Coloque em prática as resoluções do novo ano com a ajuda do mindfulness

Por Dr. Martin Portner

O começo de todo novo ano vem carregado de uma exigência pessoal – um plano de metas ou objetivos que se deseja alcançar logo nas primeiras semanas.

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No restante do ano, o “hábito adquirido” se encarrega de dar conta do resto. Daí é só correr para o abraço.

Ano após ano, a experiência ensina que isso não funciona. A única coisa certa é que a lista vai permanecer na mesa de trabalho – ou em algum canto do Google Calendar.

Há pouco tempo atrás me dei conta de por que isso acontece. É uma questão de timing. Será fácil de explicar.

Objetivos são, em geral, focados, como comprar um automóvel, matricular-se no MBA, uma viagem planejada. O cérebro feminino, mais social, inclina-se a buscar uma promoção na empresa, planejar a licença-maternidade (e o pré-requisito imprescindível, a gravidez) ou a viagem para celebrar uma nova lua de mel.

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Objetivos são planejados para acontecer dentro de certo tempo – um mês, um semestre, o ano inteiro. Mas dentro do cérebro esse timing é confrontado com um relógio próprio que organiza a mente. Em geral, uma regra é atropelada: a mente se interessa por objetivos rápidos, de timing curto. Aos demais uma etiqueta é atrelada; nela está carimbado o símbolo P, de procrastinação.

A tendência de procrastinar ocorre quando “precisamos” fazer algo que não está próximo do prazo de vencimento e, principalmente, quando a tarefa em questão não vem acompanhada do ingrediente essencial: o prazer. Fazer coisas distantes e que não agradam? Proposta vetada. Melhor que isso é responder e-mails e cuidar dos comentários no Face.

Existem pessoas dotadas de suficiente resiliência (capacidade de autossuperação), capazes de deixar a procrastinação de lado e aderir ao plano. Mas é raro. Qual é a solução para nós, procrastinadores? Abortar o timing. E acrescentar certa resiliência. Como se faz isso?

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Não trace metas, imagine estradas. Avenidas que se dirigem a um objetivo genérico. Trazer algo ao patrimônio. Vou estudar. Conhecer novos lugares. Cuidar da família. Ser mais humano. Entender como funciona a inteligência artificial.

Aqui não haverá conflito de timing. O cérebro observa a avenida à frente e encarrega a mente de pavimentá-la com objetivos. De tempos em tempos você senta, cruza as mãos por trás da cabeça e saboreia a quadra conquistada na ‘Champs-Élysées’ da sua vida. Mas não abandone a avenida de forma nenhuma.

Agora, aqui falta uma gota de tenacidade. Tudo que é bom não acontece sem certa medida de esforço. E essa vem através de um miniexercício diário que visa a encorpar a resiliência. Trazer o foco da mente ao momento presente, todos os dias, por um tempo que não alcança meia hora. Dessa forma, a mente poderá ajustar seus relógios. Esse exercício atende pelo nome de meditação mindfulness. As instruções são simples.

Como praticar o mindfulness  

Sente, não interessa a hora do dia ou da noite, em posição confortável e busque a sensação do coração batendo no peito. Todos nós somos capazes de senti-lo. Pesquisas mostram que somos cardioceptivos e possuímos a capacidade de localizar o coração no peito. Sentar e sentir o coração pulsando vem, invariavelmente, acompanhado da sensação de bem-estar. Pulso significa vida. Senti-lo energiza a mente.

Sinta o coração bater e respire devagar, por vinte minutos. Afaste os pensamentos (eles virão). Eles costumam ser do tipo “o que estou fazendo” ou ideias sobre o que você poderia estar fazendo ou pensando. Mostrando extraordinária paciência durante esta janela de vinte minutos, volte a mente ao coração. Essa é exatamente a parte que robustece o foco – o retorno. Respire devagar. Mantenha o foco.

Vinte minutos depois retorne à rotina e siga com o que precisa ser feito. A regra é simples: você não pensa e não atende os reclames da rotina durante uma janela de vinte minutos.

Mindfulness é um caminho. Ele o conduz à resiliência emocional e à capacidade de conhecer suas próprias emoções. Daniel Goleman, guru da inteligência emocional, ensina que mindfulness é a escada para o autoconhecimento e o autocontrole.

De fato, os exercícios de mindfulness nos transformam em arquitetos de estradas mentais – nós as projetamos, trilhamos seus caminhos e nelas alcançamos nossos objetivos.
 

Fonte: Dr. Martin Portner é Médico Neurologista , Mestre em Neurociência pela Universidade de Oxford e especialista em mindfulness.