por Karina Simões
Atualmente, fala-se muito nas redes sociais sobre a sinceridade. Chuva de posts borbulha nas mídias em tempos de crise política nacional.
A questão é que se a sinceridade for ministrada em dose única, ela poderá não ter o efeito colateral desejado; porém, se for empregada em megadoses, seus efeitos são devastadores causando uma série de transtornos, muitas vezes, tanto para quem expressa quanto para o interlocutor. Em tudo na vida, o bom senso deve ser a terapêutica utilizada.
Deve-se considerar uma série de fatores a serem utilizados quando se deseja fazer uso da sinceridade de forma mais massiva.
Toda cautela deve ser empregada quando do uso da sinceridade. Essa deve ser revestida de elementos variados de habilidades sociais que incluem: observar o local de exposição dessa "verdade"; a hora; quem está ao redor; averiguar se a outra pessoa está num momento psicológico favorável para ouvir e aceitar aquela declaração, o tom de voz, a escolha das palavras adequadas etc.
Tudo isso se faz necessário ponderar a fim de que a relação interpessoal não venha a sofrer descontinuidade, mas sim que essa revelação venha contribuir para que a amizade seja pautada em laço de afetividade e que, portanto, o clima de confiança se instale ou mesmo se alargue. Aí entra o clichê: quem gosta ou está preparado para ouvir a verdade?
Sim: pois a sinceridade parece ser irmã gêmea da verdade. Nesse processo de ponderação, entre a ocultação de uma realidade que urge não ser dita e a revelação súbita sem qualquer avaliação esmerada de todo o contexto que a permeia, a verdade grita pela necessidade de se fazer refletir e analisar cuidadosamente antes de aquela fala ser expressa. Pois, como diz o provérbio chinês: "Há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida". Em qualquer dessas três, os efeitos deletérios são incomensuráveis. Por essa razão, ficamos com a verdade do filósofo Confúcio: "Não sei como pode ser bom um homem a quem falta sinceridade".