por Juliana Zacharias – psicóloga do NPPI
Em nosso serviço de orientação via e-mail da Clínica Psicológica Ana Maria Poppovic, temos percebido que grande parte dos pedidos que chegam até nós "falam" de alguma questão relacionada à sexualidade: sexo virtual, homossexualidade, dificuldades na relação, temor da primeira relação, entre muitos outros temas.
Ao refletirmos, então, sobre nossa prática, é muito habitual nos depararmos com algumas questões: será que a sexualidade humana se transformou com a internet? Quais mudanças o advento dessa tecnologia pode ter trazido à sexualidade? Como devemos nos posicionar frente a isso?
Quando falamos de sexualidade, é importante lembrar que não se trata do ato sexual em si e sim do universo da sexualidade (o que incluiria desejos, tabus, afetos, medos, práticas sexuais, sensações corporais, relacionamentos de casais etc.)
Poderíamos separar os pedidos de orientação em dois grandes grupos: aqueles que trazem questões de sexualidade não relacionadas ao uso da internet e aqueles onde a dúvida tem alguma relação direta com o uso do computador na expressão da sexualidade em pauta.
No que diz respeito ao primeiro grupo fica claro que a internet é somente um canal por meio do qual a pessoa sente-se mais segura para tirar suas dúvidas. Parece que, apesar da impessoalidade (ou talvez, por ela mesma!) as pessoas, por e-mail, se sentem protegidas dos tabus e preconceitos que ainda acompanham a sexualidade e, apoiadas no anonimato permitido pela net, se colocam com mais tranqüilidade. Falar de nossos desejos e medos nunca foi fácil, mas quando temos um "nick" e não um nome, isso se dá mais facilmente. Facilitar essa expressão já é um benefício imenso, pois poderíamos até supor que algumas pessoas que conseguem nos procurar não o fariam de outra maneira, se não por e-mail.
As maiores polêmicas aparecem no segundo grupo, ou seja, naquelas questões onde a internet é o próprio meio de obtenção de prazer. Algumas pessoas dirão que esta ou aquela prática só existe porque existe a internet. Mas, quando revemos toda a complexidade da sexualidade humana, todas as formas que o homem, ao longo de sua história, encontrou para dar vazão aos seus desejos, parece-nos muito redutivo imaginar que uma tecnologia controla ou determina o surgimento de novas formas de expressão do desejo humano.
Parece inegável que a internet possibilita novas formas de manifestação da sexualidade. Parece facilitar, também, que pessoas desejosas de práticas afins se encontrem e troquem informações, mas ela não cria esses desejos! O desejo é do homem que, ao longo de sua história, vai descobrindo, manifestando, modificando essa ou aquela prática.
A internet, pela rapidez que proporciona à comunicação, pelo anonimato protegido e por ser um campo facilitador da expressão de fantasias, faz um papel de catalisador destes processos. Apesar de muito impressionante e de, às vezes, ser até assustadora, a internet nada mais é do que uma tecnologia, criada pelo homem, para satisfazer suas necessidades e facilitar sua vida.