por Ricardo Arida
Até recentemente, pessoas com epilepsia eram excluídas da prática de atividades físicas e/ou esportivas por preconceito, medo de ocorrências de crises, por proteção ou ignorância (Nakken et al., 1990).
Considerando os efeitos positivos do exercício físico, pessoas com epilepsia têm sido encorajadas a prática de esportes como parte de sua reabilitação. Portanto, estudos em humanos e animais têm mostrado uma influência positiva do exercício físico regular na epilepsia. Uma redução na frequência de crises epilépticas e melhora na qualidade de vida de pessoas com epilepsia após programa de exercício físico tem sido observado.
Em modelos experimentais de epilepsia, animais submetidos ao exercício físico regular apresentam uma redução à susceptibidade a crises epilépticas (Arida et al., 2008/2009). Embora os efeitos do exercício físico no sistema nervoso maduro estejam bem documentados na literatura científica, sua influência no sistema nervoso em desenvolvimento, após insultos (lesões) cerebrais na infância, tem sido pouco explorada.
Estudos mostram que insultos cerebrais, como crises febris ou crises contínuas – status epilepticus (SE) na fase inicial da vida, pode induzir a danos cerebrais e resultar em aumento da susceptibilidade a crises espontâneas e déficts cognitivos em períodos mais tardios da vida.
A incidência e prevalência de crises e síndromes epilépticas é elevada na infância e adolescência. Isso ocorre devido a fatores relacionados com a maturação cerebral: é mais suscetível à excitação. As crianças são mais suscetíveis a crises epilépticas durante os primeiros meses de vida, pelas possíveis intercorrências da gestação e do período neonatal. E também pelo fato do cérebro imaturo ser mais suscetível às crises que o cérebro maduro.
Considerando os efeitos benéficos do exercício físico na epilepsia, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Gomes et al., 2014) publicaram um estudo que investigou se um programa de exercício físico aplicado durante o período de desenvolvimento cerebral poderia influenciar a plasticidade cerbral de ratos submetidos a insulto cerebral na fase inicial da vida. Neste sentido, ratos foram submetidos ao SE no início da adolescência e posteriormente a um programa de exercício aeróbio desde a adolescência até a fase adulta. Foram analisadas a frequência de crises epilépticas desde a adolescência até a fase adulta, a memória e marcadores de proliferação (aumento do numero de células), morte (perda celular) e proteção celular.
O programa de exercício físico durante o período da adolescência reduziu a frequência de crises espontâneas desses animais, melhorou a memória e reverteu as alterações morfológicas induzidas pelo insulto cerebral na fase adulta.
Nossos achados indicam que o exercício físico resulta em mudanças positivas no cérebro em desenvolvimento submetido ao insulto cerebral no início da vida. Mais estudos são necessários para o entendimento dos efeitos benéficos do exercício após insulto cerebral. A compreensão deste processo é importante para orientar o uso do exercício físico de forma preventiva ou de tratamento na epilepsia e promoção da saúde cerebral.
Referências:
Nakken KO, Bjorholt PG, Johannessen SI, Loyning T, Lind E. Effect of physical training on aerobic capacity, seizure occurrence, and serum level of antiepileptic drugs in adults with epilepsy. Epilepsia 1990;31:88-94.
Arida RM, Cavalheiro EA, da Silva AC, Scorza FA. Physical activity and epilepsy: proven and predicted benefits. Sports Med. 2008;38(7):607-15.
Arida RM, Scorza FA, Scorza CA, Cavalheiro EA. Is physical activity beneficial for recovery in temporal lobe epilepsy? Evidences from animal studies. Neurosci Biobehav Rev. 2009;33(3):422-31.
Gomes FG, Gomes Da Silva S, Cavalheiro EA, Arida RM. Beneficial influence of physical exercise following status epilepticus in the immature brain of rats. Neuroscience. 2014;274C:69-81.