O que motiva as pessoas a formar um trisal, hoje e nos anos 1970?       

Afinal, o que motiva a formação de um trisal, hoje e nos anos 1970, e essa união ter um desenvolvimento bem-sucedido, em épocas e em mundos tão diferentes?

Notícia publicada num grande portal: “Duas irmãs casadas com o mesmo homem.” É dessa forma que Ananda, Deica e Marcelo se definem nas redes sociais. Eles são um trisal, mas nada parecido com os outros. Ananda Souza, de 29 anos, e Deica Souza, de 31, são irmãs, mas esclarecem de cara: não há relações sexuais entre elas. E o sexo ocorre em momentos separados…”

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Testemunho do editor do Vya Estelar

Esta matéria veiculada em 2024, trata como notícia esse formato de relacionamento, por ser um uma união fora do padrão mais convencional. No entanto, um primo do meu pai, hoje falecido, um simples camponês, nos anos 1970, vivia exatamente essa modalidade de relacionamento: casado com duas irmãs, mas tendo relações sexuais em momentos separados e as irmãs eram amigas e não rolava ciúme. Isso ocorreu numa pacata cidade do interior de Minas Gerais, chamada Teixeiras, hoje com cerca de 11 mil habitantes.

Afinal, o que pode ter motivado em ambos os casos o contrato dessa união e seu desenvolvimento bem-sucedido, em épocas e em mundos tão diferentes? Machismo submisso? Baixa autoestima? Despimento de preconceitos? Será que a dinâmica estabelecida entre cada um dos dois trisais pode ter sido a mesma?    

Resposta: Embora, na maior parte do mundo ocidental moderno, casos de casamentos de um homem com duas irmãs sejam pouco comuns, essas duas histórias que se situam “em épocas e em mundos tão diferentes” se encaixam no conceito de poliamor. Ou seja, esse conceito surgiu como um termo distinto e um movimento social no final do século XX, que reflete a ideia de amar múltiplas pessoas simultaneamente com o conhecimento e consentimento de todos os envolvidos.

As raízes do poliamor moderno podem ser rastreadas até os movimentos contraculturais dos anos 1960 e 1970, que desafiaram as normas tradicionais de relacionamento e promoviam a liberdade sexual e a experimentação. No entanto, foi nos anos 1990 que o termo “poliamor” começou a ganhar popularidade, impulsionado por comunidades online e a publicação de livros que exploravam e defendiam essa forma de relacionamento.

A motivação é o poliamor

Diante do exposto, um relacionamento em que um homem se relaciona separadamente com duas irmãs, com o consentimento e o acordo de todos os envolvidos, independentemente da época, pode ser considerado uma forma de poliamor.

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Diferença entre poliamor e poligamia

Vale diferenciar aqui poliamor de poligamia, que são formas de relacionamentos múltiplos, mas diferem em estrutura e princípios. Enquanto o poliamor é baseado no consentimento mútuo, igualdade e transparência entre todos os parceiros, permitindo diversas combinações de gêneros e orientações sexuais, com ênfase em vínculos emocionais e românticos, a poligamia, especialmente a poliginia (um homem com múltiplas esposas), é uma prática tradicional em algumas culturas e religiões, frequentemente marcada por relações não igualitárias e formalidades legais.

Ao passo que o poliamor prioriza a ética e a comunicação aberta, a poligamia está mais ligada a contextos culturais e religiosos específicos. O poliamor também pode assumir muitas formas diferentes, e não há um modelo único que todos os relacionamentos poliamorosos seguem. A chave é que todas as partes envolvidas estejam confortáveis e satisfeitas com os arranjos, garantindo que todos tenham uma voz igual nas decisões e na estrutura do relacionamento.

Para finalizar, na atualidade o poliamor continua a crescer em visibilidade e aceitação, sendo reconhecido como uma abordagem legítima e válida para se viver relacionamentos amorosos.

Atenção!
Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicóloga e não se caracteriza como sendo um atendimento.

É Psicóloga Clínica, Terapeuta Sexual e de Casais no Instituto H.Ellis-SP; psicóloga no Ambulatório da Unidade de Medicina Sexual da Disciplina de Urologia da FMABC; Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; epecialista em Sexualidade pela Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana – SBRASH; autora do livro “Mulher: produto com data de validade” (ED. O Nome da Rosa) Mais informações: www.instituto-h-ellis.com.br