por Regina Wielenska
"Não consigo ficar parada, não dá para meditar, mesmo se me pagassem um milhão."
"Meditar é coisa de gente mística."
"Não meditaria porque isso é coisa de uma religião diferente da minha".
"Não tenho tempo pra isso".
"Não tenho dinheiro pra contratar um instrutor de meditação."
Essas frases a gente ouve a torto e direito quando aventamos com amigos ou clientes a questão da meditação. Elas revelam uma série de equívocos, preconceitos e desinformação.
De fato, na sua origem histórica, que nos remete a muitos séculos passados, centros budistas e de ioga desenvolveram formas de meditação, para iniciados e novatos. Mas isso foi mudando basicamente a partir de 1970, quando pesquisadores de medicina e Psicologia, especialmente dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido, começaram a investigar, sob o prisma e metodologia das ciências da saúde, quais contribuições objetivas a meditação de atenção plena (Mindfulness, no original) traria para indivíduos e sociedade. Com o tempo, puderam desenvolver um programa de oito semanas que pudesse ser aplicado e avaliado sistematicamente em populações de indivíduos com depressão (leve ou moderada, não psicótica), formas de ansiedade, hipertensão artéria e outras condições.
Foi atestado que certas práticas regulares são capazes de modificar a saúde para melhor, mudar a relação dos indivíduos com seus sentimentos e pensamentos, produzir serenidade em meio ao estresse, entre outros efeitos. Tudo isso foi realizado sem vínculo com qualquer grupo religioso e participaram dos estudos pessoas de grupos distintos e condições variadas de vida, devidamente mensuradas.
Meditar é se dispor a passar um tempo, entre um minuto até uma hora ou mais, com foco deliberadamente incidindo no aqui e agora (algumas práticas sugerem focar na respiração, outras num mantra, som, música ou no corpo, por exemplo), sem julgamento, num estado de atenção e sem fugir das sensações que aparecerem. O comportamento crítico é constatar o surgimento de qualquer pensamento, sensação física ou emoção, sem precisar fazer nada a respeito e voltar gentilmente, logo a seguir, para o ponto focal. Isso deve se repetir infinitas vezes, tantos quanto forem os eventos disruptivos. Costumo dizer que nossa mente vira um bumerangue durante a meditação, vai e volta, sempre que preciso, sem tumulto, sem críticas ou expectativas de que aquilo tudo será bom, ruim, benéfico, difícil ou fácil, relaxante ou tenso.
Um minuto ao dia? Quem não tem alguns sobrando de manhã, tarde ou noite? De grão em grão a galinha enche o papo. Pra que instrutor, ou pagar um instituto? Comece por iniciativa pessoal e no futuro, se achar necessário, procure um especialista. Local quieto, posição sentada? Isso convém, é recomendável, mas o banco do carro na garagem também serve pra quem tem firmes propósitos. De pé no chuveiro, ao despertar, lavando louça, dando banho no cachorro, cortando cenouras, saboreando o sorvete de casquinha, experimente focar sua atenção naquilo que você está a fazer bem naquela hora e sorria para as muitas ideias que aflorarem em sua mente, retornando para o que se estava fazendo meditativamente até um segundo antes.
Sugiro, a título de ajuda, vocês lerem o livro 'Atenção Plena – Mindfulness' de Danny Penmam e Mark Williams, publicado em português pela Editora Sextante e verem o vídeo Mindfulness in a Moment no Youtube, no canal de Richard Boroson, tem versão legendada também. O aplicativo Buddhify, para celulares com diferentes sistemas operacionais, é um entre outros recursos bacanas para auxiliarem o indivíduo na linda jornada de meditação de atenção plena. Torço que vocês tenham se motivado a experimentar. E lembrem-se de que nosso cérebro se desenvolveu para pensar, então seja gentil com tudo que surgir, e vá em frente.