Fair play: jogo limpo

por Renato Miranda

Campeonatos esportivos parecem estar cada vez mais disputados. Independentemente da modalidade, a percepção que se tem, é que tanto atletas profissionais como amadores estão cada vez mais envolvidos em eventos de alto potencial de tensão. Em muitos casos escutamos e assistimos que para vencer é preciso agir no limite aceitável do comportamento e das regras, e se for o caso, vale a pena romper (ou corromper!) limites.

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O esporte competitivo sem tensão não tem graça. O que não significa que essa mesma tensão tenha que ser exacerbada para que tenhamos mais emoção. Em outras palavras, a tensão está na ideia fundamental do jogo (esporte): diversão em ultrapassar desafios com ou sem adversários; na tentativa de ser melhor. Assim diz a tradição olímpica esportiva: Citius, Altius, Fortius – o mais rápido, o mais alto, o mais forte. Portanto, a expectativa em ultrapassar barreiras, limites, enfim, vencer é por si mesmo a matéria-prima da tensão.

O esporte competitivo é a tentativa de superação pessoal. A questão a ser discutida é o modo de encarar as tensões (pressões!) do esporte. E é nesse sentido que se pode determinar a compreensão de valores esportivos contidos no esporte, como respeito, honestidade, saúde e ordem. Sem estes valores vencer não tem graça.
Encarar a competição como algo a se vencer a qualquer custo faz com que a pressão natural do esporte se transforme em uma pressão exagerada que faz surgir um comportamento social e esportivo indesejável, como: desrespeito, violência, desonestidade e outros.

No entanto, ao encarar a competição como algo divertido, as pressões características de qualquer disputa são vivenciadas sem desconsiderar o envolvimento emocional e as tensões características, refletidas no comportamento dos atletas e torcedores, porém dentro de uma dinâmica que permite o bom relacionamento entre as pessoas.

Fair play: jogo limpo

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Para tanto, é fundamental entender o desempenho esportivo nas competições como algo a ser atingido por meio de vias legítimas ou daquilo que se convencionou chamar de fair play (em uma tradução livre “jogo limpo”).   
 
Em resumo, pode-se afirmar que na competição quanto mais presente o elemento competitivo, mais apaixonante será a disputa. E nesse sentido a tensão é o veículo que promove o interesse pela prática do esporte. Segundo o filósofo Johan Huizinga, a tensão é a própria magia do jogo, plena das duas qualidades mais nobres que o homem é capaz de perceber: o ritmo e a harmonia.

Portanto, a matéria-prima para uma ótima conduta na ambiente competitivo é o respeito a todos os “atores sociais”: colegas de equipe, adversários, árbitros, torcidas, técnicos, mídia e outros. As pessoas só conseguem usufruir dos benefícios do esporte quando o respeito é exercitado em todos os momentos.

Em tempos em que superar os outros “custe o que custar” parece ser o senso comum, prefiro instruir atletas e demais profissionais a desenvolverem sua empatia (em poucas palavras, capacidade de saber como o outro se sente) e seu altruísmo que facilmente resultarão no comportamento respeitoso. O atleta altruísta luta com todas as suas forças para vencer, mas não deixa jamais de seguir o caminho do “jogo limpo”.

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O que determina a vitória é sobremaneira o caminho que o atleta construiu. Ou seja, a qualidade de sua preparação física (força, velocidade, agilidade e outros), seu desenvolvimento técnico (habilidades para executar gestos esportivos), sua sofisticação tática e psicológica (condição mental para tomar decisões e habilidades emocionais).

Portanto, a manifestação esportiva em qualquer nível e a busca pela superação não está dissociada do comportamento disciplinado. Lembro-me das palavras de Alexseev, meu professor de psicologia do esporte quando estudei na Rússia: “O atleta precisa exercitar a nobreza, o atleta é um nobre.”.

Tudo isso pode ser considerado piegas ou mesmo um cenário utópico. No entanto, bons exemplos de “fair play” estão na memória do esporte e em várias modalidades esportivas como: Alain Mimoun e Ulrike Meyfart no atletismo, Roger Federer no tênis, Zico no futebol, Dara Torres na natação e outros.