Derrame aumenta chance de depressão

por Joel Rennó Jr.

A incidência de depressão é alta e preocupante em pacientes que sofreram AVC, o conhecido acidente vascular cerebral ou 'derrame'. Eles costumam ter uma chance maior de depressão. Segundo um estudo atual realizado pelo neuropsiquiatra Renato Marchetti (HC-USP) e colaboradores, a prevalência de depressão nesse subgrupo de pacientes é de 35,5% dos internados, com pico de incidência entre o terceiro e o sexto mês após o derrame. O problema é que o diagnóstico é insatisfatório. Ou seja, grande parte desses pacientes não são tratados da depressão.

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Entre os fatores que funcionam como gatilhos para a depressão pós-AVC incluem-se o estresse gerado pelas limitações físicas causadas pela doença neurológica, além do possível isolamento e abandono familiar.

Fatores orgânicos associados e outras doenças, além de algumas medicações utilizadas no tratamento de tais repercussões clínicas, também podem causar depressão.

Autonomia funcional

O inverso também é verdadeiro. Pessoas com depressão têm risco quase três vezes maior de sofrer AVC. Quando a depressão de pacientes que sofreram derrame não é tratada, há piora substancial da psicomotricidade, das funções cognitivas (memória) e maiores chances de outro episódio de AVC. Uma das principais necessidades humanas, para o idoso ou qualquer outro, é a chamada autonomia funcional. É a capacidade que a pessoa tem para valer-se de si mesma, interagir com o ambiente e satisfazer suas necessidades.

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As características da síndrome depressiva nos pacientes com AVC, são similares às dos outros episódios depressivos. Hoje, a ciência descobriu que há um subgrupo de pacientes do tipo com maiores chances de desenvolver depressão. Aqui, incluem-se os pacientes com atrofia do córtex cerebral (diminuição do volume do cérebro), um episódio prévio de derrame ou mesmo depressão e histórico familiar dessa doença.

A presença de depressão atrasa muito a recuperação de pacientes com acidente vascular cerebral, piorando as seqüelas neurológicas como os distúrbios da linguagem, motricidade, alterações de sensibilidade, dores e perda de memória. Esses pacientes se engajam de forma insatisfatória aos tratamentos medicamentoso e fisioterápico, o que é um dado alarmante, já que diminui as chances de sobrevida. Estudos também apontam que pacientes com depressão pós-AVC têm uma mortalidade 50% maior em relação àqueles sem depressão, no seguimento de um ano.

Hoje, felizmente temos medicações antidepressivas que podem rapidamente tratar essas depressões secundárias. Porém, repito, o maior problema é a falta de uma abordagem precoce eficiente, realizada por meio de uma avaliação clínica inicial completa e precisa. A psicoterapia de enfoque cognitivo-comportamental também é eficaz e fundamental. Familiares de pacientes que têm o problema devem ficar atentos aos sintomas e sinais de depressão nos primeiros meses depois do AVC. Isso pode efetivamente salvar vidas e melhorar o bem-estar e a qualidade de vida dessas pessoas que tanto sofrem com os limites impostos pela doença.

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