por Nicole Witek
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte nos países industrializados. Quem detém o recorde são os Estados Unidos. Mas o Brasil não está muito longe.
Poderíamos pensar… os paises ocidentais estão a cada ano se beneficiando mais dos avanços da tecnologia: informática, telefonia, medicina. A cada ano o peso das tarefas cotidianas se torna menos pesado, requerendo menos esforço físico, muitas doenças foram erradicadas, a comunicação se tornou mais fácil. Enfim, poderíamos pensar que estaríamos muito mais felizes, mas onde está a felicidade que a era moderna prometia? Paradoxalmente…. Não ficamos mais felizes.
Essa busca desajustada da felicidade está diretamente relacionada ao nosso coração.
O coração fica infeliz. Podemos ter tudo que o mundo industrializado propõe, mas nosso coração fica infeliz. Por que será? Nossos desejos íntimos, profundos, não estão sendo honrados, nossa verdade interior está sendo menosprezada, não temos a autenticidade que uma vida saudável necessitaria: estar de pleno acordo com nosso ser profundo.
O que acontece é que nós não ouvimos mais a voz da nossa autenticidade, a voz do nosso ser profundo. Nós não percebemos o quanto nossa vida moderna esta atraindo constantemente nossa atenção para fora. Nossa mente está cronicamente se voltando sempre para fora do nosso ser: voltada para o mundo externo.
Se conscientizar dessa situação é o primeiro passo para a cura. Que a mente esteja de acordo com o coração. Este é o segredo. Que os pensamentos estejam de acordo com os sentimentos. Que a atenção possa se voltar para o nosso lar.
Onde está esse lar? Para a filosofia antiga do yoga, é dentro do coração que reside nosso ser profundo. O coração é o grande maestro de todos nossos ritmos corporais, de nosso equilíbrio interno, principalmente do equilibro do sistema nervoso autônomo: esse sistema que tem a agilidade de nos mandar para a realização de nossos desejos, para a ação, colocando nosso ser inteiro em alerta vermelho ou de equilibrar nossa fisiologia para a serenidade.
Tem uma via de mão dupla entre o coração e o cérebro. Dar atenção ao nosso coração é dar atenção ao dono da casa. A nossa casa não pode funcionar de maneira correta se ela for abandonada pelo proprietário.
Esse fenômeno de engrenagem da cabeça com o coração, dos pensamentos com as emoções, é um dos passos imprescindíveis para realizar o estado de yoga: de união consigo mesmo. Isso significa parar com a fragmentação do ser para proporcionar um estado de união, onde o ser se sente em plena coerência íntima.
Para realizar essa coerência interna não precisamos investir dinheiro como certos laboratórios internacionais estão propondo*.
Porque complicar quando as coisas são simples, baratas e de fácil alcance.
Como realizar essa coerência interior?
Colocar a cabeça em harmonia com o coração começa por realizar duas respirações profundas que vão automaticamente dar um break no estresse, estimulando a função equilibradora do sistema nervoso parassimpático. Essas duas respirações serão compridas, feitas como se o nariz estivesse no meio do peito, deixando a pausa natural entre a expiração e a nova inspiração ficar um pouquinho mais comprida que normalmente.
Mantendo nossa atenção na região do coração, vamos respirar lentamente, contando 4 segundos para a inspiração e de 6 a 8 segundos para a expiração, vamos ao mesmo tempo imaginar uma cena que desperte em nós uma emoção de paz ou de força ou de alegria profunda. Em caso de grande estresse, podemos aplicar o mesmo processo, mas despertando uma emoção de gratidão, de apreciação para consigo mesmo. Cada um de nós tem na memória um momento da vida assim e isso é fácil de recordar. Não precisa ter viajado para lugares exóticos, ter feito coisas extraordinárias para estimular a emoção requisitada. A emoção despertada pela imagem deve se espalhar pelo corpo inteiro, como se fosse uma onda permeando integralmente o nosso ser.
Respirando através do coração, podemos sustentar ao mesmo tempo essa emoção durante um bom tempo. Não tem limites. Os limites são os da nossa concentração serena. Quando ela cansa… é só parar. Quanto mais tempo a atenção estiver voltada a esse treino, teremos um efeito mais duradouro.
Muito simples, não é! Isso é chamado contemplação meditativa.
Quais são os efeitos dessa coerência cardíaca: tudo que desejamos para nossa saúde.
Os batimentos cardíacos entram em coerência vibratória com o cérebro, o cérebro emocional equilibra de novo o funcionamento do sistema nervoso autônomo, aliviando os sintomas corriqueiros do estresse como taquicardia, ataques de pânico, fadiga crônica, aumentando a taxa de DHEA, hormônio de juventude, diminuindo a taxa de cortisol – hormônio do estresse – na corrente sangüínea, diminuindo a pressão sanguínea.
A coerência cardíaca leva também a um aumento da proteção pelo sistema imunológico. A coerência aumenta a resistência à depressão.
O yoga prega que o ser interno está sentado no meio do coração e que tem o tamanho de um polegar… Isso é um vocabulário muito infantil para falar de um sistema de ação sutilmente regulador e recíproco entre coração e cérebro, concordo, mas não precisa ser mais complicado para usar dos benefícios da técnica. Não precisamos de técnicas sofisticadas, nem de esvaziar nossa poupança para entrar em contato com nós mesmos.
Acostumar-nos a esse contato com nosso ser íntimo nos ajuda a tomar consciência quanto ao que nos deixa feliz ou infeliz, o que profundamente gera em nós felicidade ou infelicidade. Tendo essa consciência, se tornará mais fácil aceitar ou recusar certos desafios, certas situações. Assim sendo, o estresse negativo desaparece e a vida se torna mais leve.
Mente e emoção estão em acordo, cérebro e coração estão funcionando em harmonia, cérebro mental e cérebro emocional estão funcionando em coerência.
Praticando sem nenhuma contraindicação essa simples meditação, qualquer que seja sua duração, teremos os efeitos magníficos em todos os planos de nossa vida. Fácil!