Benefícios da musicoterapia na terceira idade

por Elisandra Vilella G. Sé

A musicoterapia é uma especialização científica que se ocupa do trabalho clínico e do estudo dos elementos do som e da música para fins educacionais e terapêuticos. A musicoterapia auxilia a abrir canais de comunicação para produzir efeitos terápicos com estímulos sonoros com o objetivo de treinar e recuperar o paciente.

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Do ponto de vista histórico, sabemos que a música tem a capacidade de transcender o tempo, a música vai além dos séculos e décadas, existe em diferentes culturas e gerações dando sentido aos movimentos, fatos vivências e épocas. A música também marca um tempo histórico, sóciocultural, permanece numa memória coletivae étnica. E as músicas das nossas vidas também fazem parte dessa construção.

Os efeitos benéficos da música e seus elementos na saúde física e mental foram descobertos há mais de dois mil anos atrás. O reconhecimento de que a música poderia estimular o corpo humano, influenciar no batimento cardíaco, no sistema imunológico, no sistema endócrino, nos órgãos dos sentidos, na resposta motora, comportamentos e emoções, levou seu uso para a prevenção e o tratamento de doenças físicas e mentais.

Mas a musicoterapia não se utiliza somente de música no processo de aplicação terapêutica, utiliza também o som num aspecto mais amplo em relação à sua concepção e movimento. Podem-se obter respostas motoras, sensitivas, orgânicas de comunicação através da música, da voz, do canto, de sons de instrumentos, dos gestos e dos sons do próprio corpo.

A musicoterapia na terceira idade se apresenta como uma terapia autoexpressiva de grande atuação em diferentes contextos e diversas enfermidades, tanto no aspecto preventivo social, como na reabilitação. A música atua como intermediadora na relação terapeuta-cliente, visando à melhoria da qualidade de vida, estimulando as ações físicas, sensório/perceptivas, psicológicas e sociais do indivíduo.

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Tendo o corpo como primeiro instrumento musical. A utilização da música e seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) pelo musicoterapeuta em um processo estruturado, ajuda promover a comunicação, o relacionamento, a aprendizagem, a mobilização, a expressão e a organização (física, emocional, mental, social e cognitiva) do índivíduo. Isso ajuda a desenvolver potenciais e/ou recuperar funções do indivíduo de forma que a pessoa possa alcançar melhor integração intra e interpessoal, bem-estar e melhor qualidade de vida.

As investigações sobre os efeitos biológicos do som e da música no ser humano mostram que:

a) Conforme o ritmo, aumenta ou diminui a energia muscular;

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b) Acelera a respiração ou altera sua regularidade;

c) Produz efeito marcado, porém variável na pulsação, na pressão sanguínea;

d) Diminui o impacto dos estímulos sensoriais de diferentes modos;

e) Reduz ou retarda a fadiga;

f) Aumenta a atividade voluntária (atividades que temos controle: psicomotoras);

g) Provoca mudanças nos traçados elétricos do organismo;

h) Provoca mudanças no metabolismo e na biossíntese de vários processos enzimáticos.

A respeito dos efeitos na música na estimulação cerebral, a musicoterapia é bastante útil para desenvolver a inteligência e para estimular funções cognitivas e na manutenção das capacidades de memória, percepção, atenção, concentração e linguagem.

Existem regiões no cérebro do ser humano compostas por células especializadas destinadas a memorizar somente sons com determinados ritmos, outras, são destinadas a memorizar diferentes timbres de som, ou então células que têm a função de armazenar somente a linha melódica de uma música e o conjunto desses grupos celulares, compõe a memória sonora.

O reconhecimento da música, portanto sua identificação, ou seja, sua percepção, constitui uma função cognitiva. O aprendizado da música ou de um instrumento musical ajuda no desenvolvimento cognitivo, sobretudo nos aspectos semânticos e nos sistemas de memória. A música se configura numa forma de linguagem e pensamento, na atividade musicoterapêutica a música auxilia a manutenção da memória, da concentração, facilita a percepção auditiva, a atenção, a repetição, estimula a memória imediata, a *memória implícita, o raciocínio abstrato, a imaginação e a criatividade.

Existem regiões no cérebro do ser humano compostas por células especializadas, destinadas a memorizar somente sons com determinados ritmos, outras, são destinadas a memorizar diferentes timbres de som, ou então, células que têm a função de armazenar somente a linha melódica de uma música e o conjunto desses grupos de células compõe a memória sonora.

A área cerebral responsável pelo reconhecimento da música que ouvimos é a região ou córtex temporal do hemisfério direito do cérebro, assim como a execução das melodias e da prosódica musical.

Melodia é a sucessão rítmica, ascendente (indo para o agudo) ou descendente de sons (indo para o grave), a intervalos diferentes (duas notas diferentes) que encerram o sentido musical, processada na região do lobo temporal e frontal. A prosódia é o compasso das palavras que se ajusta aos acordes musicais numa composição ou no canto. Também é função do córtex temporal direito executar a música cantando-a.

No hemisfério esquerdo estão os centros da linguagem, que nos possibilitam a compreender a música. O córtex temporal do hemisfério esquerdo é indispensável para a composição e escrita da música. A música e a linguagem atuam em conjunto, ambas transmitem mensagens por meio de um sistema de signos que possui suas regras gramaticais.

Música interfere no comportamento humano e nas emoções

A música seja ela de qual gênero for, é uma inseparável companheira dos sentimentos, e sendo a emoção uma das características mais marcantes da pessoa, sempre onde existir pessoas, haverá lugar para a música.

Outros estudos mostram que a música exerce grande influência sobre o comportamento e as emoções e têm grande influência em regiões do cérebro importantes para as emoções.

Com relação aos estudos sobre os efeitos da música nas emoções e no comportamento ela é utilizada para:

– melhorar o humor, o sono, a motivação, a autoconfiança;

– diminuir a ansiedade;

– combate a tensão e a fadiga e eliminar o estresse.

Isso porque a música é capaz de ativar no cérebro os mesmos centros de recompensa que uma comida saborosa, droga ou sexo e reduz as concentrações dos hormônios do estresse.

É importante lembrar que os estímulos musicais interferem de forma única em cada ser humano, embora a música seja uma linguagem universal.

* Memória ímplicita divide-se em duas: semântica: para vocabulários; declarativa para narrativas, relatos de experiências, episódios.

Benefícios da musicoterapia na terceira idade

por Elisandra Vilella G. Sé

As experiências, os estados de ânimo, as emoções, o nível de alerta, a ansiedade e o estresse modulam fortemente as memórias. As queixas de falhas de memória são comuns em pacientes idosos deprimidos.

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É muito comum a pessoa com depressão se queixar de dificuldades de atenção, de concentração e de memória para fatos e informações recentes.

Várias doenças causam alterações de memória, mas a depressão na velhice é a causa mais frequente e prevalente que prejudica os desempenhos de memória. *Perto de 10% da população adulta e 20% ou mais da população acima de 65 anos padecem de depressão clinicamente importante, e das falhas de memória que a acompanham.

Depressão: sinais

A depressão é uma doença séria que inclui desânimo e tristeza em grau maior do que as circunstâncias da vida do paciente justificam. A depressão abrange também outros sintomas (insônia matutina, ansiedade, falta de motivação, apatia, etc.). Em todos os casos deve ser tratada por psiquiatras. O tratamento cuidadoso da depressão com psicoterapia e medicamentos traz consigo a melhora da memória: não é oportuno nem útil tratar os distúrbios de memória isoladamente, já que sua reativação, na pessoa com depressão pode causar a recordação de más lembranças e aumentar as perspectivas de suicídio.

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Depressão em idoso é fator de risco para Alzheimer

A depressão em idosos tem sido considerada um fator de risco para o desenvolvimento posterior de demência do tipo Alzheimer. A depressão pode manifestar-se no início de uma demência e, quando juntas, essas enfermidades agravam ainda mais a capacidade funcional do paciente. A depressão pode conduzir a comprometimento cognitivo temporariamente, muitas vezes dificultando o diagnóstico diferencial entre esse quadro e a demência.

Um dos pontos que mais podem influenciar na vida e na memória dos idosos é o isolamento social, ou seja, a forma que alguns escolhem, consciente ou inconscientemente, para viver. É muito ruim para qualquer pessoa viver sozinho. As portas abrem-se para as alterações afetivas, como a depressão, contribuindo para um declínio cognitivo.

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As alterações de memória na depressão interferem na vida diária da pessoa idosa, dificultando o cuidar das finanças, cuidar da casa, organizar as refeições, os compromissos. Nos casos de depressão a pessoa percebe que há algo errado na sequência de seu pensamento ou na busca das palavras, no processamento das informações. Embora, o esquecimento também faça parte da memória, tem uma função adaptativa na nossa vida. Existem coisas na vida que seria melhor esquecer. Mas nem sempre o cérebro consegue esquecer determinados conteúdos. Na depressão, por vezes, torna-se difícil a pessoa ser capaz de esquecer o que não tem importância.

É aconselhável procurar ajuda, é necessário fazer uma avaliação cognitiva para investigar o grau de comprometimento e estabelecer o tratamento adequado. Um estilo de vida saudável pode garantir um cérebro saudável e diminuir a vulnerabilidade.

*Stoppe Junior (2007). In: Forlenza, O.V. "Psiquiatria Geriátrica".