por Ana Beatriz B. Silva
Ao tentarmos entender o absoluto e indiscutível sucesso do programa Big Brother Brasil, algumas questões nos saltam à mente: como explicar que esse fenômeno só tenha se desenrolado desta forma aqui no Brasil? Por que a cada edição do BBB novos recordes de audiência são atingidos? Por que em outros países, entre centenas no mundo, onde o Big Brother foi realizado essa história não se repetiu? Por que nos EUA onde as celebridades instantâneas brotam do chão e a competitividade é tão estimulada, o BBB não passou de três edições, sendo a última considerada um fracasso de audiência?
Diante de tantas perguntas temos o dever de analisar esse acontecimento nacional e aprendermos com ele o que a população brasileira quer expressar com tal comportamento.
Se não fizermos assim, no mínimo, estaremos fechando os olhos para um fato que transcende os interesses estratégicos e comerciais de uma empresa de televisão em busca de índices de audiência que assegurem seus patrocinadores e anunciantes.
Desde o início o BBB vem apresentando aspectos com o típico tempero brasileiro. Na sua primeira edição, a presença de um estrangeiro no programa e sua possível saída precoce da 'Casa' mobilizaram a opinião pública e o Brasil mostrou mais uma vez a sua disposição em receber e adotar todo tipo de gente, independente da raça, credo, cultura ou idioma. O vencedor, por sua vez, foi um candidato que começou com pinta de 'fortão' e ao ser rejeitado pelo grupo criou uma 'boneca' como fiel companheira. O Brasil, além de perdoá-lo pelo tropeço inicial, partiu em sua defesa quando em lágrimas o então candidato 'fortão' exibiu toda sua 'fragilidade' ao mostrar que homem chora e chora muito!
Nas segunda e terceira edições, o público deixou claro que beleza não põe a mesa, e que o mundo nem sempre é dos mais espertos e sim dos mais amigáveis e éticos.
E o povo brasileiro foi além: questionou o critério de seleção dos participantes e sinalizou que o programa não representava todas as classes sociais do nosso país. Foi então que o BBB 4 criou um sistema de sorteio para que dois participantes pudessem entrar no jogo pelo critério que o povo sempre viu como o mais justo: a sorte aferida em sorteio nacional. O Brasileiro acredita na sorte, afinal sempre contou muito mais com ela do que com o poder público para levar adiante seus sonhos e esperanças de um dia ter uma vida melhor.
O BBB4 goleou o preconceito, as diferenças sociais e culturais e levou para a final os dois participantes eleitos pela sorte!
Feita a justiça social no BBB 4, eis que chega o BBB 5. E chegou com 'sede', que em poucos dias se tornou um fenômeno de audiência que nem a campeã 'Senhora do Destino' – novela das 8 da época – conseguiu abater. Como explicar que um programa importado e sem tradição nacional desbancasse nossa cultura novelística de quase meio século (aproximadamente 45-46 anos de novelas brasileiras)? Que novo comportamento é esse que os brasileiros assumiram em acompanhar o dia-a-dia de pessoas 'comuns' trancadas numa casa vigiada 24 horas por dia?
Se prestarmos atenção, veremos que o BBB funciona tal qual uma novela: é diário e com horário certo, tem drama, conflitos, gente de todos os tipos e várias e simultâneas histórias que apresentam reviravoltas surpreendentes. No entanto, no BBB o povo tem o PODER, o poder de mudar o rumo dos acontecimentos, o poder de punir os personagens arrogantes, preconceituosos, egoístas e espertos demais. Afinal, o povo sabe que esperteza demais, nunca é bom para a maioria.
Na 5ª edição, independente do resultado, o povo conseguiu passar a mensagem de que para ser merecedor de 1 milhão de reais são necessários alguns pré-requisitos: ser digno, ético e humano. E agora em sua sexta edição o professor de matemática Rafael, que diz não ter sonhos de consumo, pretende viajar pelo Brasil ajudando escolas, caso fature hoje o prêmio de 1 milhão de reais.
Ganhar a qualquer custo não é coisa de gente do "bem" e isso o povo já está cansado de ver nas notícias diárias sobre falcatruas contra o dinheiro público. É a vez da justiça moral e é o povo que diz isso.
Pode parecer estranho, mas o povo vem aperfeiçoando seu direito de votar e decidir através do BBB e a cada edição deixa o seu recado. Só não ouve quem não quer ou quem tem surdez na alma.
Feliz da nação que tem um povo que zela pela justiça e tenta exercê-la de todas as formas que lhe são oferecidas. No Brasil, o Big Brother virou a grande arena do exercício democrático do povo, com efeitos imediatos na mudança dos fatos e acontecimentos. Ele vê seu voto valer e ser respeitado semana após semana.
Se a voz do povo é a voz de Deus, e se Deus escreve certo por linhas tortas, fica fácil entender porque os Big Brothers de lá, não "gorjeiam" como os de cá!