Mindfulness em psicoterapia tem objetivo de focar conscientemente pensamentos e sentimentos

por Edson Toledo

O termo mindfulness vem das tradições orientais espirituais e religiosas (como o zen budismo), mas a psicologia começou a reconhecer que, retirada do contexto espiritual e religioso, ela pode ser usada para aumentar o bem-estar físico e emocional.

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Embora muitas das ideias sugeridas sejam consistentes com filosofias e tradições orientais, os psicólogos não se concentram na parte religiosa ou espiritual do mindfulness, e acreditam que essa abordagem poderá ser útil seja qual for a sua preferência religiosa ou espiritual.

Podemos dizer que quando empregamos mindfulness na psicoterapia, em geral estamos especificamente focados na percepção consciente das experiências internas. Isto é, ajudamos nossos clientes a observar o surgimento e o desaparecimento de seus pensamentos e sentimentos sem se agarrar àqueles muito valorizados e sem tentar banir os dolorosos. Para nós, esse cultivo do mindfulness é terapêutico porque ajuda a promover a aceitação da experiência interna e diminuir a sua evitação.

Mindfulness é uma percepção não julgadora (ou compassiva), no presente momento, do que está acontecendo dentro de nós e ao nosso redor. Muitas vezes vivemos a nossa vida concentrados em outras coisas, não no que está acontecendo no momento – nos preocupando com o futuro, ruminando sobre o passado, pensando no que virá a seguir e não no que está diante de nós. É bom poder fazer uma série de coisas sem prestar atenção nelas. Podemos caminhar sem pensar sobre caminhar, o que permite que conversemos com a pessoa que está caminhando conosco sem ter de pensar: "Agora eu preciso levantar este pé". No entanto, essa capacidade de fazer as coisas automaticamente, sem percebê-las, também nos faz perder contato com o que está acontecendo bem diante de nós. Podemos criar hábitos (tais como evitar conflitos) que nem percebemos e que talvez não estejam de acordo com nossos objetivos maiores.

Muitas vezes, prestamos atenção ao que estamos pensando e sentindo, e criticamos muito os nossos pensamentos e sentimentos. Então, podemos tentar modificá-los ou nos distrair deles, porque a percepção julgadora, condenatória, pode ser muito dolorosa. Por exemplo, ao conversar com alguém que acabamos de conhecer, podemos perceber que a nossa voz falha, ou que não estamos falando claramente, e pensar: "Eu sou um idiota! O que há de errado comigo? Se eu não me acalmar, essa pessoa jamais gostará de mim!"

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Ter mindfulness se situa entre dois extremos. Prestamos atenção ao que está acontecendo dentro de nós e ao nosso redor, reconhecemos os eventos e experiências como realmente são, e deixamos que as coisas que não podemos controlar sejam como são, enquanto concentramos a nossa atenção no que estamos fazendo. Por exemplo, ao conversar com alguém que acabamos de conhecer, podemos perceber essas mesmas mudanças na nossa voz, mas paramos um momento para refletir: "É assim que é agora. Lá vem meus pensamentos de novo" e, suavemente, levamos a nossa atenção de volta para a pessoa e à nossa conversa. Essa segunda parte de mindfulness: soltar a necessidade de julgar criticamente e modificar a nossa experiência interna, é particularmente complicada. De fato, para ter mindfulness, muitas vezes precisamos praticar não condenar a nossa tendência de julgar!

Acreditamos que ter mindfulness é uma experiência pessoal capaz de trazer flexibilidade à nossa vida, e trabalharemos juntos para encontrar a melhor maneira de fazer isso.

Pontos relevantes sobre mindfulness:

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– Mindfulness é um processo. Não atingimos um estado final e total de mindfulness. É uma maneira de estar em um momento que vem e vai.

– Mindfulness é perder o nosso foco 100 vezes e voltar a ele 101 vezes.

– Mindfulness é um hábito. Exatamente como aprendemos a seguir no piloto automático ao praticar determinada coisa muitas vezes, podemos aprender mindfulness pela prática. Quanto mais praticamos, mais fácil será ter momentos de mindfulness.

– As atividades de mindfulness têm muitas formas diferentes. As pessoas realizam práticas formais de mindfulness como meditação, ioga e tai chi. Essas práticas podem levar horas ou até dias. As pessoas também podem ter mindfulness por um momento: prestar atenção à sua respiração em qualquer momento do dia e perceber a sua experiência. Todas as formas de prática de mindfulness são benéficas. No tratamento, nos concentramos principalmente numa prática diária mais breve, mas você poderá buscar outros modos mais formais de prática de mindfulness fora da terapia ou depois da terapia acabar.

– A mindfulness nos traz mais completamente para a nossa vida. Às vezes, especialmente no início do tratamento, podemos praticar mindfulness de uma maneira que pode parecer muito relaxante e distante dos estressores de nossa vida cotidiana, mas o objetivo fundamental é usar mindfulness para nos manter por inteiro na nossa vida e aumentar a nossa satisfação global e bem-estar.

– Mindfulness permite que façamos uma pausa e nos aprontemos para alguma coisa (por exemplo: concentrar-nos na nossa respiração antes de atender ao telefone) e nos permite viver mais completamente as coisas (por exemplo: estarmos presentes e concentrados no momento, quando estamos interagindo com alguém, em vez de ficarmos imaginando o que essa pessoa está pensando ou nos preocupando com o que virá a seguir.

Habilidades que podemos desenvolver com mindfulness:

Percepção

. Aprender a focar a nossa atenção, em vez de dirigi-la para vários lugares ao mesmo tempo.

. Perceber pensamentos, emoções e sensações corporais, assim como imagens, sons, cheiros e gostos.

Observação não julgadora

. Desenvolver um senso de compaixão em relação à própria experiência interna.

. Perceber os julgamentos constantes que fazemos sobre as nossas experiências.

– Recuar e perceber as experiências sem rotulá-las como "boas" ou "más".

Permanecer no momento

. Observar o aqui e agora, em vez de focar o passado e o futuro.

– Praticar a paciência no momento presente, em vez de se apressar para o que esteja por vir.

– Participar das experiências conforme elas acontecem.

Mente de principiante

– Observar as coisas como realmente são, em vez de deixar que o que "sabemos" ser verdade obscureça a nossa experiência.

– Abrir-se para novas possibilidades.

*Por tratar-se de um neologismo em inglês, optamos por manter o termo original mindfulness no lugar de "plena atenção", "atenção plena", "consciência plena", traduções frequentes que podem gerar confusões conceituais. Para saber mais sobre mindfulness consulte Roemer & Orsillo (2010)