Síndrome de otelo tem cura?

por Anette Lewin

Resposta: Síndrome de Otelo – definição: "ciúme patológico; ideia persistente de que o parceiro tem outros relacionamentos".

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O ciúme patológico, portanto, não passa de um comportamento obsessivo onde o foco é a traição do parceiro.

Tem cura? É possível tratar? Bem, depende de uma série de fatores, da personalidade dos envolvidos, da vontade de mudar comportamentos, da maturidade do casal.

Comecemos a reflexão observando que sempre há um quê de subjetividade no entendimento da traição. Se entendermos traição da forma clássica, ou seja , uma pessoa casada manter um envolvimento e relações sexuais com outra que não seu cônjuge, podemos dizer que o ciúme desvinculado da comprovação da traição pode ser classificado como patológico.

Se, porém, entendermos a traição ou o ciúme de uma forma mais ampla, talvez encontremos um fundamento nas reações de ciúme ditas exageradas. Explico: a pessoa que sente um ciúme exagerado pode estar partindo de uma sensação subjetiva de falta de atenção, falta de afeto, falta de cuidado e concluir que já que o cônjuge não lhe proporciona essas sensações, deve estar proporcionando a outra pessoa. Nesse caso o erro estaria na reação da pessoa e não em seu sentimento. Afinal, não se pode considerar patológica a sensação de falta de afeto se ela realmente existe. O erro está em concluir que alguma pessoa está roubando o afeto que deveria ser seu e tentar descobrir quem é essa pessoa. Como se descobrindo pudesse resgatar o afeto do qual sente falta…

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Dentro dessa linha de raciocínio podemos dizer que é muito difícil encontrarmos ciúme exagerado de um dos cônjuges em casamentos equilibrados: casamentos onde os parceiros se respeitam, tentam entender as necessidades do outro, têm uma visão amadurecida do que é um relacionamento a dois, sabem abrir mão de seus desejos quando é necessário.

Dessa forma, quando há um ciume exagerado por parte de um dos cônjuges, quase nunca só um é o culpado ou o louco. Em geral, há uma frustração mútua onde um mantém o comportamento ciumento do outro através de suas atitudes. Explico: se a mulher suspeita que o marido a trai e ele começa a explicar-se infinitamente, poderá estar passando a impressão de que está mentindo. Afinal, quem está com a consciência tranquila, não precisa ficar explicando detalhes. Mesmo que seja provocado. Quem é amadurecido o suficiente para entender que inseguranças ocasionais existem em qualquer relação, simplesmente espera o momento de insegurança do cônjuge passar e retoma o contato num momento mais propício. Quem não tem essa maturidade, pode cair na cilada e alimentar uma relação patológica.

Isso para dizer que o ciúme patológico em geral faz parte de um relacionamento patológico, onde ao invés do casal tentar suprir suas necessidades afetivas e construir vivências onde se sintam cúmplices, acaba desperdiçando seu tempo tentando usar a lógica para provar fidelidade. Ora, fidelidade não se prova por argumentos, mas sim por atitude!

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Voltando à pergunta feita no início da reflexão: síndrome de Otelo tem cura?

Primeiramente, deve-se entender se o problema está na pessoa "ciumenta" ou na relação como um todo. Se o problema for a pessoa, uma terapia individual juntamente com medicação, em alguns casos, pode ajudar a melhorar a autoestima e ajudar a pessoa a tirar o foco do cônjuge e voltá-lo para atividades produtivas. Se o problema estiver no relacionamento, será mais indicada uma terapia de casal. Nela os envolvidos poderão entender melhor a dinâmica de seu relacionamento, as frustrações de cada um e reorganizar a relação de uma forma mais saudável.

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.