por Jocelem Salgado
Com certeza vocês já ouviram dizer de um óleo vegetal milagroso que previne doenças cardiovasculares, doença do cérebro, ótimo para o cabelo, para a higiene e ainda ajuda a emagrecer. Caso você tenha pensado no óleo de coco, acertou, mas também errou, já que nenhum desses benefícios é verdadeiro ou tem comprovação cientifica.
Vamos comentar um pouco mais sobre o óleo de coco e o emagrecimento.
Quanto o assunto é emagrecimento, o que não faltam são as famosas dicas de “perca muitos quilos em poucos dias”, como o que está sendo espalhado por vários meios de comunicação sobre os efeitos benéficos do consumo do óleo de coco.
Modismos
Os modismos que envolvem esse assunto são vários, o que é muito preocupante. Sim, com certeza você já ouviu alguém falar que começou a usar óleo de coco para emagrecer ou já leu em algum lugar o quanto esse óleo é eficiente para inúmeras outras doenças. Infelizmente, a moda do óleo de coco fez com que muitas pessoas começassem a consumi-lo de maneira exagerada e é aí que mora o perigo.
O coqueiro é uma planta que possui inúmeras funcionalidades, uma vez que dele, podem ser extraídos diversos produtos. Há muito tempo já se sabe que o coco é um alimento altamente nutritivo. Ele é rico em potássio, sódio, cálcio, magnésio e também em fósforo. Sua água constitui uma bebida rica em diferentes vitaminas do complexo B, açúcares e vitamina C.
Quanto ao óleo de coco, em sua composição prevalecem os ácidos graxos de cadeia média, constituindo cera de 70-80% de sua composição. Esse óleo é rico também em ácidos graxos saturados, como por exemplo, caproico (0,38%), caprílico (5,56%), láurico (45,78%), mirístico (18,56%), palmítico (8,85%) e esteárico (3,39). Essa composição de ácidos graxos faz com que o óleo de coco seja amplamente utilizado no preparo de gorduras para confeitaria, margarinas, sorvetes e manteiga de cacau, uma vez que apresentam características desejáveis como temperatura de fusão baixa e bem definida.
Benefícios divulgados erroneamente
É baseada nessa composição de ácidos graxos que inúmeras pessoas vêm divulgando, erroneamente, que o óleo de coco traz inúmeros benefícios, tais como: ação antimicrobiana, antifúngica e antiviral, combate inúmeros micro-organismos patogênicos, efeito *termogênico atuando como um aliado na perda de gordura corporal, perda de peso e redução de medidas, auxilia no controle do colesterol, aumenta o HDL e diminui o LDL, aumenta a absorção de vitaminas lipossolúveis, controle dos níveis de glicose e insulina e inibição do crescimento de tumores.
Como vocês podem observar, benefícios atribuídos aos ácidos graxos do óleo de coco não faltam. Mas, até que ponto isso tudo é verdade? Então vamos lá…
É claro que consumir gorduras é extremamente importante e necessário para o bom funcionamento do nosso organismo. Devemos consumir cerca de 35% dessas na nossa alimentação, isso porque, elas são extremamente importantes para o armazenamento de energia, absorção de vitaminas **lipossolúveis (A, D e K), regulação do nosso sistema imune e regeneração de processos celulares. No entanto, o que deve ficar MUITO claro é que esses 35% devem ser constituídos de gorduras boas. Ou seja, as gorduras que são provenientes de peixes, óleos vegetais, frutas e castanhas, sendo essas gorduras insaturadas. Quanto às gorduras saturadas, presentes em alimentos de origem animal, devem constituir apenas 10% desse total de gorduras, devendo ser consumidas com moderação, uma vez que seu aumento pode estar diretamente relacionado ao aumento do risco de doenças cardiovasculares.
Como foi relatado anteriormente, o óleo de coco é quase totalmente constituído por ácidos graxos saturados, esses é que devem ser consumidos com moderação. O problema é que com todo esse modismo, as pessoas passaram a consumir óleo de coco de maneira exacerbada, colocando inclusive no tradicional cafezinho.
Estudos já comprovam que o consumo do óleo de coco aumentou o colesterol total, e principalmente o LDL, o que aumenta significativamente o risco de doenças cardiovasculares.
Quanto à sua atividade contra bactérias, vírus e fungos, não há estudos clínicos que comprovem seu efeito. Os poucos estudos que existem são in vitro e os resultados ainda são contraditórios. Para a função cerebral, a história é a mesma, não existem estudos que comprovem esses benefícios contra doenças neurodegenerativas.
Controle de peso X óleo de coco
Para o controle do peso, o principal apelo do óleo de coco, alguns estudos em humanos foram realizados. De acordo com esses trabalhos, populações que consumiam mais cocos possuíam peso maior quando comparado aos que não consumiam ou consumiram de forma moderada. Não foram encontradas evidências sobre a redução do apetite ou ingestão alimentar. Na literatura existem alguns estudos com resultados de redução da cintura em mulheres e homens que consumiram 30 ml de óleo de coco.
No entanto, esses estudos são contraditórios, não há evidências concretas para afirmar e recomendar o uso desse óleo para a finalidade de emagrecimento.
Diante de todos esses fatos, a Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) se posicionaram contra a utilização do óleo de coco para os fins relatados.
Ainda de acordo com esses órgãos, o óleo de coco não deve ser prescrito na prevenção ou no tratamento da obesidade; não deve ser prescrito na prevenção ou no tratamento de doenças neurodegenerativas; não deve ser prescrito como nutriente antimicrobiano e não deve ser prescrito como ***imunomodulador.
Como pode-se observar, não existe suporte científico para assegurar que o uso do óleo de coco traga qualquer benefício à saúde. Sendo assim, esse óleo não deve, de forma alguma, substituir outros óleos e gorduras. E a quantidade e o tipo de óleo que devem ser consumidos precisam ser ajustados de forma individual.
Diante de tudo, mais uma vez, ressalto a importância de se pesquisar e procurar profissionais idôneos para orientar quanto ao que pode ou não ser consumido e como isso deve ocorrer. Não se deixe levar por modismos, o óleo de coco é a prova de que isso pode ser muito arriscado.
* Termogêncios: “queimadores de gordura” – são substâncias, na maioria alimentos, que ajudam o corpo a consumir energia de forma mais rápida acelerando o metabolismo
** Lipossolúveis: substâncias que são solúveis em gorduras
*** Imunomoduladores: substâncias que atuam no sistema imunológico conferindo aumento da resposta orgânica contra determinados micro-organismos