por Joel Rennó Jr.
Resposta: Em psiquiatria, falar em maior ou menor grau de sofrimento de um determinado transtorno mental é complexo. Inúmeros fatores e diferentes níveis de prejuízos ou incapacitações estão envolvidos. Porém, sem dúvida, a depressão é um dos transtornos mentais que mais causam sofrimento tanto aos pacientes quanto aos familiares. Até porque a sua prevalência também é alta – clique aqui e leia.
Há vários fatores significativos que podem levar ao sofrimento do paciente deprimido:
1º) Muitos quadros clínicos de transtorno depressivo maior são recorrentes, têm curso crônico, e acabam, infelizmente, sendo subtratados ou mal diagnosticados. Há muito abandono de medicação por falta de conhecimento ou orientação. Com isso, os prejuízos sóciofuncionais, ou seja, a incapacitação gerada em diversos níveis de atividades e interações profissionais e familiares é significativa.
2º) A pessoa perde, quando deprimida, o prazer por quaisquer atividades interessantes ou cotidianas de sua vida (a psiquiatria denomina anedonia), isola-se, sofre rejeição e é sempre "rotulada" ou estigmatizada como alguém "fraco", "pavio curto", "sem fé", "acomodado" o que aumenta mais intensamente a culpa enorme que o deprimido já sente.
A sociedade precisa saber formas construtivas e saudáveis de lidar e ajudar uma pessoa com depressão, incentivando-a ao tratamento correto ao invés de julgá-la ou condená-la. Pode ocorrer com qualquer um de nós, em um momento variável de nossas vidas. Ninguém é imune a ela por toda a vida, mesmo os considerados "normais" podem ter o quadro clínico de depressão em um determinado momento.
3º) O sofrimento pode ser aumentado devido a *comorbidades comuns (principalmente em mulheres), ou seja, associação com outros transtornos mentais como alcoolismo e uso de outras drogas e transtornos de ansiedade (pânico, fobias, ansiedade generalizada, etc). A magnitude da depressão é aumentada perante tais comorbidades.
4º) Depressão não tratada adequadamente traz graves prejuízos sócioeconômicos (desemprego, perda de amigos com isolamento, queda financeira) e declínio significativo da saúde física (piora o curso de diabete, doenças cardiológicas e várias outras doenças, inclusive as crônico-degenerativas).
Sentir tristeza é normal, porém, sentir depressão não. É fundamental as pessoas sempre aprenderem a fazer a diferenciação, orientando-se sobre os critérios diagnósticos da depressão que é um transtorno mental que requer tratamento medicamentoso e psicoterápico associados. Grupos como a ABRATA (www.abrata.org.br ) são fundamentais também.
*Comorbidade: o termo é formado pelo prefixo latino "cum", que significa contiguidade, correlação, companhia, e pela palavra morbidade, que é a capacidade de produzir doença