por Gilberto Coutinho
Enxaqueca
Enxaqueca (do Árabe ach-chaquica) é um distúrbio ou uma afecção (doença) caracterizada pelo aparecimento de crises repetidas de dores de cabeça de intensidade variável, geralmente abrange apenas uma metade do crânio e é acompanhada de mal-estar geral, náuseas e vômitos.
As enxaquecas são cefaleias ou dores de cabeça localizadas numa metade do crânio (hemicranianas), intermitentes (surgem em intervalos regulares ou irregulares) e repetidas, muitas vezes, de natureza hereditária. É um distúrbio muito comum, que afeta de 15 a 20% dos homens e 25 a 30% das mulheres. Mais da metade das pessoas que sofre desse mal apresenta histórico familiar.
Cefaleia
Já a cefaleia (do Grego kephalaia, pelo Latim cephalaea) é uma dor de cabeça difusa ou localizada, aparece no decorrer da evolução de uma afecção orgânica, pode intensificar-se sob o efeito de certas influências externas, tais como luz e barulho intensos ou de causas internas: abalo emocional e trabalho intelectual prolongado e exaustivo.
São inúmeras as causas da dor de cabeça, sendo as mais comuns aquelas relacionadas a problemas digestivos, do fígado, dos olhos (acuidade visual), estresse, prisão de ventre, abuso de bebidas alcoólicas, tensão nervosa, sinusites, nevralgias da face, pressão alta, flatulência, problemas dentários, enxaquecas, meningite, tumores e hemorragias cerebrais, etc.
As cefaleias psicogênicas aparecem sem qualquer causa orgânica. São encontradas muitas vezes em casos de ansiedade ou de pressão. Como os fatores determinantes e as causas são múltiplos, é necessário investigar e conhecer a natureza de tais problemas.
Como se classificam as enxaquecas?
Embora existam vários subtipos de enxaqueca, três englobam a grande maioria das pessoas:
Enxaqueca clássica – incidência: 10%
Sintomas e sinais físicos:
• Dor latejante forte e unilateral, sempre começando e, em geral, permanecendo em um lado da cabeça.
• Cefaleia acompanhada de náusea, podendo ocorrer vômitos ou não; metade do distúrbio apresenta sintomas de aviso (auras) 30 minutos antes do início da dor. As auras típicas duram alguns minutos e incluem manchas borradas ou brilhantes na visão, ansiedade, fadiga, pensamento perturbado, intumescimento e formigamento de um lado do corpo.
• A crise começa, tipicamente, pela manhã, atinge seu pico dentro de uma hora, dura de 4 a 24 horas e manifesta-se várias vezes por mês.
• Palidez, vômito.
Enxaqueca comum – incidência: 80%
Sintomas e sinais físicos:
• É o subtipo mais comum.
• Dor latejante forte, podendo ser frontal, unilateral ou bilateral.
• Os sintomas de aviso (auras) são raros.
• Em geral, o mal pode durar de um a três dias.
• Infelicidade.
Cefaleia em grupo ou complicada – incidência: 10%
Sintomas e sinais físicos:
• Dor forte, imprevisível, em geral localizada ao redor dos olhos.
• Tende a ocorrer em grupos de uma a três cefaleias, durante um ou vários dias, podendo novamente ocorrer nas próximas semanas.
• Sem sintomas de aviso.
• Pode estar associada com sensibilidade à luz, lacrimejamento, nariz entupido e comportamento agitado;
• Sinais neurológicos leves, tontura, perturbação visual, distúrbio da fala, perda da sensação de um lado do corpo, falta de constância.
Quais são as suas possíveis causas (etiologias)?
• Instabilidade do sistema vascular.
• Distúrbios de plaquetas (trombócitos).
• Distúrbio neural.
• Alergias e intolerâncias alimentares (há pouca dúvida de que a alergia e a intolerância alimentar sejam as principais causas da enxaqueca).
• Mau funcionamento hepático.
• Toxemia intestinal (a conversão do aminoácido tiramina pelas bactérias do intestino grosso)
• Síndrome de disfunção da articulação temporomandibular, etc.
Quais são os fatores precipitadores da enxaqueca?
• Bebidas alcoólicas, especialmente o vinho tinto.
• Algumas substâncias como, por exemplo, nitratos, glutamato monossódico, nitroglicerina.
• Alterações emocionais, decepções, estresse e emoções intensas.
• Alterações hormonais, menstruação e pílulas anticoncepcionais.
• Estresse, exaustão física e mental, insônia e/ou poucas horas de repouso e sono.
• Hábitos alimentares errôneos, alérgenos, fritura, gordura animal, carnes curadas/defumadas, frutos do mar, chocolate, cafeína, álcool, vinho tinto, queijo curado, frutas cítricas, nozes, sorvete, glutamato de monossódio, aspartame, etc.
• Alterações climáticas, exposição ao sol e mudança de pressão barométrica.
• Ofuscação/luminosidade e barulhos intensos.
• Suspensão de vasopressores, por exemplo, cafeína, drogas simpaticomiméticas, ergotamina (substância extraída do espigão do centeio, um tipo de cereal) etc.
Como deve ser a dieta para quem sofre de enxaqueca?
Todos os alérgenos alimentares e aqueles alimentos que contenham aminas vasoativas devem ser eliminados. O antigo filósofo grego Plínio sabia que a tâmara fresca era uma das causas da dor de cabeça; hoje, sabe-se que essa fruta contém amina, agente causador desse mal.
Os primeiros alimentos a serem eliminados ou evitados são: cafeína, chá (quente ou gelado), coca-cola, bebidas alcoólicas, queijos gordurosos (exceto o tipo cottage), mussarela, iogurte, nozes, creme de amendoim, chocolate, frutas cítricas (laranja, toranja, limão, lima e abacaxi), bolos e pães à base de lêvedo (fermento), carnes processadas defumadas e curadas, frutos do mar, banana, tâmara, ameixa vermelha, abacate, passas e figo enlatado. A dieta deve ser pobre em fontes de ácido aracdônico (gordura animal) e rica em alimentos que inibem a agregação de plaquetas, por exemplo, peixe, óleos vegetais, óleo de peixe, gengibre, alho e cebola.
Como a psicoterapia analisa a enxaqueca?
No auge de uma crise de enxaqueca, a pessoa acometida pelo mal necessita de ficar só, de isolar-se do “mundo”, no seu leito e num quarto escuro. É possível, assim, considerar-se que toda doença apresenta uma função implícita, a de reintegrar o “ser”, ou seja, a de fazer com que a pessoa se volte para si mesma, para o seu interior, para as suas reais fragilidades e necessidades e reflita sobre a sua vida, seu comportamento e hábitos nocivos.
A enxaqueca, muitas vezes, pode significar as “dores de cabeça” que a pessoa sente em relação a sua própria vida, angústia, trabalho, familiares e pessoas queridas, a descrença na solução dos problemas, sentimentos de culpa, peso de consciência, vazio existencial, fuga, desejos sexuais auto-reprimidos etc. Em nossa cultura, a dor de cabeça tem sido uma desculpa encontrada pelas pessoas para justificar o desinteresse por algo, a ausência em algum evento ou a não participação nele, a insatisfação, o desejo de ficar só (forma encontrada para ocultar angústias, infelicidade, depressão…), os conflitos interiores, as incoerências na própria conduta e no agir.
Não obstante, tantas vezes ser usada como pretexto, a dor de cabeça pode ser real. Alguns psicoterapeutas correlacionam a enxaqueca como sendo uma transferência da sexualidade para a cabeça, pois as pessoas que sofrem de enxaqueca (na maioria, mulheres), geralmente, apresentam também “dificuldades” em relação à sexualidade. Entre os que sofrem de enxaqueca, encontram-se os que, por alguma razão, suprimiram completamente a sexualidade de suas vidas, que transferiram os assuntos do corpo para o cérebro e aqueles ansiosos por convencerem aos demais da plenitude de sua vida sexual.
A enxaqueca tem cura?
É perfeitamente possível tratar a enxaqueca com resultados efetivos, desde que o paciente colabore e não desista do tratamento logo nas primeiras semanas. Mais indicada, podendo oferecer excelentes resultados a curto e a longo prazo, é a abordagem terapêutica holística e naturopática, que envolva mudanças de hábitos, dieta, remédios botânicos, suplementos nutricionais, acupuntura para harmonizar os meridianos, massoterapia seguida de manipulação e realinhamento cervical, relaxamento neuropsíquico e muscular, yoga e meditação.
Toda pessoa que sofre de crises persistentes de dores de cabeça deve consultar um neurologista, para que se possa identificar a sua causa e eliminarem-se fatores de risco, como aneurisma e tumor cerebral.