estado de saúde do abusador, esse deve ser responsável pelos seus atos, pois é uma pessoa que representa um perigo enorme para a sociedade.

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O abuso sexual, físico e emocional deixam marcas implacáveis e muitas vezes eternas em uma mulher.

Não podemos fazer apologia a esse tipo de tema, muitas vezes passando mensagens subliminares para pessoas que se identificam com o abusador e sentem-se motivadas em suas fantasias e perversões.

O perdão é sempre importante para que a vítima se livre do transtorno e inferno do trauma e esse deve ser trabalhado em terapia, mas sentir pena de um homem que  estuprou e quase matou, é masoquismo, e impossível para um ser humano normal.

Vamos combater essa mentalidade passiva e submissa em relação à violência contra a mulher. Diversas delas tiveram suas vidas destruídas por abusos, e muitas vezes, tiveram anos de suas vidas perdidas por sensação de culpa, depressão, tentativas de suicídio, falta de contato social, hospitalizações constantes etc.

Vale a pena refletir!