por Adriana Kachani
Passava numa livraria, quando me deparei com um livro de autoajuda que me chamou a atenção: "Melhor que chocolate – 50 maneiras comprovadas de ser mais feliz" de Siimon Reynolds.
Muitas pacientes vêm ao meu consultório e relatam que geralmente seus regimes são prejudicados por acessos de gula fora de proporções, que muitas chamam de compulsão alimentar. Como fugir dessa armadilha?
Sempre peço aos meus pacientes que façam um diário alimentar.
Anotar tudo o que se come, todos os dias, durante várias semanas, pode ser uma chatice para alguns, mas é uma ferramenta de vital importância para as nutricionistas que trabalham na linha da terapia nutricional.
Mais do que isso, o diário é um símbolo do vínculo nutricionista-paciente, ou mesmo paciente-tratamento. Ele reflete a predisposição do indivíduo a entrar no tratamento, de permitir que o nutricionista acompanhe sua alimentação diária, uma vez que não pode acompanhá-lo 24 horas por dia.
Muito mais do que uma monitorização por parte do nutricionista, o diário permite ao indivíduo visualizar aquilo que está comendo durante o dia, permitindo assim, que ele se autocensure em casos de excessos ou falta de alimentos. Muitos relatam verdadeiro nojo ao concretizarem a quantidade de alimentos inadequados que aparecem em sua dieta.
Mas o diário alimentar não precisa se restringir à hora, tipo e quantidade de alimentos. Eles podem se sofisticar dependendo dos objetivos da nutricionista.
Costumo pedir aos meus pacientes que deem uma nota para a fome do momento, variando de 0 a 10, podendo assim, analisar ingestões desnecessárias quando a nota for menor que 5. A nota pode chamar atenção também quando chegar a 10. O indivíduo pode se perguntar por que estava com tanta fome naquele momento: "Será que esqueci do meu lanche intermediário?"; "Será que comi muito pouco na última refeição?"
Outra ideia é reservar uma coluna para escrevermos algum tipo de sentimento ou sensação relacionada ao momento da refeição: "Briguei com meu marido e estava muito nervosa; estava triste e solitária; não tinha o que fazer e fui comer; estava com meus amigos e fiquei insegura; preciso comer para disfarçar meus sentimentos; é tão legal estar com a família reunida, não resisto às comidas da minha avó…"
Essas informações e outras do gênero dão subsídio ao terapeuta alimentar para discutir com o paciente os motivos implícitos de seu excesso ou falta de comida. Podem levantar também as suspeitas de problemas psicológicos e/ou psiquiátricos relacionados, como um transtorno alimentar:
"Comi até não aguentar mais, tive culpa e vomitei tudo". Ou uma depressão: "Tenho me sentido tão triste, que não consigo nem ter forças para me levantar e preparar um lanche".
O diário reforça o vínculo com o profissional além de trazer o autoconhecimento necessário para iniciar uma dieta e levá-la até o fim.
Assim, detectados momentos frágeis e perigosos para a dieta, o terapeuta alimentar pode interferir fornecendo opções além daquela já conhecida: COMER!
Que tal ligar para um amigo? Assistir televisão? Dar uma volta no shopping? Fazer a manicure? Cada um deve encontrar seu caminho, que não deve nunca ser devorar um pote de sorvete.
E foi por isso que gostei do livro. Comprei imediatamente. Não necessariamente pelo seu conteúdo, que confesso, não li até hoje. Gostei do título, e adoro pedir para minhas pacientes abrirem numa página aleatória e lerem em voz alta, para perceberem que existem formas melhores de acalmar os sentimentos do que atacar a geladeira! MELHOR QUE CHOCOLATE!