Faça uma viagem relaxante pelas maravilhas da Índia – Parte II

Gilberto Coutinho especial para o Vya Estelar

Templo de* Lótus (Bahai) dedicado à paz em New Delhi – capital da Índia Na primeira parte desta entrevista exclusiva ao Vya Estelar, – clique aqui e leia – o terapeuta naturopata Gilberto Coutinho, falou de suas experiências e impressões sobre a medicina ayurveda e o yoga praticados na Índia.

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Na segunda parte desta entrevista, Gilberto nos conta onde esteve e as suas impressões sobre a cultura daquele país.

Vya Estelar – Qual foi a sua sensação ao chegar à Índia?

Gilberto Coutinho – Após muitas horas de vôo (cerca de 18 horas), numa viagem que transcorreu bem, o grupo do qual eu fazia parte estava bastante ansioso e feliz. Finalmente, iríamos aterrissar em solo indiano; para a maioria, era a primeira visita a esse país fascinante. Era noite e, da janela do avião, pude observar o grande arquipélago que constitui a cidade de Mumbai todo iluminado. Era uma visão impressionante e eu não queria perder nenhum detalhe. Já passava da meia-noite, quando aterrissamos no Aeroporto Internacioal de Mumbai (Índia). Ainda dentro do avião, pude sentir o cheiro de poluição que vinha lá de fora, o que me chamou muito a atenção.

Vya Estelar – Como é a cidade de Mumbai?

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Gilberto Coutinho – Capital do Estado de Maharashtra, é a maior cidade da Índia, com uma população atual estimada em 14 milhões de habitantes. Mumbai é um importante centro comercial, industrial e de entretenimento e abriga importantes instituições financeiras. Ao circular de carro por ela, observei um trânsito intenso, agitado e barulhento (geralmente, atrás dos auto rickshaws, veículos motorizados de três rodas muito comuns na Índia, e dos automóveis é comum ler-se: **“Por favor, buzine.”), recentes e grandes construções (viadutos, edifícios, revitalização de avenidas etc.); tive a impressão de que a cidade passa por grandes transformações e desenvolvimento. É nessa metrópole que se encontra Bollywood, a indústria de cinema e televisão.

A cidade possui um porto e um dos maiores do Mar Arábico, por onde trafega um número elevado de passageiros e cargas. Aí, o custo e o padrão de vida são elevados. Originalmente um arquipélago composto de sete ilhas, Mumbai, após 1817, foi totalmente reformulada e, graças a grandes projetos de engenharia civil, todas as ilhas foram unificadas, transformadas em um único terreno. Em 1995, o governo local rejeitou a versão do nome da cidade “Bombay”, que os ingleses haviam dado, e passou a chamá-la como era antes conhecida: Mumbai.

Vya Estelar – Qual foi o roteiro de sua viagem pela Índia?

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Gilberto Coutinho – Mumbai é uma das principais portas de entrada e de saída da Índia. Durante a minha viagem, estive algumas vezes nessa cidade. Kozhikode, também conhecida como Calicut, com cerca de 933 mil habitantes, situa-se na costa ocidental da Índia, no Estado de Kêrala – Sul da Índia. Em Kozhikode, uma vam esperava para nos levar até Kannur (ou Cannanore), onde permanecemos durante todo o mês de janeiro estudando Medicina Ayurveda na “School of Ayurveda & Panchakarma”, acoplada ao “Mascot Beach Resort”, localizado de frente para o belo Mar Arábico, onde, às tardes, eu observava o mar e o pôr de um grande e belo sol vermelho-dourado. No início de fevereiro deste ano, com o término do curso, viajei para o belo Estado de Tamil Nadu, onde conheci vários templos e cidades, dentre as quais:

Templos

(1) Chennai (antigamente conhecida como Madras, capital e a maior do Estado de Tamil Nadu; é um centro industrial, comercial e portuário na Baía de Bengala; na época da colonização inglesa, era considerada a mais importante da Índia, por ter sido a sede da “Companhia Inglesa das Índias Orientais”.);

(2) Madurai (muito antiga, com belos templos, segunda maior do Estado de Tamil Nadu, localizada no Sul do país, nas margens do rio Vaigai);

(3) Rameswaram (considerada pelos Hindus um dos lugares mais sagrados da Índia e um importante centro de peregrinação; de acordo com o belo épico “Ramayana”, Rameswaram foi o lugar onde o príncipe Rama construiu uma ponte de rochas sobre o mar de Bengala em direção a Sri Lanka para resgatar a sua esposa, que tinha sido seqüestrada pelo demônio Ravana; esse é também o lugar onde o sábio Rama orou a Shiva para ser absolvido do pecado de ter matado Ravana; por causa disso, a cidade ganhou o nome de “Rameswara”, que significa “Senhor de Rama”, em referência a Shiva.

O famoso e belíssimo templo de Rameswaram foi construído no século XII e reconstruído no século XVII; sua entrada principal tem 38 metros de altura e um grande corredor com 1200 pilares esculpidos em granito preto, considerado o maior da Índia e com o teto todo pintado de mandalas coloridas); e (4) Tiruchchirappalli (ou Tiruchirapalli), localizada à margem do rio Kaveri, com cerca de 898 mil habitantes.

Depois, fui em direção ao Norte, onde conheci também as cidades de (5) New Delhi (capital da Índia, Estado de Haryana);

(6) Jaipur (no Estado de Rajasthan);

Palácio dos Ventos (Hawa Mahal) na Cidade Rosa de Jaipur – Noroeste da Índia

(7) Agra (no Estado de Uttar Pradesh, onde estão os belíssimos Taj Mahal e o Agra Fort); (8) Haridwar e (9) Rishikesh (ambas situadas no Estado de Uttaranchal e próximas do Himalayas), dentre outras.

Vya Estelar – Quais são os atrativos da cidade de Kozhikode?

Gilberto Coutinho – Kozhikode é uma cidade muito interessante e bela, da qual gostei muito. Nela visitei uma região antiga, cujas ruas inteiras eram dedicadas a um primoroso e curioso artesanato variado (roupas típicas, bijuterias, ornamentos de casa, quadros, mobiliários, antiquários, livrarias etc.) e à venda de belas estátuas de vários tamanhos dos diversos deuses da Índia. Eram necessárias muitas horas para se ver e fotografar tudo. Fiquei impressionado com tanta riqueza de detalhes e cores da arte local. Informaram-me que, no século XV, a cidade foi um importante porto comercial, onde estiveram os navegadores portugueses: Vasco da Gama (em 1498, ao descobrir uma rota para o Oriente, aportou na praia de Kappad, próxima da cidade) e Pedro Álvares Cabral (em 1500).

Vya Estelar – Quais impressões mais marcantes dessa viagem? O que mais o emocionou? Era a Índia que você imaginava?

Gilberto Coutinho – A Índia que visitei não é diferente daquela que elaborei em minha mente em todos os momentos de estudo e leitura, dos livros, das revistas, dos contos e das histórias yogues, dos diversos documentários de TV. Mas, sem a menor dúvida, muito mais completa, bela e emocionante. Para mim, cada dia nesse país era um presente muito especial do Criador. Lembrava-me dos familiares, amigos e pacientes com os quais gostaria de estar compartilhando toda essa experiência.

Diversas “coisas” emocionaram e impressionaram muito: a riqueza cultural e a arquitetônica dos inúmeros templos; a bela peça teatral “Surya” (O Sol) em Kannur; o folclore (a fantástica dança Kathakali, que engloba arte, religião e filosofia, no tradicional Teatro Kathakali, na cidade de Kochi, no Estado de Kerala; os espectadores chegam algumas horas antes de iniciar a apresentação, assistem, em silêncio, aos artistas se automaquiarem de forma impressionante e se vestirem); os diferentes tipos de músicas e instrumentos musicais; o artesanato; a arte; a pintura, a tapeçaria; a culinária, os festivais; o ritual do Theyyam; a grandiosa arte marcial indiana Kalarippayattu; o Templo Bahai (construído em 1986 em New Delhi, dedicado à paz, à oração e à igualdade entre os povos, no formato de uma grande *flor de lótus branca, símbolo nacional da Índia, cercado por piscinas de água azulada e um belo e amplo jardim florido e arborizado; o fantástico e impressionante observatório arquitetônico de instrumentos astronômicos “Jantar Mantar” (termo derivado das palavras Yantra = instrumento e Mantra = fórmula ou cálculo; significa literalmente “instrumento de cálculo”) em Jaipur, construído entre 1727 e 1733, pelo erudito Maharaja (rei) Jai Singh II; o Palácio do Vento (Hawa Mahal) na cidade vermelha de Jaipur (capital do Estado de Rajasthan) com suas inúmeras janelas, entre outros aspectos.

Vya Estelar – O que lhe chamou a atenção em relação ao comportamento dos indianos?

Gilberto Coutinho – Educação, generosidade, simplicidade, inteligência, benevolência, amizade (companheirismo), alegria, religiosidade e fé.

Vya Estelar – Você presenciou um ritual religioso chamado “Theyyam”, onde um sacerdote, após uma longa preparação ritualística, incorpora a “consciência divina” e caminha entre as chamas do fogo. Poderia nos falar mais a respeito disso?

Gilberto Coutinho – Fui assistir a dois tipos de Theyyams em diferentes lugares. O primeiro ocorreu durante a noite no interior de uma floresta, diante de dois pequenos templos sob a guarda de sacerdotes. Eu não sabia bem ao certo o que iria presenciar naquela noite; apenas que era uma festa religiosa e mística. Quando cheguei, já havia muitas pessoas (idosos, jovens e crianças) sentadas e em pé ao redor de dois pequenos templos completamente iluminados por lamparinas e por uma grande fogueira. Todos esperavam ansiosos pelo início das apresentações que, tradicionalmente, acontecem durante a noite toda até o amanhecer. Pude perceber que era um momento muito especial e emocionante para todos que estavam ali. Fiquei maravilhado com o que vi, pois nunca tinha presenciado nada semelhante.

Theyyam ou Kaliyattam

Theyyam ou Kaliyattam é um antigo ritual muito popular no Sul da Índia (especialmente no Estado de Kerala), que engloba dança, música e prática religiosa. As apresentações ocorrem de acordo com o calendário lunar Malayalam, e as datas variam de ano para ano. Reflete aspectos importantes da cultura tribal tradicional que antecede a influência da cultura dos drávidas (conjunto de povos do sul da Índia e do norte do Sri Lanka). Fui informado de que existem cerca de 450 tipos diferentes de Theyyams.

Após um período de intensa preparação envolvendo abstinência, jejuns, orações, recitações de mantras e confinamento solitário, o sacerdote (geralmente, vestido de vermelho e dourado, com ornamentos sobre a cabeça, nos braços e nas pernas e, às vezes, com a sua roupa cercada por pequenas tochas de fogo) se identifica com uma divindade em particular e passa a receber homenagens de outros sacerdotes que cuidam dos templos e o reverenciam. Durante esse “elevado” estado de consciência em que se encontra, acredita-se, tal sacerdote adquire poderes sobrenaturais. Ele fala em dialetos antigos, move-se de um lado para o outro inquieto, pula e anda sobre as chamas da fogueira repetidas vezes sem se queimar, realiza curas e abençoa seus devotos.

Theyyam: antigo ritual muito popular no qual o sacerdote pula e anda sobre as chamas da fogueira repetidas vezes sem se queimar

Segundo as informações do agente turístico que me acompanhava, esse não é um caso de possessão; o sacerdote perde temporariamente sua identidade física e incorpora a consciência da divindade cultuada durante a apresentação. Alguns sacerdotes cantam e tocam instrumentos (uma espécie de corneta e tambores), oram e invocam a divindade a ser recebida e, posteriormente, prestam-lhe homenagens, oferecendo flores, incensos, alimentos e chamas de fogo.

Kalarippayattu: arte marcial indiana

Vya Estelar – Como foi sua experiência com a arte marcial indiana?

Gilberto Coutinho – Kalarippayattu é o nome da antiga e poderosa arte marcial indiana pertencente à classe dos Kshatriyas (guerreiros), peculiar ao Estado de Kerala e considerada a mãe de todas as outras artes marciais. Visitei a residência e a escola de um renomado mestre em Kannur. Fiquei maravilhado com o treinamento das crianças (havia também meninas, embora poucas) e dos adultos.

O treinamento era intenso e envolvia alongamento; exercícios de flexibilidade, de força e resistência; saltos; posições de Yoga; manejo de bastões longos de madeira e de espadas; movimentos de ataque e defesa pessoal etc. A vontade era muito grande de retirar a minha camisa e de cair no chão de terra socada da escola e treinar com as crianças, pois, como Hatha Yogue, estava ansioso para exercitar também o meu corpo.

Então, pedi permissão ao mestre para treinar com as crianças. Ele consentiu. Foi muito divertido treinar e brincar com elas. Percebendo o meu interesse, para minha surpresa, o mestre Prasad convidou-me para a lição de algumas técnicas de luta e de defesa com bastão longo de madeira. Foi uma experiência muito enriquecedora e gratificante. Ele, filho de outro grande mestre de Kalarippayattu (autor de um dos mais completos e importantes tratados a respeito dessa arte e ciência na Índia), gentilmente fez uma dedicatória no exemplar do livro que adquiri, de autoria de seu pai.

Teatro solar: “Surya” (O Sol)

Vya Estelar – Você assistiu a alguma peça teatral?

Gilberto Coutinho – “Surya” (O Sol) era o seu nome. Foi um belo espetáculo. Fiquei surpreso com a pedagogia, muito interessante e refinada, empregada para ensinar aos jovens a importância da preservação e do cultivo das tradições védicas, encenada na data em que se comemora o dia do sol (na primeira quinzena do mês de janeiro). Muito aplaudidos, os atores e dançarinos interagiram e dançaram com a platéia ao som de uma alegre e estimulante música tradicional indiana; caíam pétalas de rosas e diversos balões coloridos do alto do teto do teatro. Eu e meus amigos de curso ficamos impressionados com o profissionalismo e a competência dos jovens atores indianos nessa encenação de altíssimo padrão e bom gosto, com recursos audiovisuais modernos.

Culinária indiana

Vya Estelar – O que você tem a dizer a respeito da culinária indiana?

Gilberto Coutinho – É uma culinária aromática e muito saborosa. A Índia é um país muito vasto e cada Estado possui uma gastronomia bastante própria e diversificada.

Em geral, empregam-se muitos condimentos: asa fétida, curry (nome que os britânicos deram à masala), feno-grego, gengibre, coentro, cominho, mostarda em grão, pimenta malagueta e preta, açafrão-da-Índia, canela, cardamomo e cravo; ghee (manteiga purificada), masala (mistura de especiarias, cuja receita costuma diferenciar em cada cozinha), raita (molho de iogurte misturado com especiarias e alguns tipos de hortaliças utilizado para diminuir o sabor apimentado dos pratos), panir (espécie de requeijão ou coalhada que se usa como condimento), arroz basmati (grão comprido), shapati (pão sem fermentação, muito popular), vegetais (cozidos ou crus) e algumas hortaliças, molhos agridoces (preparados com frutas, hortaliças e especiarias), lentilha (dal), garam masala (masala picante), gram (farinha de grão-de-bico ou de lentilha), samosa (variedade de empanados, consumidos como aperitivos) etc.

* A flor de lótus é um dos símbolos nacionais da Índia. Tradicionalmente, ela simboliza a "pureza", a "consciência" e "algo de grande valor". Uma semente de lótus, em condições favoráveis, pode germinar num lago fecundo em poucas semanas ou, então, demorar muitos anos, ou até mesmo, milhares de anos para germinar. O "germinar" da semente representa o "nascimento", a "vida", o manifestar da "consciência" para a existência; o "desabrochar" do botão em uma flor representa a "beleza das virtudes humanas" e o despertar da consciência para a sabedoria e a "iluminação". Os antigos sábios, yogues e poetas da Índia tiveram a sensibilidade e uma apurada percepção para comparar o desenvolvimento da flor de lótus com a evolução espiritual do homem e a aquisição dos verdadeiros conhecimentos. Por essas razões, ela também é símbolo do Yoga (representa os preciosos e sábios conhecimentos de sua escola de pensamento, que podem conduzir os seus adeptos à sabedoria e à libertação) e do Ayurveda (os oito ramos da medicina indiana e seus preciosos conhecimentos).

** Durante muitos anos, os indianos desenvolveram um jeito muito peculiar de transitar com os automóveis. Na Índia, realmente, atrás de ônibus, caminhões, auto rickshaws e táxis existe o seguinte dizer: “Por favor, buzine.”. Lá, a direção é à direita do motorista, como na Inglaterra, e o trânsito não funciona de modo "organizado", como se concebe aqui no Brasil e em outros países. Para quem não está acostumado, o trânsito parece bastante confuso, agitado, ameaçador, num emaranhado de automóveis circulando e buzinando sem parar. Muitas vezes, tem-se a impressão de que o caos se estabelece e os automóveis vão-se chocar; mas, no final, tudo parece dar certo. No entanto, durante minha estada na Índia, não presenciei nenhum motorista xingar, fazer gestos obscenos, ficar nervoso ao ponto de descer do carro para brigar. Presenciei, sim, um ou outro motorista fazer algum comentário: "esse cara tá louco de fazer tal manobra". A buzina, na Índia, funciona como um sinalizador: "Preste atenção, estou passando…, vou ultrapassar ou me dê passagem"