por Antônio Carlos Amador
O que é o fanatismo? Num sentido estrito podemos dizer que consiste num zelo, apego ou devoção excessiva e com frequência irracional a uma causa ou conjunto de crenças. Caracteriza-se por uma preocupação apaixonada por ideias, opiniões ou crenças que são defendidas com tenacidade, inflexibilidade extremas e, às vezes, exaltação.
Embora todos os fanáticos se caracterizem por ter uma ideia supervalorizada no que diz respeito a alguma questão particular, e uma personalidade ativa e expansiva, eles se manifestam de diferentes formas.
Há os que lutam incansavelmente por algo que consideram como um direito pessoal, que pode ter fundamento na realidade ou não, a partir de uma situação que consideram injusta. São pessoas cujo objetivo vital está focado de forma quase exclusiva em conseguir que se lhes faça justiça por essa causa, desatendendo o resto de seus interesses e obrigações, apesar da pouca importância objetiva do que desejam obter. São os chamados querelantes, propensos continuamente a embarcar em pleitos e reinvindicações sem fim, mesmo quando são alertados de que não têm quaisquer possibilidades de vencê-los.
Os idealistas, quando são fanáticos, lutam decididamente a favor de um ideal que professam, sem compreender nem aceitar que possa haver pessoas que não compartilham seus pontos de vista. De modo geral tentam impor sua ideologia aos demais, pois acreditam que posteriormente eles ficarão imensamente agradecidos, uma vez que estão firmemente convencidos que seu ideal é o único que vale a pena. O ideal pode referir-se ao terreno político, econômico, social, religioso etc.
Por último, os pacíficos seriam aqueles fanáticos que não demonstram aparentemente seu fanatismo, mostrando-se silenciosos, ou então excêntricos, mas em geral muito pouco combativos. São pessoas imersas em sua fantasia, alheadas da realidade da vida, vivendo uma ficção em franca ruptura com o ambiente que lhes rodeia, mas sem aceitar qualquer tipo de argumento que que se lhes ofereça e que seja contrário às suas posições. Esse seria, por exemplo, o caso de algumas pessoas que integram determinadas seitas religiosas de matiz um tanto extravagante, no sentido de que quase não guardam relação com as posições que mantinham anteriormente.
Num sentido lato, mais amplo, o termo fanatismo também pode ser usado metaforicamente, para designar alguém que tem dedicação, admiração ou amor exaltado a alguém ou algo.
É o que ilustram os versos de Florbela Espanca, a grande mulher da poesia portuguesa, em Fanatismo:
"Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver.
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No mist'rioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!…
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa…"
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…"