Tratamento naturopático para o diabetes

por Gilberto Coutinho

Diabetes ou diabete (do latim diabetes) é o nome dado a diversas doenças caracterizadas pela emissão abundante de urina (poliúria), acompanhada de uma sensação de sede intensa (polidipsia) e presença anormal de glicose ou açúcar na urina (glicosúria), relacionada com o aumento da taxa de açúcar no sangue (hiperglicemia).

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Tal afecção (doença) crônica, de natureza frequentemente familiar (hereditária) e que pode manifestar-se desde a infância, é causada por um distúrbio da utilização da glicose devido à deficiência de insulina (hormônio hipoglicemiante), secretada pelas células beta das ilhotas de Langerhans do pâncreas. Na ausência de tratamento adequado e regular, o diabetes pode complicar-se e ocasionar um quadro grave de acidose (distúrbio do equilíbrio acidobásico, com predominância de acidez), acompanhado de coma e diversas lesões degenerativas graves: acidentes vasculares (cerebrais ou cardíacos), afecção da retina (retinopatia), lesões renais e distúrbios neurológicos.

Talvez, o diabetes mellitus (ou melito) esteja associado à cultura e à dieta ocidentais, mais do que qualquer outra enfermidade, cuja incidência cresce atualmente. É a mais comum das doenças metabólicas graves que afetam o homem; pode também ocasionar problemas circulatórios, infecções devido à supressão da imunidade, cegueira, impotência sexual masculina, cãibras, úlceras no pé, infarto do miocárdio (alta taxa de óbito por doenças cardiovasculares), etc.

Diabete juvenil

Em geral, o diabete juvenil (conhecida também como diabetes do tipo I ou insulinodependente) é uma doença grave que se manifesta antes dos 17 anos de idade e reage apenas ao tratamento com injeções subcutâneas de insulina, em decorrência da destruição total do tecido pancreático (talvez por algum tipo de reação imune).

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O diabetes que se manifesta na fase adulta, ou da maturidade (do tipo II, ou insulino não dependente), responsável por cerca de 90% dos casos, ocorre por volta dos 30 a 40 anos. Uma parte funcional do tecido pancreático, nesse caso, é preservada, e o tratamento reage bem à terapêutica que envolve dietas que restrinjam o consumo de carboidratos altamente refinados, de gorduras e de produtos animais, e o uso de remédios que estimulam a produção de insulina. No tipo II, o pâncreas produz insulina, mas ela não atua bem porque as células são “resistentes” a esse hormônio.

Diabetes insípida é uma síndrome caracterizada pela emissão abundante de urina aquosa (de baixa densidade), sem a presença de açúcar na urina, acompanhada de sede intensa, relacionada a uma insuficiência de secreção do hormônio antidiurético (vasopressina), produzido pelo lobo posterior da glândula hipófise. Já o diabetes ocasionado pela obesidade é mais fácil de ser tratado, na maioria das vezes, mediante dietas restritivas, perda de peso e sem o emprego de insulina.

O acompanhamento do diabético envolve, além da dosagem clássica da quantidade de glicose no sangue (glicemia) e da detecção do açúcar na urina, a determinação da hemoglobina glicosada ou glicada. Esse exame permite evitar complicações graves que podem afetar o diabético descompensado e mal tratado. O valor normal da glicemia é de 0,90 a 1,10 g por litro; além destes limites, há hipo ou hiperglicemia. A terapêutica compreende dietas adaptadas a cada tipo de doente e medicamentos hipoglicemiantes (insulina ou hipoglicemiantes botânicos ou sintéticos).

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Evite alimentar os bebês com leite de vaca

Os bebês não devem ser alimentados com leite de vaca, principalmente se houver histórico de diabetes na família. O consumo de leite durante o primeiro ano de vida (período mais crítico) pode predispor aqueles geneticamente propensos ao diabetes do tipo I. Alguns especialistas acreditam que determinadas proteínas do leite de vaca atuem como antígenos (substâncias que, ao serem introduzidas no organismo, provocam a formação de anticorpos específicos capazes de neutralizá-las), fazendo com que as células de defesa do sistema imunológico ataquem o seu próprio tecido, incluindo as importantes células betas do pâncreas.

Questiona-se se, além da predisposição genética, o diabetes juvenil poderia ser desencadeado por algum tipo de “alergia alimentar” que ocasionasse uma reação imune a proteínas do leite, devido ao seu consumo prematuro.

O tratamento naturopático engloba:

– acompanhamento (inclusive endocrinológico) e monitorização (necessária, principalmente se o doente estiver sob uso de insulina ou apresentar diabetes não controlado);

– modificação do estilo de vida;

– dieta personalizada;

– remédios botânicos (hipoglicemiantes e antidiabéticos)

– suplementação de fibras, vitaminas e minerais (de ação protetora e antioxidante) e enzimas digestivas.

Esse tratamento associado à aplicação de Acupuntura Tradicional Chinesa e à prática regular de Yoga (60 minutos, três vezes por semana) muito pode beneficiar a saúde, atenuar os sintomas, reduzir a necessidade de insulina ou hipoglicemiantes orais, prevenir e combater complicações (efeitos danosos a longo prazo provocados pela doença) e melhorar a qualidade de vida do portador de diabetes; deve e pode ser administrado, inclusive, nos casos em que se requer o uso de insulina (insulinodependente).

Os antioxidantes naturais presentes nos alimentos, como o licopeno (tomate, melancia e damasco), a luteína (vegetais de folhas verde escuro, couve e espinafre), a glutationa (aspargo, abacate, melancia, toranja e laranja frescas, morango, pêssego, alho, cebola, pimentão, quiabo, abóbora, couve-flor, brócolis e tomate cru), o selênio (castanha-do-pará, grãos, frutos do mar, atum, peixe-espada, ostra cozida, cereais, aveia, castanhas em geral, sementes de girassol), o zinco e manganês (ostra, sementes, semente de abóbora, folhas, fígado de boi e carne escura do peru), as vitaminas C e E (frutas cítricas, folhas escuras e óleo vegetal), os flavonoides (suco integral de uva, extrato de sementes de uvas, azeite de oliva e chocolate amargo) e os carotenoides (pigmentos largamente encontrados no reino vegetal, frutas e vegetais de cor alaranjada) podem neutralizar os ataques dos radicais livres às células beta do pâncreas e também impedir a oxidação do colesterol LDL. Os antioxidantes são partículas capazes de inibir a ação dos radicais livres (moléculas que se formam principalmente do metabolismo do oxigênio e que podem oxidar, reagir e modificar a estrutura de proteínas, lipídeos e até mesmo do DNA e, quando em excesso, causar doenças degenerativas).

Os portadores de diabetes do tipo II são duas a três vezes mais suscetíveis às doenças coronarianas do que os não diabéticos.

O organismo do diabético gera radicais livres com mais facilidade (o que pode contribuir para o surgimento de outras doenças degenerativas), é mais ácido, frágil e intoxicado. O tratamento naturopático visa a reduzir a formação de radicais livres, a viscosidade sanguínea, as toxinas, a acidez e estabilizar a taxa de açúcar circulante no sangue. A monitoração e o controle regular do grau de hiperglicemia é indispensável na prevenção de complicações diabéticas importantes.

Dieta

A redução de laticínios e gorduras animais saturadas e o maior consumo de peixes gordos podem ajudar a prevenir e a combater o diabetes.

Todos os glúcides ou carboidratos simples, processados e concentrados devem ser evitados, os carboidratos complexos (encontrados nos vegetais) e os alimentos ricos em fibras devem ser reforçados, e as gorduras devem ser mantidas no mínimo, pois elas estimulam a resistência à insulina.

Legumes, cebola e alho crus, canela (melhora a atividade da insulina), cravo, açafrão-da-Índia (Curcuma longa, ação hipoglicemiante), louro, alimentos ricos em fibras, feijão, lentilha, pó das sementes de feno-grego (agente antidiabético), peixe, cevada, pão de cevada, repolho, alface, nabo, alfafa, sementes de coentro e alimentos ricos em cromo (brócolis) são recomendados.

A dieta deve ser rica em vegetais, cereais, legumes e hortaliças.

Deve-se evitar o consumo de açúcar simples, frituras e gorduras saturadas. O consumo de calorias consiste de 70 a 75% de carboidratos complexos (encontrados nos vegetais), 15 a 20% de proteína (incluindo a vegetal), apenas 5 a 10% de gorduras, e o conteúdo total de fibras é de 100 gramas ao dia. A redução do consumo de laticínios e gorduras saturadas (de origem animal) e o consumo regular de peixes gordos podem ajudar no combate do diabetes.

Experimentos realizados por cientistas do “Instituto Nacional de Nutrição” na Índia comprovaram que a administração do extrato seco das sementes de feno-grego em pacientes diabéticos do tipo I, em jejum, contribuiu para abaixar os níveis de açúcar no sangue, melhorar a tolerância à glicose e diminuir o colesterol no sangue. Deve-se também evitar: glicose, caqui, cenoura, flocos de milho, batata inglesa (e seu purê), maltose, mel (reduz o distúrbio de kapha e, por isso, é recomendado pela medicina Ayurveda apenas em pequena quantidade ao dia), pão integral, arroz branco, pão branco, biscoitos de água e sal, beterraba, banana, passas, trigo-sarraceno, espaguete (branco), milho em espiga, biscoitos de aveia, inhame, sucrose, batata frita, batata doce, laranja (e seu suco), manteiga, maçã (Golden), sorvete e leite integral.

Terapêutica

Suplementação: biotina (age com a insulina e auxilia na diminuição da glicemia); cromo (faz parte do complexo de fator de tolerância a glicose (GTF), que tem grande importância no metabolismo da glicose, pois age potencializando os efeitos da insulina); vitaminas B12 (cianocobalamina), B3 (niacina), C (muitas vezes deficiente devido ao aumento da excreção urinária e da oxidação) e E (pode reduzir as necessidades diárias de insulina); magnésio (comumente baixo nos diabéticos, age como cofator da glicose); manganês (geralmente baixo no diabetes, é um importante cofator na quebra da glicose e sua deficiência pode ocasionar intolerância à glicose); selênio (antioxidante); zinco (mineral que tem sua excreção aumentada nos diabéticos e seu deficit pode afetar o metabolismo dos carboidratos e dos lipídios); levedura de cerveja (rico em vitaminas do complexo B); ácido alfa-lipoico (benéfico na neuropatia diabética); acetilcarnitina (útil na neuropatia diabética); bioflavonoides (úteis na retinopatia e na microangiopatia diabéticas); ômega-3 (aumenta a sensibilidade à insulina); ômega-6 (potencializa o efeito da insulina, pode ser útil na microangiopatia, neuropatia e isquemia cardíaca); fibra (endosperma de C. tetragonolobus ou farelo de aveia melhoram a tolerância à glicose); sementes douradas de linho (ricas em ômega-3); e lactobacilos acidófilos.

Os diabéticos não devem fazer uso de cápsulas de óleo de peixe, exceto sob supervisão terapêutica. Em alguns casos, o óleo de peixe pode prejudicar o controle da glicose.

Remédios botânicos

Pterocarpus marsupium (há muito utilizado na Índia, auxilia na regeneração das células beta funcionais do pâncreas); Momordica charantia (melão-de-são-caetano; o extrato alcoólico de suas folhas e ramos demonstrou impedir a elevação do teor de açúcar no sangue); sementes desengorduradas de Trigonella foenum-graecum (Feno-grego); cogumelos reishi e shitake; Gymnema sylvestre (planta utilizada há 2000 anos como remédio no combate do diabetes pela medicina Ayurveda, apresenta a ação de inibir a absorção de açúcares ao nível intestinal); decocção das folhas de amora azul (Vaccinium myrtillus, mirtilo ou bilberry; importante fonte de bioflavonoides e vitaminas); Uncaria tomentosa (Unha-de-gato; anti-inflamatório e melhora as defesas imunológicas); cebola (Allium cepa) e alho (Allium sativum).