por Tatiana Ades
Na minha época de criança, brincava de amarelinha, de boneca, dava risadas, curtia amores platônicos, sonhos e esperanças.
Isso entre os 11 e 15 anos de idade. Era a entrada da adolescência, onde havia um misto da fase criança com pensamentos e planos para o futuro.
Hoje essa realidade é distante e a atual me deixa perplexa: meninas entre 10 e 15 anos, grávidas de outras crianças. Imagino a confusão mental e emocional dessas garotas.
Está certo, nessa fase o excesso de hormônios modifica o nosso organismo, as paqueras ficam mais emocionantes, as paixões fuziladoras, o coração bate rápido ao avistarmos o menino popular da escola que nos sorri maliciosamente. Mas tudo não passa de um enorme bolo de chocolate, que olhamos sem saborear de fato. O incrível está justamente nisso, na suposição de como seria, na imaginação, no início da masturbação e descoberta de nossos corpos e na percepção de que falta pouco para virarmos mulheres adultas e podermos fazer escolhas e traçar metas.
Nossas crianças adolescentes de hoje estão deixando para trás o doce sabor da imaginação, o lúdico pensamento sobre o futuro, o prazer dos primeiros beijos, os sonhos de menina e até a primeira transa – a mais especial!
Depois de entrevistar 110 meninas em São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Paraíba e Minas Gerais, a produção do documentário “Meninas” (Dir: Sandra Werneck – 2006) percebeu que, no fundo, são todas muito parecidas, nos sonhos e nos dilemas. O filme narra um ano na vida de quatro adolescentes cariocas desde o momento que souberam que estavam grávidas.
"O universo que conheci, ao acompanhar a trajetória das meninas, foi profundamente revelador. Elas quase não vivem suas infâncias, desde cedo assumem o compromisso de cuidar dos irmãos mais novos e de suas casas. Acabam por confundir maternidade com maturidade, na expectativa de que o novo status de mãe signifique um reconhecimento na comunidade e na família. O período da gestação – em que a espera é a única aliada – coincide com o fim de seus sonhos infantis", fala a diretora.
Algumas pesquisas apontam que essas meninas se sentem bem ao constatarem a gravidez, desejando que essa seja modifique suas vidas. No entanto, a Organização Mundial de Saúde revela que a gravidez na adolescência não é tão promissora assim. É de fato a porta de entrada para a perpetuação da pobreza.
Muitas possuem conhecimento sobre métodos anticoncepcionais, mas por não terem um projeto de vida, acabam brincando de casinha com o próprio corpo e e com a vida.
O que fazer?
A primeira providência é melhorar o acesso dos adolescentes à saúde e à informação através da educação.
O SUS oferece métodos anticoncepcionais gratuitos como preservativos e pílulas anticoncepcionais. Para quem não sabe, existe um médico especializado só em adolescentes para dar a orientação e atenção mais adequada nessa conflituosa fase da vida: o hebiatra.
As adolescentes de classe média e alta também engravidam. Não na mesma proporção, nem pelos mesmos motivos. Normalmente, elas ficam grávidas por que não optaram pelo sexo seguro.