Por Danilo Baltieri
Depoimento de um leitora
“Descobri agora que as minhas dores de cabeça crônicas se devem ao uso de triptanos, tomava quase todos os dias por ter dor de cabeça. Decidi que isto não pode ser mais forte que eu e quero deixar de tomar de uma vez por todas. Mas apesar de achar que vou conseguir fazer isso quero ter uma ideia dos sintomas e do tempo que demora até me sentir melhor para me mentalizar.”
Resposta: Os triptanos, tais como sumatriptana, naratriptana, eletriptana, zolmitriptana etc têm sido amplamente utilizados para o tratamento de alguns tipos de cefaleias, especialmente da chamada enxaqueca aguda (crises de enxaqueca).
A enxaqueca aguda de fato afeta cerca de 11 a 15% da população caucasiana, e o consumo imoderado ou mesmo exagerado de medicações para o manejo dessa dor, como é o caso do uso dos triptanos, tem sido reportado e verificado por vários estudos ao redor do mundo.
O que ocorre é que o uso exagerado ou mesmo desnecessário dessas medicações pode, por si mesmo, “induzir” um tipo de cefaleia crônica. Na verdade, os termos “cefaleia diária secundária ao uso excessivo de medicações,” “cefaleia rebote devido ao uso crônico de medicações para o tratamento da enxaqueca” têm sido mencionados comumente na literatura especializada. Mas, de qualquer forma, este quadro de enxaqueca secundária ao uso exagerado de triptanos apenas surge depois do portador de um quadro de enxaqueca genuíno fazer uso destas medicações prescritas.
Alguns critérios têm sido utilizados para caracterizar este quadro de cefaleia crônica secundária ao uso de medicações, tais como:
a) cefaleia presente por pelo menos 15 dias por mês;
b) uso regular de uma ou mais medicações para o tratamento da enxaqueca (uso regular pode ser definido como o consumo destas medicações por 10 ou mais dias por mês durante, pelo menos, 3 meses);
c) piora da cefaleia após o consumo imoderado ou inadequado das medicações;
d) retorno ao padrão clínico anterior ao uso destas medicações após dois meses de interrupção do consumo.
É importante notar aqui que existem vários tipos de cefaleia e de enxaqueca e que a enxaqueca crônica secundária ao uso exagerado de medicações (no caso desta pergunta, dos triptanos) é apenas um destes tipos. De fato, associações médicas internacionais reconhecem mais de 300 tipos de cefaleias, classificando-as em primárias ou secundárias. As primárias são, em si mesmas, doenças; já as cefaleias secundárias são relacionadas a algum outro problema que as gera, como, por exemplo, o consumo de algumas medicações.
O que é enxaqueca?
O termo enxaqueca tem sido caracterizado por crises de dor de cabeça (cefaleia) de moderada a alta intensidade, combinadas com náuseas ou vômitos, vertigem, hipersensibilidade à luz e ao som. Tais crises, comumente, pioram com as atividades rotineiras e duram, em média, de 4 a 72 horas. Alguns portadores se queixam das chamadas “auras,” ou seja, um conjunto de sintomas que geralmente aparecem pouco tempo antes das instalação da dor propriamente dita. A aura mais comum é a dita visual, sendo caracterizada por flashes de luz, falhas no campo visual, imagens brilhantes pulsáteis, dentre outros aspectos.
Entre os portadores de enxaqueca secundária ao uso de medicações, a conduta é a retirada do fator causal (ou seja, das medicações). O objetivo não é somente a interrupção dos triptanos (ou outras medicações causadoras), mas sobretudo, aumentar a capacidade do portador para responder a outras formas de tratamento e manejo médico.
A descontinuação das medicações associadas ao quadro de dor pode provocar alguns sintomas bastante desagradáveis, tais como:
a) piora do quadro de dor;
b) taquicardia;
c) alteração da pressão arterial;
d) náuseas e vômitos;
e) perturbação do sono;
f) ansiedade e inquietação psicomotora.
Nesta difícil fase de retirada dos triptanos, que varia de 4 a 8 semanas, as recomendações farmacológicas para aliviar os sintomas têm sido bastante diferentes, de acordo com distintos serviços médicos e pesquisas clínicas. Medicações têm variado desde anti-inflamatórios comuns até a prescrição de corticoides.
Você deve estar sendo acompanhada por médico neurologista. Converse com ele sobre as possibilidades de manejo terapêutico durante esta fase de retirada, bem como sobre os planejamentos terapêuticos para a continuidade do tratamento da sua enxaqueca depois da retirada destas medicações. Siga as recomendações do seu especialista. Boa sorte!
Abaixo, forneço interessante recomendação para leitura:
Negro A, Martelletti P (2011). Chronic migraine plus medication overuse headache: Two entities or not ? J Headache Pain, 12: 593-601.
Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.