Segurança e privacidade na era da Internet

por Ana Luiza Moreira Mano – psicóloga do NPPI

A Internet é uma ferramenta com diversas utilidades: ensino, pesquisa, aprendizagem, lazer, entre outras. A cada dia, surgem mais possibilidades de utilizar a tecnologia para entretenimento e momentos de descontração. Algumas das grandes beneficiárias desse movimento (e investimento) das empresas têm sido as crianças. A quantidade de novas plataformas para atividades infantis é impressionante. Por que será que esse mercado é tão visado pelos investidores dessas tecnologias? Uma suposição é o tipo de uso que os pais vêm incentivando para que seus filhos tenham acesso a essa tecnologia.

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Afinal, o que significa nos dias atuais, para um pai ou mãe poder ter seu filho dentro de casa, onde a violência urbana é uma questão tão presente em muitos lugares ao redor do planeta? Antigamente, as opções de lazer eram mais voltadas às brincadeiras de rua, livros… Depois veio a televisão e com ela os videogames. Mesmo assim, muitas atividades ainda envolviam a necessidade de sair de casa e estar presencialmente num ambiente propício para que elas pudessem ocorrer. Hoje, é possível divertir-se sem sair de casa, e em alguns casos isso faz toda a diferença quanto ao tipo de relação que uma pessoa vai estabelecer com o universo à sua volta.

Quanto mais “conectados” estamos, cada vez menos nosso mundo se limita às fronteiras físicas e geográficas. E isso, à primeira vista, parece mais seguro do que efetivamente aventurar-se na selva, urbana ou não.

Nossas crianças estão nascendo e crescendo imersas nesse novo ambiente e aprendendo a adaptarem-se rapidamente a essa nova condição. A preocupação dos pais em saber por onde seus filhos andam agora também abrange a Internet e, se assim não for, ao menos deveria! Nesse contexto, saber por onde as crianças andam fisicamente não é mais suficiente para dizer que elas estão de fato “seguras”, pois através da tecnologia elas podem viajar pelo mundo sem sair de casa, e vale lembrar que nisso também há riscos.

Só que hoje muitas crianças já são capazes de “dar um baile” nos mais velhos, em termos de conhecimentos e habilidades no uso das ferramentas atuais. Mas mesmo os pequenos mais “escolados” podem ainda não ter noção da abrangência da Internet e do que isso significa em termos de segurança e privacidade. Você tem alguma ideia dos tipos de informações sobre sua vida que são coletadas a cada acesso que você faz na Internet? E quanto a seus filhos? Por onde eles têm acessado seus assuntos de interesse? Que tipo de informações pessoais eles estão compartilhando sem perceberem que tais dados poderão ser acessados?

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Num artigo específico sobre como aumentar a segurança de sua conta no Google, o colunista na revista MacWorld, Lex Friedman, faz uma colocação que se encaixa em muitas outras esferas com relação às atitudes das pessoas em suas vidas online: “[…] em um mundo onde cada vez mais nossas vidas, e nossas informações, são armazenadas online, a segurança digital é tão importante quanto a segurança física. Você não deixaria a porta da frente de sua casa destrancada, deixaria?”

Existem diversas empresas investindo pesado em traçar perfis de usuários, para poderem oferecer serviços de interesse, entre outros objetivos. Parece muito bom na teoria, mas também é preciso considerar que grande parte das informações que essas empresas recebem são concedidas sem o consentimento dos internautas pesquisados. Agora imagine como seu filho de 5 ou 10 anos pode entender esse conceito, quanto mais aplicá-lo de maneira “segura” no uso que faz da web. É interessante a consideração feita pelo CEO (Diretor Executivo da Mozilla) Gary Kovacs – que tem uma filha de 9 anos – em uma palestra no TED Talk em fevereiro de 2012. Kovacs explica que estamos o tempo todo sendo monitorados, dentro e fora de nossas casas. Esse monitoramento dentro de casa acontece através da Internet e dos sites acessados, mas é possível ser monitorado inclusive por sites que você sequer acessou, você sabia disso?

Veja a fala de Kovacs: “Agora, não me interpretem mal. De maneira nenhuma estou sugerindo que compartilhar dados é ruim. Quando sei quais dados estão sendo compartilhados e me pedem permissão explicitamente, eu quero que alguns sites entendam meus hábitos. Isso os ajuda quando eles sugerem livros para eu ler ou filmes para minha família assistir ou amigos para nos conectar. Mas quando eu não sei e quando eu não sou solicitado, aí é que surge o problema. Esse é um fenômeno da Internet atualmente chamado rastreamento do comportamento, e é um negócio muito lucrativo.[…] Esta é uma menina de 9 anos navegando principalmente em sites infantis. Então eu me altero, de apavorado para furioso. Este não é mais um pioneiro da tecnologia ou um defensor da privacidade; este sou eu sendo um pai. Imaginem no mundo físico se alguém seguisse seus filhos com uma câmera e um caderno e registrasse todos os movimentos deles. Garanto que não há uma pessoa nesta sala que vá ficar de braços cruzados. Agiríamos. Pode ser que não seja uma boa ação, mas agiríamos. Não podemos ficar de braços cruzados por aqui também. Isso acontece hoje. Privacidade não é uma opção, e não deveria ser o preço que aceitamos pagar para simplesmente usar a Internet. Nossas vozes contam, nossas ações contam mais ainda.” (Gary Kovacs, TED Talk, Fevereiro/2012)

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O fato de muitos pais não quererem saber da Internet, não muda a realidade em que seus filhos estão inseridos. Se não for dentro de casa, de algum modo, em algum momento eles terão acesso. Também não é solução proibir que esse uso aconteça, desde que ele seja feito de forma proveitosa e com segurança. Não é necessário, nem saudável, tentar monitorar tudo que seu filho adolescente faz na Internet, mas é importante entender os riscos que todos corremos ao utilizarmos essa ferramenta, assim como os perigos em relação à segurança digital que corremos ao sair de casa todos os dias. Veja abaixo:

Segurança digital: riscos

É a criança que gasta dinheiro do cartão de crédito dos pais na loja de aplicativos usando a senha que eles mesmos forneceram a ela; o adolescente que tem uma foto mais íntima publicada, e com isso perde o chão; aquele amigo que espalha nas redes sociais vídeos onde você aparece, e que você obviamente não autorizou nem desejaria a publicação; sua filha que faz um tweet dizendo que a tia faleceu, e você vê sua própria intimidade e luto expostos, quando preferia viver esse momento com menos alarde. Esses momentos não seriam ótimas oportunidades para os pais poderem conversar com seus filhos a respeito do uso que eles vêm fazendo da tecnologia? Do mesmo modo, alertar parentes e amigos também entra como uma colaboração importante.

A questão central é: se cada um de nós optar por não levar em consideração a segurança no mundo digital – a nossa e a das pessoas com quem nos relacionamos – até nossos filhos poderão sofrer as consequências desse “descuido”. A conscientização começa através do exemplo, dentro de casa também!

Se você não quiser tomar esse cuidado para si mesmo, faça-o pelos seus filhos, familiares e amigos, pois cedo ou tarde um deles fará algum uso que poderá trazer consequências preocupantes.

Em resumo, a Internet é uma realidade que não pode mais ser negada ou evitada em grande escala, mas desde que usada de modo consciente e saudável, pode nos trazer imensos benefícios. Não é à toa que ela representa um grande progresso no processo evolutivo da humanidade!

Para ver o vídeo da palestra de Gary Kovacs no TED Talk, clique aqui:
http://www.ted.com/talks/lang/en/gary_kovacs_tracking_the_trackers.html
Clique aqui para acessar o texto de Lex Friedman:
http://idgnow.uol.com.br/internet/2012/08/16/veja-como-aumentar-a-seguranca-de-sua-conta-no-google