Como lidar com a carência que desperta grande desejo de trair?

por Anette Lewin

"Sinto uma necessidade enorme de trair, uma falta interior de ter uma outra pessoa. Não consigo nem me satisfazer. Tenho que estar tendo a atenção de mais de uma pessoa. Será que isso é carência? Sou casada, mas me falta alguma coisa… Por favor me ajude."

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Resposta: As explicações formais para a traição, do ponto de vista feminino, quase sempre transitam pelos caminhos da carência ou da vingança.

No seu caso, porém, você associa a traição a um impulso, à vontade de ter a atenção de outra pessoa que, segundo você, nem a satisfaz. Talvez, através dessa descrição você mesma esteja inserindo a "sua" traição no campo das compulsões. Assim como existem pessoas que bebem compulsivamente, jogam, comem compulsivamente ou teclam compulsivamente, existem aquelas que traem compulsivamente.

O problema nesses casos está no descontrole do impulso. A pessoa tem um sentimento de desconforto interno que desperta nela um impulso (no caso, impulso de trair), que acaba aliviando essa sensação desconfortável. Só que o comportamento (traição) por si só, não é gratificante. Como você diz: "Não consigo nem me satisfazer…"

Se esse for seu caso, e se o desconforto que você sente depois de trair é maior que a angústia que sentia antes, talvez esteja na hora de procurar ajuda para entender o que gera esse desconforto interno e tentar aplacá-lo de outra forma. Talvez você seja uma pessoa que assuma comportamentos de risco para preencher um vazio ligado à depressão. Sim, muitas pessoas depressivas usam comportamentos não convencionais para sentir algum tipo de vibração que a depressão lhes tirou há muito tempo. Veja se você se identifica com essa possibilidade.

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Insegurança, baixa autoestima, necessidade de ser aceita ou seja, o fato de você mesma não se gostar muito, também são características que podem estar ligadas ao comportamento de trair: você busca a reafirmação da sua "cotação" no mercado amoroso através dos casos. Afinal de contas, só homens que te acham o máximo vão querer transar com você. Estranho não? Mas é assim que seu pensamento pode estar funcionando…

Muitas vezes a traição pode estar ligada simplesmente a uma curiosidade de conhecer outros homens pelo prazer de ter experiências diferentes! Afinal, ter um parceiro só faz parte de uma convenção da nossa sociedade e não é um comportamento natural para todas as pessoas. Nesses casos porém, a relação extraconjugal costuma ser prazerosa e no seu caso você afirma que não consegue se satisfazer.

Em outros casos, as pessoas acabam percebendo que o casamento, terminada a fase da paixão, exige muita paciência, muita discussão, muita concessão e sentem falta daqueles momentos iniciais da relação amorosa onde parecia que ambos queriam as mesmas coisas, nos mesmos momentos e tudo funcionava magicamente. E é claro que em encontros extraconjugais essa situação acaba, de algum modo, sendo resgatada. Mesmo porque sendo a situação proibida e tendo hora para começar e terminar, ninguém vai perder tempo brigando e discutindo a relação, não é?

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Enfim, muitas explicações podem ser levantadas para seu habito de trair.

Certamente entender ajuda bastante, mas no fundo a resolução do problema não é tão complexa assim. Resume-se mais ou menos ao seguinte: quem quer assumir comportamentos de risco tem todo o direito de fazê-lo desde que entenda e assuma as consequências. Afinal o livre-arbítrio existe desde que o bicho virou homem e consegue entender noções de causa-efeito. Assim, mesmo com centenas de explicações você só tem, na verdade, três alternativas: continuar traindo e aprender a lidar com a culpa, não trair mais e aguentar a angústia interna, ou, como dito anteriormente, tentar canalizar as ansiedades que geram seu impulso para outras atividades que possam aliviá-las. O resto é silêncio.