Série ‘Adolescência’: convite à escuta e não ao pânico

A série ‘Adolescência’, com sua narrativa intensa e cenas carregadas de emoção e conflito, provocou uma onda de inquietação entre muitas famílias

Ao assistir “Adolescência”, compreensivelmente, pais e mães se viram diante de um espelho incômodo, no qual seus maiores medos foram dramatizados em tela: o afastamento dos filhos, o silêncio angustiante, as autolesões, os segredos e os pedidos de socorro não ouvidos.

Ponto sensível da série

Mas antes que o pânico tome o lugar da escuta, é preciso respirar fundo e olhar com mais calma. A série não é uma sentença nem uma previsão sombria do futuro. Ela é um alerta sensível e necessário sobre o que acontece quando a comunicação familiar é interrompida — não por má vontade, mas pela dificuldade que todos nós temos, às vezes, de lidar com a dor do outro.

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O que a série escancara não é uma “rebeldia juvenil” a ser combatida, mas uma vulnerabilidade profunda que precisa ser acolhida. Cada atitude aparentemente “sem sentido” de um adolescente pode estar carregada de um significado invisível — um pedido de atenção, de conexão, de compreensão. E a série, com toda a sua dureza, pode ser também uma oportunidade para que os pais se aproximem com mais empatia.

Não se trata de culpar, mas de compreender. Muitos pais amam profundamente seus filhos, mas não foram ensinados a lidar com emoções difíceis, nem a reconhecer os sinais mais sutis de sofrimento. Vivemos em uma sociedade que cobra desempenho, autocontrole e independência, mas oferece pouco espaço para fragilidade, escuta e vulnerabilidade — especialmente na adolescência.

A adolescência não é apenas uma fase de riscos; é também um tempo fértil de descobertas, crescimento e construção de identidade. E é justamente nesse momento que os filhos mais precisam de um porto seguro: alguém que os veja, que os escute sem julgar, que os abrace sem pressionar por respostas imediatas.

Por isso, aos pais que se sentiram abalados com a série, o convite é esse: não tenham medo. Usem esse incômodo como um impulso para o diálogo, não como uma sentença de fracasso. Nenhum pai ou mãe precisa ser perfeito, mas a presença verdadeira, o olhar atento, o abraço na hora certa, o “estou aqui, me conta” — isso tem um poder imenso. Mais do que gerar medo, ‘Adolescência’ pode nos lembrar do quanto nossos filhos precisam de presença e paciência. Eles gritam, muitas vezes, com o silêncio. E cabe a nós aprender a escutar com o coração. 

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Psicóloga Clínica Cognitivo-Comportamental; Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde - UFP - Universidade Fernando Pessoa em Portugal. Defendeu a sua dissertação com excelência e nota máxima sobre: “A interferência das redes sociais nos relacionamentos”. Especialista em Psicologia da Saúde, Desenvolvimento e Hospitalização – UFRN; Especialista pela Faculdade de Medicina do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP – SP. Foi professora da Pós-graduação em Psicologia – Terapia Cognitivo-Comportamental (Unipê). Há 20 anos atendendo na clínica a adolescentes, adultos, casais e famílias. Membro da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas - FBTC. Mantém o Blog próprio desde 2008. Mais informações: www.karinasimoes.com.br. Atendimentos com consultas presenciais ou online