por Arlete Gavranic
A maioria das pessoas idealiza uma sexualidade prazerosa, ou um romance sedutor, mas aproximadamente *40% dos casais apresentam algum tipo de dificuldade sexual.
Pequena parte das dificuldades sexuais é de origem física. A maioria dessas dificuldades é resultado de uma educação sexual repressora, distorcida; de emoções como medo ou culpa associados ao prazer corporal.
Além, é claro, de uma dificuldade de falar de si, de ouvir o outro, e de construir junto uma relação baseada em afeto e sensualidade.
É assim que muitos casais chegam em busca de terapia sexual. Muitos conhecem pouco do próprio corpo, conversam pouco, deixam de namorar, ousar e trocar carícias. Sem contar a troca de acusações mútuas.
É comum a resistência em buscar tratamento para tais dificuldades. Muitos temem assumir uma determinada dificuldade sexual. Para eles isso poderia denotar uma perda de poder ou ser a causa do problema.
Mas o maior problema não é ter a dificuldade, mas não ter uma atitude de busca que possa melhorar ou até resolver a situação.
Vejo nessa questão o motivo de muitos virem escondidos de seu parceiro em busca de terapia. É como se não pudessem assumir que precisam de ajuda, principalmente no âmbito sexual, embora isso também ocorra em casos de depressão.
Tirania
Alguns podem ser tiranos, menosprezam o parceiro(a) – às vezes publicamente -, desqualificam sua performance sexual, questionam seu empenho na terapia: acusando que está demorando para melhorar ou que ainda não está como o outro deseja.
Alguns vivem “relembrando” o parceiro(a) de seus defeitos ou manias para ele(a) levar para a terapia. É como se nessa relação houvesse uma disputa de poder, um precisando sentir-se melhor que o outro. E fazem isso demonstrando sua descrença na melhora do outro.
Há também aqueles que não se mobilizam a ajudar, nem mesmo a perguntar ou a se propor a participar, ficam à espera de que o outro melhore, sem investir em estar junto.
Muitas dessas atitudes demonstram uma co-dependência do casal, onde a “dificuldade” do outro alimenta um vínculo que mantém a relação, mesmo que desconfortavelmente.
Na sexualidade é comum encontrarmos parcerias com receio da melhora sexual da outra parte. É como se emocionalmente sentissem que enquanto o outro não tem confiança sexual, não irá abandonar a relação, e por isso, muitas vezes se desinteressam ou desqualificam o processo do outro.
O processo de terapia também ajuda a repensar e a romper uma mania idealizada e alimentada socialmente: temos que ser fortes e não podemos falhar. Outro erro é achar que sexualidade não precisa de aprendizagem, tem de saber! Esse mito causa angústia, insatisfação e muita frustração. Até os super-heróis têm suas fragilidades e isso não tira deles seu poder.
Casais unidos no desejo de viver bem atingem o sucesso mais facilmente nos tratamentos relativos à sexualidade. Isso porque ambos se comprometem no tratamento, seja qual for a disfunção sexual do parceiro. O problema não é fonte de acusações ou desvalorização, do outro, mas sim do casal.
Mas nem sempre é assim. Muitos apesar de se gostarem não têm toda essa sintonia. Mas se o afeto e o desejo de continuarem juntos é presente nos dois, essa sintonia pode ser estimulada através da conscientização do papel de ser parceiro(a). Ou seja, de que uma relação necessita de troca, afeto, sensualidade e comprometimento. É necessário ter atitudes construtivas no caminho de superar dificuldade de qualquer ordem, inclusive a sexual.
Na solução do problema reside a melhoria de vida do casal, da autoestima e autoconfiança.
*Essa é uma estimativa de Carmita Abdo: médica, professora de psiquiatria e coordenadora geral do ProSex, Projeto de Sexualidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Outras fontes que trabalham com esse índice: Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, Sociedade Brasileira de Urologia e Instituto Brasileiro de Sexologia e Medicina Psicossomática.