Mindfulness: prática terapêutica de consciência no momento presente

por Elisa Kozasa

“… ao invés de considerar um evento imediatamente como insolúvel, ou muito sério, ou ainda de nos classificarmos como incapazes de enfrentá-lo, podemos primeiramente aceitá-lo como ele é e perceber que este evento também ocorre na vida de outras pessoas e que é possível superá-lo. Isto reduz a sensação de ansiedade em relação aos acontecimentos cotidianos e nos torna mais aptos para optar pelas melhores condutas”

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As práticas de mindfulness são aquelas que conduzem o indivíduo a uma consciência do momento presente, sem julgamento, de maneira não elaborada. Desse modo, cada pensamento, sentimento ou sensação que surgem no campo atencional são reconhecidos e aceitos da maneira como são. Não importa se o pensamento, sentimento ou sensação é bom ou ruim, agradável ou desagradável; o objetivo da prática é tomar consciência dessas percepções e aceitá-las da forma como aparecerem.

Elas se originam de antigas práticas do Oriente como algumas práticas meditativas budistas e hinduístas. Elas estão presentes no repertório de diversas tradições que envolvem, por exemplo, meditação ou práticas corporais centradas na atenção (como o yoga, o tai chi e o aikido), bem como em modalidades psicoterápicas ocidentais como a Mindfulness Based Cognitive Therapy; além de programas psicoeducacionais como o Mindfulness Based Stress Reduction.

Com o treinamento nestas práticas, ao invés de entrarmos no modo automático de aceitar o que é “bom” e rejeitar o que é “ruim” nossa atenção se direciona de modo imparcial para o que surge naquele momento presente. Desta maneira passamos a desenvolver aos poucos, uma visão mais plena do que acontece ao nosso redor. Nem tudo o que rejeitamos em um primeiro instante é realmente “ruim”, bem como nem tudo o que aceitamos instantaneamente é tão “bom”.

Não deixamos nos envolver de maneira automática ao que acontece em nossas vidas. Deixamos o piloto automático de lado e passamos a ser agentes mais conscientes de nossas vidas, “pilotando” e direcionando nossas ações de maneira mais produtiva. A vida deixa de ser um conjunto de reações instintivas para se tornar um conjunto de opções mais elaboradas e vívidas.

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Algumas repercussões do treinamento envolvem melhora da atenção e uma percepção mais real do impacto dos eventos na vida diária. Por exemplo, ao invés de considerar um evento imediatamente como insolúvel, ou muito sério, ou ainda de nos classificarmos como incapazes de enfrentá-lo, podemos primeiramente aceitá-lo como ele é e perceber que este evento também ocorre na vida de outras pessoas e que é possível superá-lo. Isto reduz a sensação de ansiedade em relação aos acontecimentos cotidianos e nos torna mais aptos para optar pelas melhores condutas. Daí a aplicabilidade dessas práticas no campo psicoterapêutico e psicoeducacional.

A mente se torna mais livre dos estímulos sensoriais e podemos ficar menos apegados aos acontecimentos. Percebemos também a mutabilidade da vida, pois a cada momento presente uma riqueza de novas percepções aflora.

Dicas de leitura:
Jon Kabat-Zinn. Full Catastrophe Living: Using the wisdom of your body and mind to face stress, pain and illness. Bantam Dell, New York, 1990.

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