por Ana Beatriz B. Silva
Na criança com o Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA), três sintomas principais se tornam características marcantes: a distração, a impulsividade e a hiperatividade. O que a princípio seriam características comuns em crianças 'normais', como a agitação, a correria, a falta de atenção em atividades encadeadas e prolongadas, principalmente se não despertam o seu interesse, na criança com DDA essas são intensas, freqüentes e constantes. Isso faz com que a observação se torne o principal instrumento de avaliação de um médico, psicólogo ou outro profissional habilitado.
Como tudo nessa criança parece estar 'a mais', mais agitada, mais bagunceira, mais impulsiva, mais dispersa, podemos imaginar o quanto é desgastante o convívio com a família que, por falta de informação sobre o que é o DDA, costuma rotular essa criança como mal-educada, insuportável e até mesmo má. É comum a criança ouvir sobre o quanto é má e do quanto 'papai do céu' irá castigá-la. Sobre o seu futuro, dizem que será uma pessoa desagradável, impopular e outros comentários do tipo 'se você morrer hoje ninguém irá no seu enterro'.
Como realmente tem dificuldades de controlar seus impulsos se metendo em confusões e desentendimentos com a família e com as outras crianças, acaba acreditando no que lhe dizem, se preocupando com os castigos divinos. Ouve diariamente uma quantidade de 'nãos', 'pára', 'sai daqui', 'fica quieto', com uma freqüência muito maior que as outras crianças. Isso gera nesta um sentimento de que há algo de errado com ela e de que é um estorvo. É comum crianças com DDA expressarem seu sofrimento e sentimento de rejeição dizendo que irão se matar, que irão fugir de casa ou que são infelizes.
A criança DDA muitas vezes se transforma em bode expiatório da família já que, pelo seu jeito 'diferente de ser' é apontada como culpada por tudo de errado que acontece no seio familiar, inclusive no tocante aos conflitos entre os pais e irmãos. A família como um todo acaba se estruturando (encontrando um ponto de equilíbrio) dentro deste contexto viciado. Quando a criança recebe o diagnóstico de DDA e o tratamento adequado, conseqüentemente aparecem os resultados satisfatórios. Contudo, a família que já estava (de forma caótica, mas estava), acostumada com aquele velho sistema, terá que encontrar uma nova forma de se entender e se relacionar. Quem agora eles irão acusar?
Na escola
Na escola algumas características que estavam em estado de latência no meio familiar, surgem aumentando suas dificuldades e revelando a sua potencialidade problemática. O aspecto hiperativo e/ou desatento poderiam não estar acarretando problemas, o que agora é evidente. A criança é solicitada a cumprir metas e seguir rotinas, executar tarefas e ser recompensada ou punida de acordo com a eficiência com que são cumpridas. A família não está presente para ajudá-la a se organizar ou cumprir as tarefas para facilitar as coisas para ela. Agora ela não pode correr a todo o momento, como também não pode ficar imóvel e precisa entrar num ritmo compatível às demais crianças, com quem agora convive diariamente.
As direções, tempos e ritmos serão determinados pelo professor, orientado por objetivos diferentes de seus pais. O professor que desconhece o problema, acaba concluindo que esta criança é rebelde ou irresponsável. Essa atenção negativa gera um clima de embate entre o professor e aluno 'problemático' dispersando com isso o interesse das outras crianças. O desempenho escolar dessa criança é marcado pela instabilidade e mais uma vez o seu sentimento de inadequação surge, aumentando o rombo na sua auto-estima.
Por tudo que vimos, é crucial a importância de meios para melhorar a convivência e estimular bons comportamentos nas crianças com DDA, tanto na família quanto na escola, com o intuito de obtermos bons resultados em seu tratamento. Podemos citar o texto do renomado autor Içami Tiba, que nos diz:
“Muitos pais e professores estão sofrendo demais com os filhos e alunos, portadores do Distúrbio do Déficit de Atenção. Não é expulsando um aluno impulsivo, agressivo, irritado, instável e distraído, o chamado 'líder negativo', que se resolve o problema, como se o colocássemos num navio e o deixássemos à deriva no meio do oceano. Afastamos o problema, mas não o resolvemos.”
Orientar pais e professores sobre o que é o DDA e como lidar com as crianças portadoras desse distúrbio, se torna tarefa imprescindível dos profissionais que estão implicados com o cuidado destas crianças especiais, contribuindo com isso para o desenvolvimento de suas aptidões, revelando talentos escondidos e despertando valores.
Dicas para lidar com o DDA na escola
Para melhorar a qualidade de vida e garantir um aproveitamento escolar satisfatório para uma criança com DDA, o colégio e a família precisam estar em fina sintonia. Tanto os pais, quanto os professores, orientadores educacionais e o médico que acompanham a criança devem manter um contato estreito. Além do tratamento médico, é fundamental que a criança com DDA se sinta em um ambiente adequado e receptivo.
1. Os professores devem ter jogo de cintura e bastante flexibilidade para ajudar os alunos com DDA a contornar o problema. A melhor coisa a fazer é se informar bastante sobre o distúrbio para conseguir entender como funciona a cabeça destas crianças. Alternar métodos de ensino, evitar aulas repetitivas e ter uma dose extra de paciência é fundamental.
2. Ter paciência não significa ser permissivo e tolerante em excesso. O professor precisa manter a disciplina em sala e exigir que os limites sejam obedecidos. Mas nada de tentar impor um regime militar para os baixinhos.
3. Caso perceba que algum aluno apresenta os sintomas do DDA, o professor deve informar à família imediatamente. Quanto antes o tratamento médico for iniciado, menos dificuldades as crianças vão enfrentar em sua vida escolar.
4. Aqui também vale aquela clássica regrinha da pedagogia: sempre elogie o aluno quando ele conseguir se comportar bem ou realizar uma tarefa difícil. É melhor que puni-lo seguidas vezes sempre que o pobrezinho sair dos trilhos. Nestes casos, estimule a criança a compensar os erros que ela cometeu. Se ele desorganizou uma estante, por exemplo, incentive-o a organizá-la. Isso terá um triplo efeito: mostrará à criança qual é o comportamento correto, vai fazê-la se sentir útil e, conseqüentemente, diminuirá sua frustração com o erro.
5. A criança com DDA tem dificuldade de organizar suas próprias regras e o seu comportamento. Por isso é fundamental que, na rotina de aulas, o professor deixe as regras de conduta bem claras e explícitas. A criança precisa saber com clareza o que é esperado dela e como ela deve se comportar.
6. Nós sabemos que os professores não são de ferro e que enfrentar uma sala cheia de crianças não é tarefa para qualquer um. Se surgir qualquer dificuldade, uma boa opção é pedir para o terapeuta ou médico que trata da criança visitar a escola e conversar com os professores e orientadores educacionais. Assim as dificuldades vão sendo superadas aos poucos e o trabalho feito na escola complementa o que é realizado no consultório.