Existem medicamentos fitoterápicos para compulsão sexual?

por Danilo Baltieri

Resposta: O comportamento sexual compulsivo, também conhecido como hiperssexualidade, dependência de sexo ou mesmo sexualidade excessiva, tem sido frequentemente descrito por fantasias, urgências e/ou atividades sexuais recorrentes e intensas que são sentidas pelo portador como pouco controláveis e causadoras de prejuízos em diferentes esferas da vida do indivíduo (social, familiar, escolar, financeira, à saúde física etc).

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Os quadros mais tipicamente descritos de comportamento sexual compulsivo envolvem masturbação excessiva, múltiplos parceiros sexuais (frequentemente anônimos), importante consumo de prostituição e excessivo consumo de pornografia.

Existem algumas evidências de que este quadro clínico apresente similaridades comportamentais com os sintomas de um quadro de dependência de substâncias psicoativas, como por exemplo:

a) Grande tempo é gasto com comportamentos, pensamentos e urgências sexuais;

b) Existe um engajamento repetitivo em atividades sexuais, objetivando aliviar outros sintomas, como ansiedade, depressão, tédio, tensão, estresse;

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c) Há esforços continuados para modificar o padrão comportamental de busca por sexo, mas com pouco sucesso;

d) O comportamento sexual tende a superar a necessidade de evitar riscos à própria saúde e ao bem-estar de terceiros;

e) O portador passa a apresentar prejuízos sociais, familiares e pessoais em decorrência do comportamento sexual descontrolado.

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Apesar dos sintomas apontados acima serem observados frequentemente na prática clínica entre aqueles que portam um padrão comportamental sexualmente impulsivo, e de haver notáveis registros médicos de longa data sobre a sua consistência como quadro médico, existem controvérsias sobre a validade do diagnóstico do chamado Transtorno de Hiperssexualidade entre diferentes pesquisadores.

O fato é que o comportamento sexualmente compulsivo é uma realidade e pode ameaçar o bem-estar físico e psicológico daqueles que dele padecem.

Com a finalidade de comentar algumas descrições históricas do problema, cito algumas obras clássicas que descreveram este comportamento e tentaram propor estratégias terapêuticas das mais variadas e, por vezes, estapafúrdias:

a) D.T. Bienville (Jean Baptiste Louis de Thesacq), médico francês, publicou a obra Ninfomania ou Tratado do Furor Uterino (1771), onde descreve o excessivo apetite sexual e pensamentos “impuros” pouco controláveis, demonstrados por algumas mulheres. O autor propunha algumas estratégias radicais e nada embasadas (incluindo cirúrgicas) para aliviar o problema. Além destas estratégias, o autor propôs várias receitas com raízes e ervas para amenizar o transtorno. Claramente, tudo o que fora proposto carece de qualquer embasamento científico corrente. Desde tempos passados, o comportamento sexual expresso por grupos variados de pessoas sofre a influência sociocultural, moral e da política de gêneros da época;

b) Pye Henry Chavassi, em sua obra Physical Life of Men and Women, or Advice to Both Sexes (1871) [Vida ‘Sexual’ de Homens e Mulheres: Conselhos para Ambos os Sexos], declarava que uma forte e pretérita esquiva sexual poderia resultar, futuramente, em quadros de ninfomania (impulso sexual forte nas mulheres) ou satiríase (impulso sexual forte nos homens);

c) Jean-Etienne Dominique Esquirol, em sua obra Mental Maladies: A Tratise on Insanity (1845) [Doenças Mentais: Um Tratado sobre a Insanidade], afirmava que a ninfomania não era resultado da esquiva ou da falta de vivências sexuais prévias e adequadas, mas de problemas físicos nos próprios órgãos reprodutores que influenciavam o cérebro;

d) Richard von Krafft-Ebing, em sua obra Psychopathia Sexualis (1886), foi a primeiro a descrever o comportamento sexual compulsivo de uma forma similar ao que nós entendemos na atualidade. Consistiria em “um instinto sexual que permeia os pensamentos e sentimentos (…) resultando em uma impulsiva e insaciável procura pelo prazer sexual.”

Infelizmente, não existem estudos em larga escala para se determinar a prevalência do comportamento sexual compulsivo utilizando os critérios mencionados acima. Afora isso, pesquisas epidemiológicas neste campo podem ser prejudicadas em virtude da dificuldade dos portadores para revelar assuntos tão íntimos. De qualquer forma, estima-se, a partir de estudos menores, que cerca de 3 a 6% da população possa padecer deste problema.

Amostras clínicas de pessoas que procuram tratamento especializado revelam que a maioria é do sexo masculino e que reporta o início do comportamento compulsivo durante a adolescência tardia. Outrossim, alguns estudos demonstram que, entre compulsivos sexuais, alguns fatores podem disparar o comportamento, tais como tristeza ou depressão e solidão.

Entre os compulsivos sexuais, parece existir alta taxa de outros problemas psicológicos coexistentes, tais como:

a) problemas com o uso de substâncias psicoativas (40%);
b) transtorno depressivo (50%);
c) disfunções sexuais (45%);
d) outros comportamentos impulsivos (jogo patológico, compras compulsivas) (40%).

Aqueles que padecem desse tipo de comportamento sexual consistem em uma população bastante heterogênea. Dessa forma, diferentes fontes de causalidade e maneiras de comportar-se podem acontecer. Algumas teorias têm sido desenvolvidas a partir de diferentes amostras de portadores. Uma delas aventa a possibilidade de que experiências precoces de rigidez familiar e inadequada supervisão parental poderiam engendrar no adolescente a crença de que ele pode contar apenas consigo mesmo, evitando relacionamentos íntimos ameaçadores. Efetivamente, em amostras de compulsivos sexuais, a taxa de vivência de abuso sexual na própria infância tem sido de até 30%.

Sendo um problema com raízes diversas, ou seja, psicossocial, cultural, neurobiológica, o tratamento deve envolver diferentes facetas. Outrossim, considerando a heterogeneidade dos portadores, a individualização do manejo clínico deve ser imperativa.

Grupos de mútua ajuda para dependentes de sexo têm sido bastante enfatizados por alguns importantes pesquisadores da área. Medicações antidepressivas podem ser aventadas para alguns casos, após avaliadas as indicações corretamente. Psicoterapias também exercem um papel bastante importante, principalmente para o redimensionamento do próprio papel do indivíduo no seu meio, na melhora da autoestima e no fortalecimento da capacidade de vinculação afetiva.

Não existem fórmulas mágicas e simplistas para este problema ou questão. Também, não existem evidências científicas do uso de substâncias fitoterápicas para tal problema.

Tendo em vista que o seu comportamento sexual está gerando problemas para você, procure um serviço especializado e interessado em promover sua saúde. Seguramente, a sua história clínica será amplamente avaliada e, subsequentemente, um modelo de intervenção terapêutica ser-lhe-á oferecido.

Mova-se.

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.