Aposentadoria e vida longeva

por Renato Miranda

Com merecimento muitos trabalhadores esperam ansiosamente o dia da aposentadoria. Mais do que um mérito é um direito de todo trabalhador. Embora o assunto do momento do início do ano de 2017 seja a reforma da previdência poucos falam da vida dos aposentados.

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Penso que se o ser humano ganhou muitos anos de vida, agora o desafio é dar a estes anos qualidade e intensidade para que realmente tenha sentido viver mais. Pense bem: algumas décadas atrás nós não tínhamos uma população tão longeva como agora. Afinal, viver após os 70 anos de idade era para poucos. Segundo dados do IBGE (2014), em 2030, o número de idosos será 4 milhões superior ao de crianças e adolescentes.

A vida laboral como se sabe, por mais sacrificante que seja, acaba por preencher nossos dias e nos oferece desafios constantemente. Há pessoas que se aborrecem demais no trabalho e isso é muito desestimulante. No entanto, a motivação para o trabalho e a vontade de criar e enfrentar desafios é um atributo individual e nesse sentido é difícil dizer o que é um trabalho gratificante e aquele que é aborrecedor. Todavia, pode-se dizer que o trabalho é um componente que dinamiza nossas vidas.

Como nós tendemos a viver mais, significa que ao aposentarmos teremos talvez mais de uma década para dar sentido à nossa existência. O desejável descanso é alcançado em poucos meses e depois…  O que fazer?

Existe em todos nós um forte impulso para procurarmos o conforto e a acomodação. Toda vez que nos sentimos confortáveis e acomodados um bem-estar generalizado se instala em nosso corpo.

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No entanto, a situação de descanso e conforto não dura para sempre. Com o passar do tempo a falta de novos estímulos (desafios!) produz aborrecimento e estresse. O conforto e o descanso têm mais impactos positivos quando são consequências de recuperação mediante uma tarefa ou desafio finalizado e que percebemos tal situação como uma recompensa por nossos esforços.  

Depois de algumas décadas de trabalho nada mais honroso do que um período de descanso, mas imaginemos uma pessoa saudável nessas condições que opte por apenas “descansar”.

Estamos, em suposto, a falar de 10 a 20 anos. Ou seja, é muito tempo sem algum desafio ou meta. O resultado será um aborrecimento generalizado com possíveis consequências de desordens físicas e psicológicas tais como obesidade e tristeza profunda.

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Nosso organismo (corpo e mente) necessita de exercício constante para providenciar equilíbrio interno (homeostase) além de uma considerável proteção cerebral a fim de resguardar nossos neurônios.

A dificuldade social e o sacrifício pessoal de enfrentar muitos anos sem saúde não são bons nem para a família nem para a sociedade (Estado) e tampouco para o próprio indivíduo.

Criatividade é potencializada em um corpo saudável

Possivelmente um dos melhores tributos do ser humano é a criatividade. Esta mesma criatividade pode ser exercitada a vida toda, promovendo usufruto positivo para muita gente. A criatividade é potencializada em um corpo saudável e uma mente lúcida. Para tanto, a busca constante da boa forma física, o desenvolvimento intelectual e a harmonia psicossocial são determinantes para que tenhamos uma idade adulta avançada (velhice!) de qualidade.

Assim sendo, paralelamente ao trabalho seria muito oportuno o desenvolvimento de algum hobbie preferencialmente ligado a uma habilidade física ou cognitiva: aprender um instrumento musical, um idioma estrangeiro, outra habilidade artística qualquer, envolvimento social especial (auxílio humanitário, tutoria pedagógica, e outros).

Enfim, viver com qualidade é criar desafios constantemente, promover novas aprendizagens e se adaptar a estilos de vida conforme os anos de vida e as novas possibilidades. Se por um lado a luta pela sobrevivência (trabalho!) na juventude não deveria ser sinônimo de ansiedade, na idade avançada a aposentadoria não deveria ser sinônimo de aborrecimento (tédio!).

Em síntese exercitar, criar, inventar, aprender, desafiar e arriscar são ótimas oportunidades para evitar o excesso de comodidade e do conforto paralisante. Como recompensa: um envelhecimento criativo, saudável e menos penoso!