por Ana Beatriz B. Silva
Quando penso na palavra gente, uma sensação boa e terna me invade a mente: eu gosto de gente, e esse gosto me faz 'fuçar' cada vez mais nosso motor central – o cérebro – na busca de respostas que me levem a detectar, compreender, criar empatia e, sempre que possível, ajudar as pessoas (nossa gente) a ter uma existência mais confortável consigo mesmas e, em conseqüência, com o mundo em redor.
Mas, como boa amante da música popular brasileira, gente me lembra Caetano Veloso. Foi Caetano que nos levou a refletir sobre o conceito de normalidade quando, em uma de suas músicas – 'Vaca profana' -, disse que "de perto ninguém é normal".
Interessante como o conhecimento humano se manifesta em todas as áreas de expressão, pois no início do século passado Freud – pai da psicanálise – afirmou a mesma idéia com as seguintes palavras: "Toda pessoa só é normal na média".
Parece uma grande 'loucura', no entanto Freud, Caetano e todas as pessoas do planeta temos algo em comum: nenhum de nós possui um cérebro perfeito. Entendendo-se como perfeito o cérebro que produza seus neurotransmissores – nossos 'combustíveis cerebrais' – em quantidades exatas ou iguais e faça com que cada parte exerça suas funções tão bem como os demais, obtendo assim um desempenho máximo em todas elas. Se olharmos bem ao redor, constataremos facilmente essa realidade. Quem não conhece alguém genial na criação de complexos programas de computador, ou mesmo projetos inovadores de engenharia que, por outro lado, apresenta profunda dificuldade em seus relacionamentos sociais, principalmente afetivos e emocionais?
Podemos concluir que um cérebro perfeito é uma impossibilidade humana. Todos eles têm seus pontos fortes – talentos, dons ou aptidões – e seus pontos limitantes – inabilidades, inaptidões ou 'fraquezas' – que, com o tempo e com empenho, aprendemos a administrar em nosso próprio benefício.
Outro aspecto – bem mais científico, apesar de menos visível que os exemplos anteriores – que reitera a imperfeição do cérebro humano é a sua idade. Isso mesmo. Para quem não sabe nosso querido e poderoso cérebro não passa de um bebê na longa história da evolução das espécies. Ele completou 100 mil anos há pouco tempo.
'Velho', 'velhíssimo', 'jurássico', 'pré-histórico'… Provavelmente seriam esses os adjetivos usados por um adolescente para definir nosso baby. Mas se dermos alguns passos, entrarmos em uma locadora e pegarmos o filme O parque dos dinossauros, de Steven Spielberg, veremos que Hollywood, além de lazer, é cultura e informação. Lá se conta um pouco da história dessa geração de répteis fantásticos que habitaram e dominaram nosso planeta por 160 milhões de anos.
E agora, quem é velho? Nosso cérebro ainda é um bebê lindo e 'fofo' que começa a dar seus primeiros passos nessa tal de história evolucionária. Por isso temos de considerá-lo uma obra em andamento que com certeza será capaz de desenvolver novas funções adaptativas de caráter positivo, que nos tornarão mais eficientes em transcender dificuldades, limites ou mesmo impossibilidades atuais.
Uma coisa é certa: todos nós possuímos deficiências ou falhas mentais. É claro que uns apresentam mais sérias, outros menos, no entanto tudo indica que o barro divino de onde viemos já veio malhado antes de nascermos. E agora? Quem terá coragem de atirar a primeira pedra? Quem for perfeito pode começar!