Anorexia em meninas: cada vez mais precoce

por Dr. Joel Rennó Jr.

A procura excessiva pela magreza em meninas adolescentes, pode ser uma doença séria e até com risco de morte. Na atualidade há inclusive sites que estimulam tais pensamentos, sentimentos e comportamentos autodestrutivos. Isso deve representar um alerta sério aos pais. O pior é que cada vez mais têm sido detectados casos precoces de meninas anoréxicas, com idades variando entre 6 e 10 anos. Vivemos em uma sociedade com várias distorções de valores onde o ideal de beleza torna-se o magérrimo. Os pais precisam ficar atentos aos seus próprios valores e comportamentos, prestando atenção ao que passam para os seus filhos, perante um mundo permeado por superficialidades e materialismos.

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Anorexia nervosa envolve uma perda de peso severa e proposital, com um medo intenso de se tornar obeso, chegando a ter idéias repetitivas, que deixam a pessoa em pânico. A distorção da imagem corporal, ou seja, o modo alterado como a pessoa se vê perante o espelho está presente, fazendo com que a paciente se sinta muito gorda no todo ou em partes do seu corpo, quando na verdade pode estar definhando. Importante frisarmos que a amenorréia (ausência de menstruação) deve também estar presente por três meses consecutivos. Nas crianças, porém, pode não haver perda de peso acentuada e sim falta de ganho de peso durante o processo de crescimento. Começam também a evitar locais públicos como lanchonetes ou festinhas e até mesmo buscam movimentos intensos em tarefas domésticas para não ganhar peso.

Geralmente, pressões de cunho social e cultural podem ajudar no surgimento da doença. Gradativamente, a dieta vai aumentando, com a manutenção de idéias distorcidas a respeito de seu próprio corpo. Essas idéias podem se tornar verdadeiras "neuras"ou tecnicamente obsessões nas cabeças das adolescentes. Há casos de pessoas que se pesam mais de 30 vezes ao dia.

Temos dois tipos de anorexia: uma que denominamos de restritiva, ou seja, a pessoa começa a radicalizar e cortar praticamente todos os tipos de alimentos calóricos e outra que denominamos de bulímica, onde ela busca o emagrecimento através de vômitos provocados, uso e abuso de laxativos e diuréticos, que podem acorrer após uma ingestão compulsiva e feroz de grandes quantidades de alimentos.

Peso muito baixo pode gerar várias doenças como anemias, alterações de sais e água no organismo e infecções. A pele se torna seca, as unhas quebradiças e a perda de cabelos podem ocorrer. A falta de potássio pode levar a arritmias cardíacas e até convulsões podem acontecer.

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A anorexia nervosa é mais frequente em mulheres (9 mulheres afetadas para cada homem) e a idade de risco é principalmente entre os 13 e 20 anos (85% dos casos), predominando em pessoas com um elevado status sócio-econômico. Porém, conforme o exposto acima, tem sofrido antecipação.

O modelo causal adotado é o interativo, ou seja, há causas orgânicas, como por exemplo, alterações de substâncias químicas cerebrais (serotonina, noradrenalina), causas sociais, relacionadas à valorização excessiva de certos padrões estéticos pela mídia e as causas psicológicas, onde a adolescente apresenta conflitos para assumir mudanças em sua vida, tem desejo intenso de manter um corpo escultural ou o estresse é aliviado através de comportamentos de "binge" – compulsão alimentar – , seguidos de vômitos.

Tratamento

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Quanto ao tratamento esse é extremamente difícil e deve ser iniciado precocemente, pois o transtorno é egossintônico, ou seja, a paciente não vê nada de anormal no seu comportamento alimentar. A recuperação do peso e do aspecto nutricional devem ser as prioridades, objetivando recuperar o Indice de Massa Corpórea (IMC) que é a relação entre o peso e a altura ao quadrado. Abordagens psicoterápicas individuais, em grupo e familiares, são importantes no tratamento. Quando a gravidade é considerável (acentuada perda de peso, complicações clínicas importantes, depressão suicida) deve-se optar pela internação. A psicoterapia mais utilizada nesses tratamentos é a cognitivo-comportamental (que tenta corrigir distorções de pensamento e comportamentos alterados).

Além dos aspectos nutricionais, psicológicos e educacionais, a medicação antidepressiva auxilia bastante na melhora. Entre as estudadas, temos os inibidores seletivos da recaptura de serotonina (que aumentam a serotonina no cérebro) e os de duplo mecanismo de ação (serotonina e noradrenalina). Nas crianças, tais medicamentos devem ser prescritos, cuidadosamente, apenas por especialistas (psiquiatras infantis) gabaritados.

Mais informações sobre o tema podem ser obtidas no Ambulim- Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Acessem ao site www.ambulim.org.br